Instalação do Polo Petroquímico uniu o Rio Grande do Sul

Jornalista Elmar Bones abordou trajetória do complexo em livro

Por Jefferson Klein

Bones, hoje com 78 anos, acompanhou a idealização do polo desde o seu início, quando um estudo técnico apontou sua viabilidade
Já operando há quatro décadas no Rio Grande do Sul, a escolha por Triunfo para receber o terceiro polo petroquímico do País foi feita na década de 1970 pelo governo federal. No entanto, essa definição também foi consequência de um intenso esforço de funcionários do Estado. "As pesquisas foram feitas pelo pessoal daqui. Foi um trabalho muito interessante e eu considero um caso exemplar de serviço público, de servidores públicos, que batalharam e foram até o fim", enfatiza o jornalista Elmar Bones, autor, em parceria com o também jornalista Sérgio Lagranha, do livro "A Petroquímica faz História".
Bones, hoje com 78 anos, acompanhou a idealização do polo desde o seu início. O jornalista comenta que em 1972 (época da gestão do governador Euclides Triches) foi noticiada a criação de um grupo técnico do governo do Estado para estudar a viabilidade da implantação de um complexo de produção de matérias-primas plásticas no Rio Grande do Sul. "A palavra petroquímica entrou nos dicionários dos gaúchos nessa época", lembra. Ele ressalta que se tratava de algo de elevada tecnologia e com enorme capacidade de indução do crescimento econômico, que movimentaria muitas cadeias.
O documento "Pólo Petroquímico do Rio Grande do Sul - Estudo Preliminar" contém a primeira análise de viabilidade do empreendimento. Foi concluído em abril de 1974 por três funcionários da Fundação de Ciência e Tecnologia: Maier Avruch, economista e presidente da fundação, Orion Hertes Cabral, engenheiro químico e diretor executivo, e Elio Falcão Vieira, economista e coordenador da pesquisa. "Não era um projeto acabado, mas era bom e já mostrava as possíveis localizações", diz Bones.
Conforme o jornalista, o interesse pela questão foi despertado porque havia a informação de que o governo federal pretendia desenvolver a indústria de base brasileira, com a intenção de construir um terceiro polo petroquímico no País (já havia um em São Paulo e outro na Bahia). Entretanto, na época, afirma Bones, ninguém acreditava muito na possibilidade dessa nova estrutura ser sediada no Rio Grande do Sul, até porque o Estado não era uma região produtora de petróleo. "Mas era quente a coisa, pois existia projeto no Ministério da Indústria e Comércio e, no fim, São Paulo, Bahia e Paraná queriam o polo, porém o único que tinha um estudo bem avançado era o Rio Grande do Sul", frisa o jornalista.
Outro fator que contribuiu para que o Estado fosse escolhido para receber o empreendimento e que acelerou o processo era o bom relacionamento entre o governador Sinval Guazzelli (que sucedeu Triches, exercendo o cargo entre 1975 e 1979) e o então presidente da República, Ernesto Geisel (1974 a 1979), ambos gaúchos e filiados à Arena. No seu livro, no capítulo "O Polo é no Rio Grande", Bones descreve como e quando foi "batido o martelo". "A notícia chegou pouco depois do meio-dia de uma quarta-feira (27 de agosto de 1975). Em seu gabinete, o governador Guazzelli encerrava um despacho com dois secretários, quando o telefone que dava direto em sua mesa tocou. Do outro lado da linha estava o próprio presidente Geisel para lhe dizer que o terceiro polo petroquímico brasileiro seria no Rio Grande do Sul. O Conselho de Desenvolvimento Econômico havia decidido na reunião recém encerrada. O comunicado oficial com os detalhes chegaria nas próximas horas."
Apesar de Guazzelli e Geisel terem afinidades partidárias, o assunto polo unia também pessoas ligadas a outras fileiras. Bones recorda que o então líder da oposição, deputado estadual Pedro Simon (MDB), encontrou-se com o presidente da República, em Santana do Livramento, para dizer que o projeto petroquímico era algo muito importante para o Rio Grande do Sul.
O jornalista enfatiza que houve uma grande união no Estado em torno da iniciativa. "Acho que foi uma das poucas vezes que o Rio Grande se uniu e venceu", assinala. No entanto, mesmo muitos defendendo a implantação do empreendimento no Estado, o tema não era unânime. "A única oposição que restou ao polo, mais importante, foi o (José Antonio) Lutzenberger, que era o líder do movimento ambientalista no Estado", aponta Bones.
Segundo o jornalista, o ativista não achava adequado instalar a estrutura tão próxima ao Guaíba. Ainda havia o receio que o polo pudesse seguir os passos da Borregaard, indústria de celulose também localizada na Região Metropolitana (hoje pertencente à CMPC), que na época verificava vários problemas relacionados à poluição. Contudo, Bones salienta que muitas das contrapartidas envolvendo os cuidados ambientais com a implantação da estrutura petroquímica foram devidas ao posicionamento de Lutzenberger e ao histórico da Borregaard. Hoje, o complexo em Triunfo é algo consolidado como uma das maiores obras já feitas no Estado. "Dos muitos projetos que vi ao longo dos anos, cobrindo economia, poucos são os que se efetivaram e se realizaram plenamente, o polo foi um desses, de uma maneira muito positiva", destaca Bones.