Localizadas em regiões opostas de Porto Alegre, a Zona Sul e o chamado 4º Distrito, na Zona Norte, são apontados como dois polos econômicos da cidade que se diferenciaram em meio à crise dos últimos anos. Os dois locais tendem a se destacar também no futuro próximo pelo potencial para novos negócios. A cidade, que completa hoje seus 247 anos, com as contas no vermelho, agradece.
Moradores e empresários também contam os dias para ver a revitalização da área central. Hoje, o Centro tem como um primeiro sinal de renovação a nova orla do Guaíba, na região do Gasômetro, que atingirá seu ápice com a revitalização do Cais da Mauá. No local, as primeiras operações temporárias, de lazer e gastronomia, devem começar no segundo semestre. O projeto do novo Cais Mauá, que prevê restauro dos armazéns e construção de torres comerciais, tem previsão de conclusão em cinco anos.
O Jornal do Comércio mostra como cada uma dessas regiões se diferenciou nos últimos anos, mesmo com as dificuldades econômicas enfrentadas.
Expansão imobiliária no Sul
Bairro Hípica é uma das zonas que vêm apresentando alta na oferta de imóveis
/CLAITON DORNELLES /JC
Na Zona Sul, um dos indicadores econômicos que mostram uma mudança significativa na região são os dados de oferta de imóveis para venda e locação. Entre 2014 e 2015, estão no Sul da Capital os quatro bairros que tiveram o maior crescimento na oferta de imóveis para vendas, segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi/Agademi-RS): Restinga (684%), Hípica (355%), Belém Velho (321%) e Espírito Santo (284%). O crescimento, avalia Moacyr Schukster, segue uma tendência natural, já que ainda é a região da cidade com espaço para crescer.
"Praticamente não há outras regiões para onde a cidade pode se expandir, porque somos limitados no Leste pelo Guaíba e no Norte, por exemplo, já no limite de cidades vizinhas, como Canoas", explica Schukster.
O presidente do Secovi ressalta que o crescimento dos dois primeiros bairros da lista de expansão de ofertas de imóveis retratam a mesma realidade. Apesar de Hípica e Restinga preservarem, cada um, suas peculiaridades no perfil de imóveis, renda e perfil dos moradores, o aumento no número de condomínios e residências nos dois bairros, assim como na Zona Sul como um todo, traz consigo a expansão do comércio. De pequenos negócios a grandes redes.
"O comércio e o setor de serviços vão para onde a população está aumentado. No caminho da Zona Sul como um todo, se vê, cada mais, grandes supermercados, lojas abrindo e prestação de serviços aumentado, assim como no bairro Restinga também se desenvolve o comércio de menor porte", diz Schukster.
Quarto Distrito oferece incentivos para empreendedores
Vila Flores, complexo arquitetônico no bairro Floresta, tornou-se um polo cultural e de empreendedorismo
/MARCO QUINTANA/JC
Na Zona Norte da Capital, o 4º Distrito é um dos destaques em novos negócios na cidade. A região - que engloba os bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos - é uma das prioridades do município, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre, Eduardo Cidade.
Para estimular os empreendimentos e revitalizar a região, a prefeitura oferece incentivos fiscais, desde 2015, se forem empresas de base tecnológica, inovadoras e de economia criativa. Nesses casos, pode haver isenção do IPTU por um período de cinco anos, por exemplo, e do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) para aquisição da sede da empresa na região, explica o secretário municipal.
Um dos símbolos desse novo momento é o conjunto de prédios residenciais Vila Flores, onde uma série de moradias operárias em estado de abandono se transformou em hub cultural e econômico. O desenvolvimento de um polo de cervejarias artesanais na região é outro exemplo citado por Eduardo Cidade.
Novo Cais Mauá pode mudar futuro econômico do Centro
Prédios tradicionais estão sendo ocupados por novas redes de lojas
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Há quem diga - como o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Alcides Debus - que a região central de Porto Alegre melhorou um pouco em quesitos como limpeza e redução de ambulantes irregulares, e que já está voltando a atrair negócios. Outros - como o presidente da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA), Paulo Afonso Pereira - ainda reclamam da sujeira em muitos pontos e da presença excessiva de ambulantes.
Ambos concordam, porém, que a virada econômica nesta parte da Capital só virá, realmente, quando sair do papel o projeto do novo Cais Mauá. "Aí, sim, teremos uma nova realidade na região central, com estimulo ao comércio e, especialmente, ao turismo. Hoje, quem chega ao Estado desembarca e sobe direto para a Serra. Se ficar um dia na Capital, já estará girando a economia, a hotelaria e o comércio. E o novo cais pode ser esse estímulo", diz Pereira.
Apesar de também concordar que o novo cais será um divisor de águas na história da região central da cidade, Debus avalia que o Centro de Porto Alegre já mostra certa revitalização. Ele cita como exemplo a recente ocupação de prédios tradicionais por redes como Lebes, no antigo Edifício Guaspari, na avenida Borges de Medeiros, e pela paulista Lojas Torra, que ocupa o espaço do Hipo Fábricas, na esquina das ruas Voluntários da Pátria e Doutor Flores.
"É claro que ainda há muito o que fazer e melhorar, mas acho que há menos sujeira e vendedores irregulares trancando ruas, como ocorria antes. E essas e outras grandes redes investindo ali estimulam o fluxo de pessoas e valorizam o comércio", opina Debus.