Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 27 de Março de 2024 às 18:46

Na Cristóvão Colombo, boate Papagayu's fez sucesso no auge dos embalos da 'discoteque'

De clientela variada, boate Papagayu's ajudou a consolidar o empresário Dirnei Messias como um dos reis da noite em Porto Alegre

De clientela variada, boate Papagayu's ajudou a consolidar o empresário Dirnei Messias como um dos reis da noite em Porto Alegre

/ACERVO DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
Compartilhe:
Marcello Campos
Ave da família dos psitacídeos e com origens nas Américas, o papagaio reúne atributos notáveis. Longevidade. Esperteza. Capacidade para imitar grande variedade de sons. Plumagem colorida, na qual predomina o verde. Também se destaca por uma sociabilidade que se evidencia no voo em bandos barulhentos, em paralelo a uma vida familiar baseada em casais monogâmicos e duradouros. Traços sugestivos, portanto, para o nome de uma casa noturna nos embalos dançantes de quase cinco décadas atrás: a Papagayu's Tropical Club, um dos ícones da Porto Alegre festeira daquele tempo.
Ave da família dos psitacídeos e com origens nas Américas, o papagaio reúne atributos notáveis. Longevidade. Esperteza. Capacidade para imitar grande variedade de sons. Plumagem colorida, na qual predomina o verde. Também se destaca por uma sociabilidade que se evidencia no voo em bandos barulhentos, em paralelo a uma vida familiar baseada em casais monogâmicos e duradouros. Traços sugestivos, portanto, para o nome de uma casa noturna nos embalos dançantes de quase cinco décadas atrás: a Papagayu's Tropical Club, um dos ícones da Porto Alegre festeira daquele tempo.
Essa reportagem abre a terceira temporada da série Porto Noite Alegre, assinada por Marcello Campos e que resgata a história de espaços inesquecíveis da boemia da Capital
Leia aqui as reportagens da primeira temporada da série Porto Noite Alegre
Leia aqui as reportagens da segunda temporada da série Porto Noite Alegre
"Na verdade, a ideia foi inspirada no sucesso estrondoso do Papagaio Disco Club, de São Paulo", pisca Dirnei Messias ao falar do empreendimento por ele inaugurado em 21 de dezembro de 1978. A capital gaúcha passara a contar, entre abril e outubro daquele, com três boates inteiramente voltadas à discomusic, gênero surgido nos Estados Unidos e de apelo irresistível nas pistas de dança - Looking Glass, Crocodillo's e Kokeluxe, esta última do próprio entrevistado, então, um experiente empresário, showman e agitador cultural de 36 anos.
Dirnei não era um aventureiro no ramo. Desde 1968, o ex-cantor mirim e gerente local de vendas da montadora norte-americana Ford-Willys abraçava o papel de dono de endereços marcantes do entretenimento noturno, alguns funcionando de forma simultânea. Porão 700. Espantalho. Mirage. Flower's. Maxim's. L'Alcazar. New Flower's City. A antena sintonizada às novas tendências o levou em maio de 1978 a abrir a Kokeluxe, cujo estouro só não era maior por causa das dimensões reduzidas do espaço alugado na avenida Osvaldo Aranha, quase esquina com rua Santo Antônio.
Esse empecilho logo seria resolvido. No número 381 da Cristóvão Colombo, à direita da antiga Cervejaria Continental, havia um casarão de pátio enorme e que abrigara restaurante e prostíbulo. "O proprietário andava mal das pernas e nos procurou na boate do Bom Fim para oferecer o ponto, então fomos de carro até lá conferir e fechamos negócio", detalha Darcílio Messias, irmão e braço-direito de Dirnei. A Kokeluxe seria mantida em paralelo por mais alguns meses, enquanto a discoteca do papagaio se empoleirava em um bairro apropriadamente chamado Floresta.
Ciente do potencial do novo endereço, Dirnei desembolsou a pequena fortuna de Cr$ 1,5 milhão (aproximadamente R$ 300 mil) - quase tudo o que tinha - para montar a sua mais completa casa noturna até então. A criação do lay-out interno e externo foi dividida com o designer Paulo Zoppas, responsável pelo projeto decorativo da Kokeluxe e que, aos 28 anos, consolidava uma reputação que o levaria a repetir a dose em points sofisticados da vida noturna porto-alegrense como Água na Boca e Le Club. Provocado pela reportagem, ele revisita mentalmente o lugar:
"O predomínio do vermelho e branco não se deu por acaso, afinal, a Coca-Cola era a principal patrocinadora. Tanto foi assim que a fachada tinha uma reprodução em grande formato da tampinha do refrigerante, com luzes intermitentes no entorno. Também utilizamos internamente muitos espelhos, inteiros ou fragmentados, sobretudo na pista de retângulos concêntricos e luminosos, inspirada no filme Os Embalos de Sábado à Noite, com John Travolta. Naquele imóvel bastante antigo, apelamos à criatividade para instalar mezanino-vip, bar, sala de mesas e demais ambientes". O verde típico do pássaro inspirador se resumia ao luminoso na entrada, assim como os elementos mais "tropicais" ficavam restritos ao despojado pátio com árvores e, é claro, alguns louros falantes.
 

