Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 15 de Maio de 2024 às 14:48

Com sua guitarra, Claudio Vera Cruz marcou época em bandas como Bixo da Seda

Com 60 anos de carreira, Claudio Vera Cruz já deixou sua marca em diversas bandas, como Bixo da Seda

Com 60 anos de carreira, Claudio Vera Cruz já deixou sua marca em diversas bandas, como Bixo da Seda

/ACERVO PESSOAL CLAUDIO VERA CRUZ/REPRODUÇÃO/JC
Compartilhe:
Daniel Sanes
O que distingue um músico de um artista?
O que distingue um músico de um artista?
Segundo Claudio Vera Cruz, a diferença é clara. Um artista gosta de aparecer. É um cara de muitas opiniões. E, claro, sabe se "vender". Já o músico é alguém que só sabe… fazer música.
"O meu negócio é tocar, compor, criar arranjos. Estar no meio musical", explica o guitarrista. "Até gostava de dar uma 'aparecida', porque todo mundo tem um pouquinho de vaidade, né. Mas não era chegado a entrevistas, rádios, jornalistas. Ficava nervoso: 'pô, esses caras tão querendo saber demais'. Eu é que não ia contar", brinca.
E olha que boas histórias não faltam na carreira de Vera Cruz. O sujeito tocou em várias bandas relevantes para o cenário musical gaúcho nos últimos 60 anos. De Som 4 a Liverpool (depois Bixo da Seda). De Eureka a Saudade Instantânea.
No Succo, foi parceiro de Zé Rodrix. Subiu ao palco para participar de uma jam com nada menos que Gilberto Gil. Gravou o LP Paralelo 30, um marco da música pop de Porto Alegre. No auge de suas experimentações musicais, criou uma ópera rock e um instrumento chamado violorquestra.
Depois de tudo isso, Claudio Vera Cruz virou músico da noite. Mas nunca abandonou o lado autoral, seja criando jingles, seja compondo canções que fizeram a cabeça de muita gente. Como Dona Yeda (ou Dona Yedda; a grafia correta se tornou um mistério), pérola do Bixo da Seda não registrada em estúdio.
"Essa música entrou no repertório da última formação do Colarinhos Caóticos, quando reservamos um momento do show para clássicos do rock gaúcho. Todo mundo cantava! Eu não conseguia entender porque ela não tinha entrado no disco", diz o músico e produtor Egisto Dal Santo, que gravou a faixa em seu projeto Histórias do Rock Gaúcho.
Para ele, Vera Cruz deveria ser mais reconhecido como um dos pioneiros da música urbana do Estado, uma espécie de "tropicalista gaúcho", ao lado de Carlinhos Hartlieb e Hermes Aquino. "O Claudio é um artista muito versátil. A gama de músicas dele inclui bossa nova, tango, samba, balada, valsa, rock… E um guitarrista incrível. Citando o saudoso Mitch Marini (baixista fundador dos Garotos da Rua e que também integrou o Colarinhos): antes de aparecer Claudio Vera Cruz, ninguém em Porto Alegre tocava soando como um guitarrista inglês - no melhor sentido que essa frase possa ter".
Edinho Espíndola, baterista tanto do Liverpool quanto da posterior encarnação da banda, o Bixo da Seda, tem percepção semelhante. Ele ressalta que o amigo já chamava atenção quando animava festas em clubes com o Som 4, grupo especializado em covers de Beatles. "Era uma loucura. E o vocal deles, uma perfeição. Quando o Som 4 acabou, o Liverpool meio que assumiu o posto. E nós convidamos o Alemão (apelido entre os mais chegados) para entrar na banda", lembra.
Parceiro de Vera Cruz também no duo Sample Hits, Edinho o considera um músico subestimado. "Sem dúvida, o Claudio merecia estar mais em evidência. Sempre foi um guitarrista criativo, talentoso, e canta muito bem. Aquela levada, o riff da música Bixo da Seda, é dele! Inclusive foi uma falha não ter saído nos créditos", observa o baterista, destacando que o fato de ser "um cara muito na dele" pode ter dado menos visibilidade ao colega. "Quando fomos para o Rio de Janeiro gravar o disco do Liverpool, ele preferiu ficar em Porto Alegre. Com o Bixo foi a mesma coisa. São as escolhas de cada um."
O próprio Vera Cruz acredita que muitas das decisões da juventude, se pudessem ser tomadas hoje, seriam diferentes. Não demonstra arrependimento, mas talvez tivesse ouvido o conselho de Bebeto Alves para se tornar um artista, um cara do showbusiness, e não "apenas" músico.
"Eu acho que comecei a virar artista depois de velho", avalia o guitarrista, que completou 77 anos no último dia 26 de abril. "Na verdade, não me preocupo muito com isso. A vida não é fácil. E, no fim das contas, consegui viver a minha fazendo o que eu mais gosto: música."
Leia mais na página central
 

