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REPORTAGEM ESPECIAL

- Publicada em 03 de Dezembro de 2022 às 14:18

Polo de Triunfo busca diversificação do portfólio e aumento de competitividade

Todas indústrias petroquímicas têm investido para ser cada vez menos fornecedoras de commodities

Todas indústrias petroquímicas têm investido para ser cada vez menos fornecedoras de commodities


Polo Petroquímico/Divulgação/JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Há 40 anos, a inauguração do Polo Petroquímico de Triunfo, o terceiro do País, marcava a entrada do Rio Grande do Sul no projeto de desenvolvimento da indústria petroquímica nacional. De lá para cá, o Polo passou por mudanças relevantes, não só entre as indústrias que formam o complexo, mas também na área de governança e, principalmente, em sua vocação comercial, que se voltou à exportação logo no início das operações. O que não mudou, no entanto, é a importância do Polo de Triunfo para a economia gaúcha.
Somando-se aos complexos de Bahia e de São Paulo, a planta da região Sul começou a funcionar em dezembro de 1982, às margens do rio Caí. Hoje é responsável por cerca de 90% do total de riqueza gerada no município de Triunfo e 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do RS.
Em 2021, foram cerca de R$ 2,5 bilhões arrecadados aos cofres públicos, resultado de uma movimentação na casa dos R$ 16 bilhões. Além disso, o Polo de Triunfo responde por 70% da indústria petroquímica do RS.
Mesmo assim, ser competitivo frente ao mercado internacional é uma "façanha" que o complexo de Triunfo conquista com dificuldades, explica Sidnei Anjos, diretor administrativo do Comitê de Fomento Industrial do Polo (Cofip RS). Isso porque o custo fixo é mais alto do que se previa em sua concepção. Quando foi idealizado, a previsão era que a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), localizada em Canoas, abastecesse 100% da nafta (principal matéria-prima) que movimenta o polo.
No entanto, a Refap passou a atender outras demandas domésticas e hoje não tem escala suficiente para abastecer a pleno as indústrias petroquímicas, então, 50% da nafta precisa vir de fora do País. "Imagina ter que importar metade da nafta, descarregar o insumo que vem de navio, contando que as condições marítimas permitam, e depois de todos os processos de transformação, exportar 60% da produção para fora, e ainda ser competitivo. É uma façanha o que fazemos em Triunfo", ressalta Anjos.
Outros gastos fixos elevados no Brasil são o da energia elétrica e a logística de transporte dos insumos, razão do custo do frete, explica Victor Guidobono, gerente industrial da Oxiteno, uma das empresas do cluster.
Diante do cenário desafiador, ser competitivo só é possível com criatividade nos negócios e investimento pesado em tecnologia. Ao longo da década de 1990, por exemplo, ciclos de modernização da planta buscaram aumentar a automação. O Polo mobiliza atualmente 7,3 mil trabalhadores regulares, entre diretos da indústria e terceiros de modo contínuo, mas esse número já foi quase o dobro.
Já nos negócios, o executivo da Cofip RS conta que todas indústrias petroquímicas de Triunfo (Braskem, Arlanxeo, Oxiteno e Innova) têm investido para ser cada vez menos fornecedoras de commodities e cada vez mais de especialidades, produzindo o grid das peças de acordo com a demanda do cliente, o que agrega valor na produção.
"Isso se traduz em iniciativas voltadas à redução de resíduos plásticos no ambiente por meio de uma série de iniciativas, como design inteligente de produtos, a reciclagem química, que tem como matéria-prima resíduos plásticos pós-consumo, e a educação ambiental com foco no uso consciente do plástico e no descarte correto dos resíduos", diz Nelzo Silva, diretor Industrial da Braskem RS.
A ociosidade na indústria também dificulta as empresas conseguirem margem para bater o custo fixo alto, lembra o representante da Cofip RS. Atualmente, o Polo de Triunfo opera cerca de 65% da sua capacidade, similar à média nacional. Conforme Anjos, o ideal seria operar 90% da capacidade.
"A indústria petroquímica já foi muito relevante no cenário mundial e hoje ela é a 6ª no mundo, mas poderia ser a 4ª sem muito investimento, só trabalhando na capacidade ociosa", acrescenta.
 

