Pedro Carrizo, especial para o JC
Maior produtora de resinas das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros, a produção da Braskem no Polo Petroquímico de Triunfo se destaca pela vanguarda ambiental, título conquistado com a criação de resinas plásticas à base de cana-de-açúcar, a primeira de origem renovável a ser produzida em escala industrial. Desse pioneirismo nasceu a marca I'm green em 2010, braço da Braskem responsável por toda produção de biopolímeros da empresa.
Desde então, a I'm green realiza um trabalho de conscientização com as indústrias de terceira geração para o uso de resinas verdes. Essa aproximação tem trazido resultados, tanto é que hoje as resinas renováveis são exportadas para mais de 30 países e utilizadas em produtos de mais de 250 grandes marcas.
De acordo com Nelzo Silva, diretor industrial da Braskem RS, diante da demanda crescente, a companhia vai seguir com o projeto de expansão da sua capacidade de produção anual de eteno renovável situada no Polo do RS, de 200 mil toneladas para 260 mil toneladas, que estará pronta no começo de 2023.
Nesta entrevista, Nelzo Silva, diretor industrial da Braskem RS, fala sobre o nascimento da I'm green e os próximos passos da empresa.
Jornal do Comércio - Quando a Braskem começou a desenvolver as resinas verdes e como foi possível sua produção em escala industrial?
Nelzo Silva - Os estudos da empresa para produção dos biopolímeros a partir da cana-de-açúcar começaram em 2007, no Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem, no Polo Petroquímico do RS, o maior e mais moderno complexo de pesquisas de polímeros na América Latina. Na ocasião, estabelecemos uma série de parcerias para fornecimento de polietileno (PE) de origem renovável a clientes nacionais e internacionais que também adotam o desenvolvimento sustentável como pilar de sua estratégia. Desse grupo pioneiro de empresas fizeram parte Tetra Pak, Toyota Tsusho, Shiseido, Natura, Acinplas e Johnson&Johnson. Na época, a Braskem investiu US$ 290 milhões na construção da unidade industrial e, em 2010, apresentou ao mercado o primeiro polietileno de origem renovável a ser produzido em escala industrial no mundo, representado hoje pela marca I'm green bio-based.
JC - Por que a Braskem escolheu o Polo de Triunfo para ser o ponto de partida do I'm green?
Silva - Além das suas unidades industriais, a Braskem possui seis plantas-piloto e o Centro de Tecnologia e Inovação em Triunfo, estruturas que desenvolveram e testaram todo o processo produtivo do eteno renovável. As pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia e Inovação respaldaram a decisão aliadas à infraestrutura e logística disponíveis no Polo para o transporte de etanol que, inicialmente, foi adquirido em regiões como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. O processo de polimerização, que converte o eteno renovável em resina termoplástica, desde o início utiliza unidades já existentes da Braskem no Polo de Triunfo. Toda essa infraestrutura fez do complexo petroquímico do Sul a casa perfeita para o desenvolvimento dos produtos a partir de materiais renováveis.
JC - Quais são as etapas de produção que levam a cana-de-açúcar a se transformar em resinas termoplásticas?
Silva - A cana-de-açúcar é processada em usinas e transformada em álcool etanol. Na planta de eteno renovável da Braskem, o etanol é transformado em eteno, com remoção de água (H2O), que será transformado em polietileno ou em EVA (resina de copolímero de etileno e acetato de vinila) pela própria empresa em suas unidades da segunda geração petroquímica. A resina segue então para empresas de terceira geração, que a transformam em produtos plásticos que estão em nosso dia a dia.
JC - Qual a representatividade da produção de eteno verde nos negócios da Braskem?
Silva - Desde a inauguração da planta de eteno renovável já foram produzidas mais de 1,2 milhão de toneladas de polietileno I'm green bio-based e agora está em andamento a ampliação da capacidade produtiva dessa unidade. Quando estiver concluída, em 2023, representará o aumento em 30%, passando de 200 mil toneladas para 260 mil toneladas. O projeto de expansão está orçado em torno de US$ 60 milhões.
JC - Nos últimos anos, também foi ampliada a oferta de novas soluções renováveis, como o EVA I'm green bio-based, resina utilizada em setores como automobilístico e calçadista. As soluções renováveis produzidas em Triunfo podem ter outros usos?
Silva - Sim, entre as primeiras aplicações do plástico de origem renovável estão produtos destinados à higiene pessoal e limpeza doméstica, embalagens de alimentos, brinquedos e utilidades domésticas.
JC - Qual é o papel da Braskem na conscientização do mercado para uso de produtos de origem renovável?
Silva - Como parte importante no desenvolvimento econômico de vários setores da economia, sempre nos colocamos como co-responsáveis para ajudar o mercado na busca de soluções inovadoras e sustentáveis. Hoje, o portfólio de resinas renováveis é exportado para mais de 30 países e já é utilizado em produtos de mais de 250 grandes marcas, como Allbirds, DUO UK, Grupo Boticário, Join The Pipe, Johnson&Johnson, Natura & Co, Nissin, Shiseido e Tetra Pak. Além de investir na expansão de sua capacidade de produção dos biopolímeros I'm green bio-based em 30%, a companhia também está analisando a possibilidade de construir uma nova fábrica de biopolímeros na Tailândia.
JC - Quais diferenças do eteno verde para o eteno convencional no quesito aplicabilidade na indústria?
Silva - O produto final tem as mesmas propriedades e características do polietileno tradicional, podendo ser processado nos equipamentos dos clientes sem necessidade de adaptações. Além disso, o PE renovável também pode ser reciclado nas cadeias tradicionais de reciclagem, alavancando assim a reciclagem do plástico. O polietileno renovável mantém a mesma qualidade e versatilidade do produto de origem fóssil, mas com a vantagem de capturar, ao longo de sua cadeia de produção, até 3,09 toneladas de gás carbônico por cada tonelada produzida. Na produção de EVA renovável, a captura é de até 2,1 toneladas de CO2 por tonelada produzida. No caso do polietileno, como o produto é fabricado pela Braskem há mais de 10 anos, a estimativa é que a solução tenha evitado a emissão de mais de 5,54 milhões de toneladas de CO2 neste período.
JC - Quais são os próximos passos da I'm Green e como o Polo de Triunfo está inserido nessas metas?
Silva - Diante do crescimento na demanda da sociedade e dos nossos parceiros por produtos sustentáveis, estamos investindo em torno de R$ 60 milhões para o aumento em 30% da sua capacidade de produção de biopolímeros I'm green bio-based. Com isso, passará de 200 mil toneladas de biopolímeros para 260 mil toneladas em 2023. A ampliação da capacidade irá contribuir para o meio ambiente com o aumento da captura de CO2 equivalente a 185kt/ano, seguindo as metas da companhia de se tornar uma empresa carbono neutro até 2050. A expansão da produção do eteno renovável é um exemplo do nosso compromisso com a economia circular e ambição de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. No momento, cerca de 200 mil toneladas de biopolímeros são produzidas por ano no Brasil, capacidade essa que será expandida para 260 mil toneladas. Em 2030, a expectativa é de que chegue a 1 milhão de toneladas.