Um garoto que amava Beatles e MPB

Claudio Vera Cruz já na década de 1980, com uma gaita de boca, seu primeiro instrumento

Claudio Vera Cruz já na década de 1980, com uma gaita de boca, seu primeiro instrumento

/ACERVO PESSOAL CLÁUDIO VERA CRUZ/REPRODUÇÃO/JC
Por um desses acasos da vida, Claudio Vera Cruz nasceu paranaense. O pai, Pedro Paulo, e a mãe, Artenisa, eram gaúchos, mas se mudaram para Curitiba porque o primeiro atuava como inspetor bancário.
Desde cedo, o jovem Claudio mostrava interesse em criar sons. Usando apenas a boca, fazia "trilha" para as brincadeiras de mocinho e bandido. Seu primeiro instrumento foi uma gaitinha, na qual reproduzia uma única música: Cerejeira rosa, popularizada por Carlos Galhardo em 1955.
Na banda da escola, o menino experimentou pífano e clarinete. Influenciado pela irmã mais velha, Lúcia, que tocava piano, tentou esse instrumento também. "Comecei a achar que música não era a minha praia", confessa.
Aos 13 anos, se mudou para Porto Alegre, mas continuou indo regularmente a Curitiba para visitar a irmã, que havia se casado e ficado por lá. Em uma dessas viagens, conheceu duas gêmeas que sabiam tocar violão. Uma nova perspectiva se abriu: "Fiquei abismado! Um instrumento que fazia harmonia? Aprendi La Bamba (Ritchie Valens), Non ho l'età (Gigliola Cinquetti) e Corcovado (Tom Jobim)".
Mesmo nutrindo grande paixão pela música popular brasileira, Vera Cruz não ficou imune ao fenômeno da beatlemania. Com um grupo de amigos - entre os quais Hermes Aquino, que viria a ganhar projeção nacional com Nuvem passageira - criou Os Satânicos, para tocar sucessos do quarteto de Liverpool. Como o nome não era muito comercial, passaram a se chamar Som 4. "Virou uma febre! Ganhávamos mais pra fazer um show do que os conjuntos de baile que ficavam cinco horas tocando", afirma.
Amigo de Vera Cruz desde a adolescência, o guitarrista André Zeni fala com saudades dessa época. "Conheci o Claudio quando eu tinha 16 anos e ele, 19. Morávamos no mesmo edifício. Lembro-me bem dele tocando violão e cantando Beatles com o Hermes Aquino. no bar do térreo", diz. A paixão mútua pelos Beatles fez com que, na década de 1990, Zeni convidasse Vera Cruz para um projeto semelhante: O Sonho Não Acabou, na ativa até hoje.
Outro integrante do grupo, o baixista Inácio do Canto guarda na memória a primeira vez que viu o Som 4. "Foi em 1967, 1968, no Grêmio Náutico Gaúcho. Quase me mijei de emoção", conta. "Estávamos sempre tocando em lugares diferentes, mas em certo momento começamos a trabalhar juntos em jingles. Depois ele entrou n'Os Totais. Eram tempos maravilhosos! Definitivamente, eu e o Alemão viramos amigos."
O sucesso do Som 4 chamou a atenção do apresentador Glênio Reis. Em 1968, Vera Cruz e Hermes Aquino foram convocados para integrar a banda de seu programa na TV Gaúcha (hoje RBS TV), o GR-Show. "Foi um trabalho legal, ganhamos uma boa grana, mas eu tava meio doidão", assume o guitarrista. O mundo vivia uma era de transição, e o movimento hippie começava a impactar o cenário musical - inclusive no Brasil.
 