Abre as asas sobre nós

Casa noturna Papagayu's foi um dos principais espaços para curtir a discoteque na Porto Alegre dos anos 1970 e 1980

Casa noturna Papagayu's foi um dos principais espaços para curtir a discoteque na Porto Alegre dos anos 1970 e 1980

/ACERVO DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
Com logomarca do designer Ricky Bols, convite do colunista social Paulo Gasparotto, divulgação espontânea por personalidades da imprensa e até casal de "padrinhos" formado pela jornalista Gilda Marinho e o comunicador Roberto Gigante, o bem urdido plano de abertura da Papagayu's Tropical Club não impediu um começo com pata esquerda na noite de 21 de dezembro de 1978. O espaço estava lotado na estreia quando um curto-circuito acabou com luz e som. Mesmo assim, o pessoal fincou pé no pátio madrugada adentro, sem que eletricistas pudessem resolver o problema.
"Mantivemos a programação por mais dois dias, antes de fechar por dez dias. Sorte que entusiastas como Clóvis Duarte, Tatata Pimentel e Roberto Gigante usaram seus espaços no Jornal do Almoço para falar da reabertura da casa, que no primeiro sábado de janeiro de 1979 voltou com força total", resgata o proprietário Dirnei Messias. E assim foi dali em diante. Com capacidade para mil pessoas em seus ambientes interno e externo, a discoteca vermelha, branca e espelhada receberia de sextas a domingos um fluxo constante de jovens e adultos de diferentes perfis, incluindo personalidades locais como o jornalista Tatata Pimentel e o então deputado federal Alceu Collares, além de forasteiros ilustres como a atriz Rogéria e os cantores Agnaldo Rayol e Emílio Santiago.
Pensada para uma clientela de predomínio heterossexual mas de asas abertas a todos os perfis, a Papagayu's também atraiu um público gay responsável pelo colorido especial ao número 381 da Cristóvão Colombo. Essa presença constante estimularia a realização de pausas no set list dançante para se inserir animadíssimas esquetes de teatro e variedades, nos quais o próprio dono tomava parte como ator, cantor, performer e mestre-de-cerimônias, reprisando o escracho da antológica Flower's que fizera história na primeira metade da década.
 
 

Fachada do Papagayu's (em foto de 1978) marcou paisagem do bairro Floresta

Fachada do Papagayu's (em foto de 1978) marcou paisagem do bairro Floresta

ACERVO DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
"Um detalhe curioso nisso aí é que a palavra 'gay' no meio do nome Papagayu's, algo que nem todo mundo notou de início, foi uma mera casualidade, até porque o uso das letras 'y' e 's' tinha ali o objetivo de evitar insinuações de plágio em relação à discoteca carioca Papagaio", garante Dirnei. "De qualquer forma, essa fase foi muito marcante em minha vida, ao coincidir com a aproximação dos 40 anos e a coragem para começar a assumir publicamente a minha homossexualidade, após três casamentos com belas mulheres que me deram um filho cada uma."

Outro diferencial do lugar foi a construção de um pequeno palco nos fundos da área externa, acrescido de concha acústica de concreto para receber espetáculos de maior porte. Há quem lembre do show comemorativo do primeiro ano da casa, estrelado pela franquia brasileira do quarteto pop alemão Genghis Khan. Sucesso nos programas de rádio e TV com sua estética deliciosamente cafona e canções inspiradas em reinos do antigo Oriente, a atração causou engarrafamento no trânsito das imediações, tamanha a quantidade de gente que apareceu para conferir o grupo ao vivo.