Polo Integrado da Química quer atrair novas empresas

Braskem no Polo Petroquímico de Triunfo

Braskem no Polo Petroquímico de Triunfo


/Braskem/Divulgação/JC
Outra iniciativa comercial em desenvolvimento é a do Polo Integrado da Química, projeto idealizado no governo de José Ivo Sartori (2015-2018), que começou a sair do papel em 2020, com o anúncio de instalação da fábrica de cimento e argamassa Hipermix.
Na verdade, o Polo da Química vem sendo desenhado desde a fundação do complexo de Triunfo, mas só nos últimos dois anos começou de fato a fomentar a atração de indústrias.
Desde o início do projeto, três empresas anunciaram suas instalações. A Hipermix entra em operação no início de 2023, a Sulboro e a Traçado estão em fase de licenciamento. Além de outros players de porte nacional que estão realizando estudos de viabilidades para sua instalação no Rio Grande do Sul. Atualmente, 36 lotes estão disponíveis, segundo informações da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico.
O chamariz para as indústrias são incentivos fiscais e a infraestrutura nos complexos de Triunfo e de Montenegro.
O complexo também comporta o Sistema Integrado de Tratamento de Efluentes Líquidos (Sitel), administrado pela Corsan, com capacidade de tratar até 30 mil metros cúbicos por dia. Conforme a secretaria, a intenção é atrair indústrias do segmento químico de uma forma geral, inclusive as de terceira geração (elo que falta em Triunfo), já que as mesmas estarão muito próximas de seus fornecedores de resina. Indústrias também relacionadas a matérias-primas petroquímicas, como tintas, solventes, cosméticos, fertilizantes e sanitizantes estão sendo prospectadas.
A nova fase de atração de empresas por parte do governo anima os empresários já sediados no complexo, que projetam redução nos custos com transporte a partir da entrada de petroquímicas de terceira geração.
O Polo Integrado da Química tem parceria das prefeituras de Montenegro e Triunfo, Sindicato das Indústrias Químicas do RS (Sindiquim), Cofip RS e Braskem, além do governo do Rio Grande do Sul.

Como funciona o dia a dia no complexo

Cada empresa é especialista em determinado mercado, como a Arlanxeo, que foca na indústria automotiva e da construção civil

Cada empresa é especialista em determinado mercado, como a Arlanxeo, que foca na indústria automotiva e da construção civil


/Julio Bittencourt/Divulgação/JC

Em Triunfo, as indústrias são responsáveis por dois dos três elos da cadeia petroquímica. No elo inicial, a central de matérias-primas, administrada pela Braskem, é responsável pela produção de insumos básicos de primeira geração. É nesta etapa que a nafta (principal matéria-prima), condensado, gás e etanol são transformados em eteno, propeno, butadieno, MTBE e solventes. Depois, os insumos são transportados para as outras plantas de segunda geração do complexo, formado por Braskem, Arlanxeo, Oxiteno e Innova. É dali que os compostos são transformados em resinas e insumos que abastecem diversos outros segmentos industriais, como o de fabricação de plásticos, borrachas, pisos e produtos farmacêuticos.
De tudo que é produzido no polo da região Sul, cerca de 60% é exportado para países da América Latina. Em sua concepção original, no entanto, era previsto justamente o contrário: se imaginava o polo petroquímico gaúcho atendendo exclusivamente a demanda interna do País.
Mudanças na lógica de mercado e na estrutura de gestão do complexo petroquímico nacional foram fundamentais para vocacionar Triunfo à exportação. Segundo o diretor administrativo do Comitê de Fomento Industrial do Polo (Cofip RS), Sidnei Anjos, as sucessivas reestruturações na governança dos polos petroquímicos, a partir de fusões dos players e redução na participação do Estado, resultaram em simplificações na gestão dos complexos. "Com isso, o polo do Sudeste se vocacionou ao abastecimento doméstico, o da Bahia à exportação para América do Norte e Central, enquanto o do Sul se voltou à América Latina. Assim, foi possível dar mais competitividade para indústria nacional."
Dentre o que é produzido em Triunfo, um dos destaques é a unidade da Braskem de eteno verde, que tem sua produção baseada no etanol da cana-de-açúcar. A partir dele, a empresa se tornou a primeira do mundo a produzir o polietileno verde em escala industrial feito 100% a partir de fonte renovável, apelidado de 'plástico verde'. O Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem em Triunfo é a maior das quatro unidades dessa natureza da empresa e um dos principais complexos de pesquisa em polímeros da América Latina. A produção da Braskem, tanto das plantas de insumos básicos quanto nas de segunda geração, representa cerca de 80% de tudo que é produzido em Triunfo e abastece segmentos como o de transporte, saúde e higiene. A atividade das outras três indústrias abastece segmentos da borracha, do plástico e de tintas. Além delas, outras duas empresas ocupam o complexo: a White Martins e a GS Inima. A primeira é fornecedora de gases industriais do Polo Petroquímico, enquanto a GS Inima se responsabiliza pela gestão de toda a água, utilizada em processos industriais e para consumo dos funcionários.