Puro suco do rock 'n' roll

Nos primórdios do Bixo da Seda; Vera Cruz está à direita, no canto escuro

Nos primórdios do Bixo da Seda; Vera Cruz está à direita, no canto escuro

/JUAREZ FONSECA/DIVULGAÇÃO/JC
Com o fim do programa de Glênio Reis, Claudio Vera Cruz estava de bobeira. O Liverpool não desperdiçou a chance e o recrutou em 1969. Na hora de gravar o disco, porém, o músico abandonou o barco.
"Eu era meio antissocial, sabe? Nossa convivência era um pouco difícil. Comecei a ficar paranoico, pensava que todos estavam falando mal de mim. E também que não tinha o mesmo conhecimento musical que o resto da banda", resume.
A história se repetiria quando, já rebatizada Bixo da Seda, a banda o chamou para tocar baixo e, depois, assumir guitarra e vocais. Vera Cruz compôs riffs clássicos, como o da faixa-título, e a já citada Dona Yeda, mas não levou o crédito - e nem gravou o álbum de 1976.
Nesse meio tempo, o músico se envolveu com uma série de parcerias. Uma das mais notórias é o Succo, que chegou a contar com o carioca Zé Rodrix, ainda em início de carreira.
O Succo teve vida efêmera, mas fez um verdadeiro estardalhaço no II Festival Universitário de MPB da Arquitetura da Ufrgs, em julho de 1969. Na ocasião, a banda (ainda sem Zé Rodrix) iria executar Nem só de graves vive o homem, parceria de Vera Cruz com o baixista Chaminé.
Foi uma performance caótica, com direito a "lançamento de talco" pelo vocalista Mutuca, que acabou atingindo os violinos da orquestra localizada no fosso em frente ao palco. Empolgado pela reação da plateia, o também baixista Português, ex-Som 4, levou uma galinha viva na noite seguinte. "Lembro do maestro agachado e o bicho passando por cima. E a massa delirando, pedindo pra quebrar tudo", recorda Vera Cruz.
A situação saiu do controle. Irritado com as críticas da esposa do músico Geraldo Flach à performance do grupo, Chaminé partiu para as vias de fato. Português entrou na briga e acertou o baixo na cabeça do pianista, que foi levado sangrando para o hospital.
Após o show, os músicos tiveram que prestar contas ao delegado, que era nada menos que o irmão de Geraldo, Matias Flach. Em depoimento ao jornalista Arthur de Faria para o site Matinal, o hoje juiz aposentado declarou: "Ouvi os envolvidos e liberei todos. Geraldo contou-me alegremente que Português teve a iniciativa de entrar em contato e se desculpar pelo incidente".
 

Na onda progressiva

Com o Succo, banda que teve Zé Rodrix (segundo à esquerda) na formação; Vera Cruz é o último na foto

Com o Succo, banda que teve Zé Rodrix (segundo à esquerda) na formação; Vera Cruz é o último na foto

/ACERVO PESSOAL CLAUDIO VERA CRUZ/REPRODUÇÃO/JC
Na virada dos anos 1970, o som progressivo de bandas como Yes e Genesis dava as cartas. Aquilo empolgou Vera Cruz, que, junto do tecladista Marco Aurélio Raymundo, o Morongo (proprietário da marca de artigos de surfe Mormaii), criou o grupo Saudade Instantânea. O objetivo era executar uma ópera rock.
O problema é que, na época, o músico atuava como projetista da extinta Companhia Riograndense de Telecomunicações, a CRT. "Os ensaios duravam a noite toda. Chegava no trabalho quase dormindo. Um dia, caí em uma guarita que eu mesmo havia projetado. O engenheiro responsável me chamou: 'Ouvi dizer que o senhor é ótimo músico. Não estou aqui para interromper a carreira de ninguém'. E assim fui demitido", ri Vera Cruz.
Eugeny - História de um sonho foi um sucesso absoluto, lotando o Theatro São Pedro por seis dias consecutivos em 1973. "Chamamos o (artista) Ricky Bols para criar o visual. A bateria da Gata, irmã do Morongo de apenas 13 anos, tinha luz e um stencil de estrelas. Foi um show revolucionário, de grande impacto."
Hoje morando no Rio e atuando como diretor de TV, Paulinho Buffara assinou o texto. Ele lembra com carinho daquele momento e das composições que fez com Vera Cruz. "Esse espetáculo foi pioneiro não só no Rio Grande do Sul, mas no Brasil. A partir daí eu e o Claudio firmamos uma grande parceria, criando diversas músicas, como Bixo da Seda, Dona Yeda e as do Paralelo 30."
 