Franquia brasileira do Genghis Khan celebrou primeiro aniversário da casa

Franquia brasileira do Genghis Khan celebrou primeiro aniversário da casa

ACERVO DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
A estrutura simples e incrementada por mesas com guarda-sóis foi ainda cenário de festas hilárias, como A Ilha da Fantasia. Fotos das três noites de evento mostram Dirnei e o ator Serginho caracterizados como Mister Roarke e seu fiel escudeiro Tatu, personagens da série norte-americana importada pela Rede Globo e cuja trama se passava em um hotel havaiano tão paradisíaco quando capaz de realizar os desejos dos hóspedes. Mesma promessa, aliás, oferecida na Papagayu's para quem lançasse moedas no chafariz do pátio - com uma boa grana ali recolhida pela casa ao fim de cada semana.

Às gargalhadas, Dirnei Messias compartilha outra curiosidade envolvendo o espaço externo. "O terreno era enorme, com umas 40 vagas de estacionamento e ingresso cobrado no portão para quem chegava de carro. Quando descobrimos que alguns malandros se escondiam nos porta-malas dos carros para entrar de graça, os seguranças passaram a utilizar cães da raça dobermann para farejar possíveis penetras, sem perder de vista os aventureiros que tentavam invadir o local pulando algum dos muros, o que permitiu acabar com aquela farra".

Som na caixa

Convite para entrada na casa noturna Papagayu's, datado de 1981

Convite para entrada na casa noturna Papagayu's, datado de 1981

/ACERVO DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
Beneficiada pelo contra-ataque da Coca-Cola ao patrocínio ostensivo da Pepsi a ações para a juventude, a Papagayu's manteve a aposta na parceria com empresas do nicho, praticamente sem gastar com publicidade convencional. Logomarcas em neon nos ambientes internos escancaravam o apoio das lojas Gang e Saco & Cuecão ou grifes de jeans Levi's e Lee. Mas o luminoso de maior destaque ficava sobre a cabine de som, montada pela empresa Polyvox (depois adquirida pela também paulista Gradiente). "Toca-discos, mixer, caixas de som, tudo novinho e top de linha", descreve o DJ aposentado Paulinho Saboya, que ocupou o espaço por curto período.
Pelo comando da sacolejante trilha sonora passaram disc-jockeys como Paulinho Boy, Moacir 'Mestre Moa' Tedesco, Cesar Klinkowski e Luiz Frota. "Era um sonho trabalhar com aquele equipamento", depõe Tedesco, hoje representante de marcas de moda e um dos guardiões da memória da casa onde atuou do início até outubro de 1979. O vínculo ao casarão da Cristóvão Colombo teve como ponto de partida a busca por um emprego noturno após o ingresso na faculdade de Engenharia Elétrica da Pucrs, com aulas pela manhã e tarde.
"Mesmo com experiência restrita a festinhas de garagem, em fevereiro de 1978 consegui emprego de discotecário no Gipsy's Club, uma boate de casais na rua Garibaldi. Eu morava no bairro Petrópolis e dois meses depois, ao descer do ônibus na Osvaldo Aranha, deparei com as obras da futura Kokeluxe. Falei com Dirnei da minha vontade de trabalhar ali e ele propôs um estágio. Pedi demissão do Gipsy's e dei pé-quente, pois o DJ cotado para assumir a Kokeluxe trocou de boate, enquanto seu substituto estava de licença e, ao retornar, foi para a New Flower's City na Independência. Toquei com sucesso no primeiro fim de semana da Kokeluche e acabei efetivado." 

DJ Luisinho Frota (esq) e Dirnei Messias mandando ver na mesa de som do Papagayu's em 1981

DJ Luisinho Frota (esq) e Dirnei Messias mandando ver na mesa de som do Papagayu's em 1981

ACERVO PESSOAL DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
As exigências da sempre lotada discoteca do bairro Bom Fim aprimoraram as habilidades do jovem disc-jockey, incluindo a desinibição em falar com o público. Na tarde de 21 de dezembro, quinta-feira, novo golpe de sorte: ele ciscava o movimento na Papagayu's horas antes da inauguração, quando um esbaforido Dirnei avisou que o DJ Paulinho Boy ainda não dera sinal de vida - portanto, se Moa voltasse com discos, a vaga na cabine teria novo dono. "Retornei às 20h com a encomenda, mas Paulinho finalmente havia aparecido, então dividimos a tarefa".