Um orixá chamado Gilberto Gil

Banda Eureka, com Claudio Vera Cruz, Hermes Aquino, Zé Vicente Brizola e Paulinho Soares

Banda Eureka, com Claudio Vera Cruz, Hermes Aquino, Zé Vicente Brizola e Paulinho Soares

/ARQUIVO PESSOAL CLAUDIO VERA CRUZ/REPRODUÇÃO/JC
Outro episódio memorável na carreira de Vera Cruz é sua jam "involuntária" com Gilberto Gil. Em 1972, o baiano, recém-chegado do exílio, veio a Porto Alegre para lançar seu quinto disco, Expresso 2222, no antigo Teatro Leopoldina.
O guitarrista, que estava ali só para ver o show, conseguiu livre acesso aos bastidores por causa de um amigo que fornecia um "fuminho bom" ao cantor. "Os músicos viram que eu estava carregando minha guitarra e me chamaram para o palco. 'Mas e o Gil?', perguntei. 'Ele vai adorar', responderam."
Ainda assim, quis se certificar de que não haveria problema. Encontrou o baiano meditando no camarim. A resposta dele foi vaga: "você que sabe".
Vera Cruz decidiu encarar o desafio. Quando as luzes se apagaram, ele viu que era "tudo muito profissional", sem espaço para improvisos. "Percebi a fria em que tinha me metido. Resolvi baixar o volume do amplificador e fazer uma percussão abafada na guitarra, pra não atrapalhar", explica.
Depois de duas músicas (O canto da ema e outra que Vera Cruz não recorda), Gil apresentou a banda, músico por músico. Na sua vez, o guitarrista foi citado como "um irmão que apareceu aqui" - e ovacionado pela plateia, que sabia quem ele era. Logo depois, notou alguém se aproximando por trás e fazendo sons sincopados com a boca. Era Gil.
"Parecia que eu estava recebendo um passe. Mas talvez o cara quisesse dizer algo como 'te liga, tá viajando demais'. Fui recuando até desaparecer no fundo do palco", ri. "Depois dessa, costumo falar que Gilberto Gil é meu orixá."
 

Universo Paralelo

Detalhe da capa do LP Paralelo 30, um dos pilares da música urbana gaúcha

Detalhe da capa do LP Paralelo 30, um dos pilares da música urbana gaúcha

/ISAEC/REPRODUÇÃO/JC
As coisas começavam a acontecer - mas financeiramente, nem tanto. Vera Cruz percebeu que Hermes Aquino estava se dando bem ao compor jingles e, ao mesmo tempo, tinha música rodando na rádio Continental. Fez o mesmo: gravou a balada Aonde vai você, mais uma com letra de Buffara. "A música tocava a toda hora, mas não tinha onde comprar. Só fizemos aquela gravação em fita de rolo pra rádio. Faltou visão de mercado", admite.
Sua produção em estúdio ganharia mais visibilidade com Paralelo 30. Idealizado pelo jornalista Juarez Fonseca, o disco colaborativo de 1978 tinha por objetivo reunir nomes que estavam despontando na Capital - Bebeto Alves, Carlinhos Hartlieb, Nando D'Ávila, Nelson Coelho de Castro e Raul Ellwanger completavam a lista.
"Eu sabia que ele era um puta músico. E naquele show do Gil, ao subir no palco e tocar de improviso com Lanny Gordin, um dos maiores guitarristas do Brasil, mostrou que tinha bastante confiança", lembra Fonseca. "Para o disco, reunimos artistas que misturavam MPB, pop e a nova música regional revelada pela Califórnia da Canção Nativa a partir de 1971. O Claudio estava nessa e contribuiu com duas belas músicas." Sem rei e Ruínas de um sonho são pedidas até hoje nos shows.
 

Virando a chave

Com o filho Rodrigo, parceiro na banda Pipeliners, voltada para a surf music

Com o filho Rodrigo, parceiro na banda Pipeliners, voltada para a surf music

/GABRIEL WINK/DIVULGAÇÃO/JC
Um susto fez Vera Cruz rever o ritmo de "loucuras" da vida de músico, ainda nos anos 1970. Do nada, decidiu ir para Amsterdã. Confiando em sua companheira de viagem, uma funcionária do consulado holandês, pegou o avião com a ideia de fazer a vida lá fora, mas sem grana e sem os documentos necessários para permanecer no país. A imigração o deixou permanecer - sob vigília constante e com data marcada pra voltar.
Em cerca de três meses, Vera Cruz conseguiu formar uma banda de estrangeiros "expatriados". Mas um dia, sob efeito de mescalina, vagou sozinho pela região portuária. "Nunca rezei tanto na vida! Via os caras dormindo em barcos e pensava que poderia acabar por ali. Depois dessa viagem, comecei a ser uma pessoa mais consequente", reflete.
Outra mudança veio nos tempos de Bixo da Seda, quando conheceu a então estudante Márcia Lemieszek e teve seu único filho. Hoje com 47 anos, Rodrigo lidera os Pipeliners, que fazem versões de grupos de surf music australiana como Hoodoo Gurus e Spy vs. Spy. E adivinhe quem toca com ele?
"Sempre tive o sonho de que meu pai fizesse parte das minhas bandas, mas nunca pedi. Quando perdemos nosso baixista, em 2021, ele decidiu se juntar a nós, aceitando um desafio enorme, pois sequer conhecia muitas músicas que tocamos. Não poderíamos ter passado nosso período no planeta sem viver essa experiência", afirma Rodrigo.
 