Foi quando a já citada pane elétrica deixou a pista muda e às escuras. O pessoal segurou por mais duas noites, mas optou por aproveitar o recesso de fim de ano para reconfigurar a rede. A cabine reacesa na noite de 6 de janeiro, já sem o colega (dispensado), seria aproveitada por Moa para deixar sua marca pelos dez meses seguintes, extrapolando a mera tarefa de tocar discomusic intercalada com dois blocos de música lenta no meio e ao fim da jornada. O esquema era meticuloso mas com ampla margem à espontaneidade e improvisos.

"Em sincronia com efeitos de luz, as noitadas eram abertas pelo tema do filme 2001 - Uma Odisseia No Espaço, depois substituído por mix de faixas da banda italiana Automat. Eu usava o microfone para anunciar músicas, presenças ilustres e casais de dançarinos, surpreendidos por desafios inusitados como fazer passos de valsa", relembra Moa. Já trabalhando também nas festas Top Jovem do comunicador Clovis Dias Costa, o currículo seria expandido (Encouraçado Butikin, Crocodillo's, eventos próprios) até 1986, quando passou a se dedicar à representação da multinacional norte-americana de discos CBS (futura Sony Music) no Estado.

Da cabine, o DJ Mestre Moa fazia do microfone um recurso diferenciado de estímulo ao público

Da cabine, o DJ Mestre Moa fazia do microfone um recurso diferenciado de estímulo ao público

ACERVO MOACIR TEDESCO/REPRODUÇÃO/JC
Alçado ao cargo na "papagaio" com apenas 18 anos, seu assistente e discípulo Luisinho Frota adiciona o testemunho de um carinho mútuo em relação ao empreendimento da Cristóvão Colombo, onde bateu ponto em 1979-1980 após a New Flower's City e antes da igualmente célebre Água na Boca, no Centro. "Teve uma festa intitulada 'Luiz Melodia' e todo mundo achou que o cantor carioca seria a estrela, até eu descobrir que se tratava de uma brincadeira em homenagem a mim, bem no estilo do Dirnei Messias", agradece o hoje empresário de sonorização e iluminação de eventos.

A chef de cozinha Valéria Calderan, a 'Val', contribui com suas memórias de frequentadora na adolescência. "Com 15 anos, meu maior sonho era ir a uma discoteca, até que um irmão seis anos mais velho me levou. Ali iniciei minha vida social, com um círculo de amizades que, em parte, mantenho até hoje, e também o lugar onde conheci meu primeiro namorado. O pessoal cuidava da gente, não deixava consumir bebidas alcoólicas. E quando batia o juizado de menores, o gerente Dilo Macedo escondia a gurizada em uma salinha junto a um dos caixas. Achávamos aquilo o máximo!"

Ela suspira ao falar das disputas de dança, que exploravam um imaginário inspirado pelo ator norte-americano John Travolta no filme Os Embalos de Sábado à Noite ou pela atriz brasileira Sônia Braga na novela Dancin' Days, em uma das fases mais divertidas da cultura pop ocidental nas últimas décadas. "Tirei o terceiro lugar em um concurso patrocinado pela Cinzano [famosa marca italiana de bebidas], que estava lançando seu vermute em versão rosé. Para mim, foi quase como uma festa de debutantes, algo que eu não tinha experimentado".

Papagaio assado

Imagem interna da boate Papagayu's, com pista de dança e cabine de som

Imagem interna da boate Papagayu's, com pista de dança e cabine de som

/ACERVO PESSOAL DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
O apagar das luzes da discomusic, em 1980, não chegou a fazer muita diferença para a Papagayu's. A época era de inovação para Dirnei Messias, com um projeto na contramão do conceito da casa: shows de artistas da velha guarda porto-alegrense, como os cantores Rubens Santos e Clea Ramos, nas então ociosas noites de terça a quinta-feira (folga, só às segundas). Sob elogios da imprensa especializada, sambas, tangos e boleros atraíram coroas que jamais haviam pisado em um estabelecimento do gênero.
Quando a saúde financeira já se mostrava compatível com planos de uma grande reforma no verão de 1982, um telefonema mudou tudo. O empresário, que havia adquirido a 130 metros da discoteca o apartamento onde ainda mora, estava em Tramandaí na noite de 23 de janeiro ao receber a notícia de que um incêndio depenara a discoteca, fechada na ocasião: "Nos fundos havia duas quitinetes onde farreávamos eu e Dilo Macedo [um dos gerentes, junto com Laine Ledur e Rejane Reis, hoje já falecidos]. Ao voltar de um bar naquele sábado, ele reencontrou tudo em chamas. Não sobraram nem as aves do pátio". 