Um acervo a ser descoberto

Vera Cruz já compôs mais de 400 músicas; a maioria segue inédita

Vera Cruz já compôs mais de 400 músicas; a maioria segue inédita

/PAULO RICARDO PINTO/DIVULGAÇÃO/JC
A partir da década de 1980, Vera Cruz decidiu focar na carreira de músico da noite. Montou um repertório popular, com versões de Djavan, Caetano Veloso, Ivan Lins, entre outros. Nos bares, se destacou pelo uso pesado de sintetizadores (uma tendência da época), mas, principalmente, pela violorquestra, instrumento que acopla baixo e violão. "Ninguém era louco de pegar um violão e botar uma corda de baixo, mas foi o que eu fiz. O som é único. Todo mundo começou a perguntar como eu fazia", ressalta.
Mesmo com a agenda lotada, continuou arranjando tempo para tocar em bandas. Uma delas, Eureka, se tornou conhecida por inaugurar o palco do bar Ocidente, em janeiro de 1981. A formação contava com o velho parceiro Hermes Aquino, e Zé Vicente Brizola, filho de Leonel Brizola e também oriundo da primeira formação do Bixo.
De lá pra cá, Vera Cruz tem se mostrado um verdadeiro operário da música ao vivo. Mas se engana quem acha que deixou de compor. Segundo ele, são mais de 400 músicas registradas em seu estúdio caseiro. Mas só 13 - as que foram lançadas em seu único CD solo, Vagalume (2014) - estão disponíveis nas plataformas de streaming. Procurando bem, dá pra achar outras no YouTube.
Egisto Dal Santo deve levá-lo ao estúdio para gravar novas faixas em breve. Enquanto isso, Edinho Espíndola cruza os dedos. "Ele gravou um belo disco de rock, mas se fizer um de bossa e MPB, me candidato a ser o baterista", avisa.
Vera Cruz, por sua vez, acha que já fez o que tinha que fazer. "Agora, tenho vontade de vender meu apartamento e morar na praia. Quero paz e tranquilidade", revela. Já largar os palcos é um pouco mais difícil. "Enquanto tiver saúde, acho que sempre vou tocar. Porque sou músico, e é isso o que gosto de fazer."
 

Cinco músicas para conhecer Cláudio Vera Cruz, segundo o próprio

Detalhe da capa do disco 'Vagalume', de Claudio Vera Cruz

Detalhe da capa do disco 'Vagalume', de Claudio Vera Cruz

DIVULGAÇÃO/JC
Quando você surgiu – “É uma bossinha em parceria com o Raul Ellwanger. Sou apegado a ela porque tem um arranjo bonito, com flauta e tudo”. Foi gravada por Ellwanger e também pela cantora Flora Almeida.

Algazarra – “Uma das poucas que fiz letra e música. Tem uma levada gostosa, timbres bacanas e descreve uma transa com muita poesia.” Difícil de encontrar, Algazarra está quase escondida no blog claudioveracruzblog.blogspot.com, atualizado só até 2013, mas ainda no ar.

Sem rei –“Tinha que ter algo do Paralelo 30, e também uma das minhas parcerias com o Paulinho Buffara. Já me disseram que Sem rei é uma obra-prima. Então vou concordar”, ri.

O mapa – “Essa é uma poesia do Mario Quintana musicada por mim. Nem preciso dizer mais nada!”. A faixa foi gravada em Paralelo 30 – Ontem e hoje, edição comemorativa lançada em 2001.

O vampiroca – “Criei uma levada inspirada em Being for the Benefit of Mr. Kite!, dos Beatles, e pedi pro Hermes Aquino criar a letra. Queria uma coisa séria e ele me veio com um terror infantil! No fim das contas, ficou bem bacana. E a gurizada adora!”. Faixa presente no CD Vagalume, de 2014.

* Daniel Sanes é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Já foi repórter e editor no Jornal do Comércio. Hoje, trabalha na República – Agência de Conteúdo e atua como freelancer.

Notícias relacionadas