Recordada com saudade pelos frequentadores, área externa da Papagayu's era um dos diferenciais do estabelecimento

Recordada com saudade pelos frequentadores, área externa da Papagayu's era um dos diferenciais do estabelecimento

ACERVO PESSOAL MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
O sinistro causado por curto-circuito - uma suspeita de motivação criminosa foi descartada pela perícia dias depois - teve ao menos um lado positivo, o do reconhecimento. A relevância dos serviços prestados à cidade se traduziu na caixa de correspondência repleta de cartas e telegramas de solidariedade enviados por amigos, políticos e celebridades. "Sei que teu espírito empreendedor saberá dar um pulo por cima", incentivou em mensagem o deputado estadual cachoeirense Romildo Bolzan (MDB), pai de um então futuro presidente do Grêmio.

Superado o choque inicial, Dirnei propôs ao dono do terreno bancar a reconstrução da casa para uma Papagayu's ainda maior e toda de tijolos à vista, mas o senhorio preferiu alugá-lo a um estacionamento, que continua ali 42 anos depois, ao lado do Shopping Total. "Decidir levar a Papagayu's para o número 908 da Independência, onde tinham funcionado minhas boates L'Alcazar, New Flower's City e Madame Satã", prossegue. "Não deu certo. O pessoal estranhou o fato de não ter área aberta e todos aqueles diferenciais que faziam do antigo lugar algo único."

A virada de página seria sucedida por mais nove aventuras no ramo até a década de 1990, consolidando o empresário no hall da fama noturna na capital gaúcha. "Se o Dudu Alvares [dono de casas como Encouraçado 936, Cord e Life Boy] é o imperador da noite em Porto Alegre, eu sou o rei. Agora quero passar esse título adiante", sorri. Atualmente produzindo eventos no Mixx Bar, na rua Santos Dumont (bairro São Geraldo), ele mantém tratativas para o seu 23º empreendimento noturno: "O sócio ainda não posso revelar, mas o negócio já tem nome. Vai se chamar Dinossauro".

Dirnei Messias, um rei da noite

Dirnei Messias (em foto de 1980) marcou seu nome na vida noturna da Capital

Dirnei Messias (em foto de 1980) marcou seu nome na vida noturna da Capital

ACERVO PESSOAL DIRNEI MESSIAS/REPRODUÇÃO/JC
• Porão 700 (1968-1970) - Avenida 24 de Outubro nº 700
• Espantalho (1969) - Rua Santo Antônio nº 247
• Black Horse (1967) - Rua Carlos Gomes nº 122
• Mirage (1970) - Rua José de Alencar esquina com Padre Cacique
• Flower's (1971-1976) - Praça Jayme Telles nº 72
• Maxim's (1974-1977) - Avenida Osvaldo Aranha nº 784
• L'Alcazar (1976-1977) - Avenida Independência nº 908
• New Flower's City (1977-1980) - Avenida Independência nº 908
• Papagayu's Tropical Club (1978-1982) - Avenida Cristóvão Colombo nº 381
• Kokeluxe (1978-1979) - Avenida Osvaldo Aranha nº 784
(com filial de verão em Tramandaí)
• Amarelinho (1980) - Rua Santo Antônio nº 321
• Madame Satã (1981) - Avenida Independência nº 908
• Casablanca (1982) - Avenida Independência nº 908
• B-52's (1982-1984) - Avenida Independência nº 908
(com filial de verão em Capão da Canoa)
• Brooklin (1982-1985) - Avenida Júlio de Castilhos nº 44
• Romeu e Julieta (1982-1983) - Avenida Farrapos nº 1.104)
• Panteon (1984-1985) - Avenida Independência nº 908
• Rádio-Patrulha (1985-1987) - Avenida Plínio Brasil Milano nº 427
• Life Boy (1989) - Praça Conde de Porto Alegre nº 55
• Chiclete & Banana (1990) - Praça Conde de Porto Alegre nº 55
• Nexus 6 (1991-1993) - Praça Conde de Porto Alegre nº 55
 

* Marcello Campos é formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (UFRGS). Tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há mais de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses. Contato: [email protected].

Notícias relacionadas