A concessão de três aeroportos gaúchos para uma operadora privada está prestes a decolar e deve trazer maior oferta de voos e rotas e integração à malha da aviação regional em diversas regiões do País.
A projeção é feita pelo comando da CCR Airports, que vai assumir em janeiro de 2022 os aeródromos de Bagé, Pelotas e Uruguaiana, hoje ainda sob gestão da estatal federal Infraero.
O investimento é previsto em R$ 206 milhões nas três estruturas ao longo dos próximos anos. As concessões são por 30 anos. Em nota, em resposta a questionamentos do Jornal do Comércio, a CEO da CCR Airports, Cristiane Gomes, adianta que já deu início a "conversas sobre novas rotas e destinos" com as companhias aéreas.
A executiva reforça que a empresa vai analisar as vocações de cada estrutura para "potencializá-las". Este "potencial" terá um ganho automático na conectividade que a infraestrutura que estará nas mãos da companhia vai permitir.
São nove aeroportos no leilão do bloco Sul. Além dos três gaúchos, tem os de Curitiba, Foz do Iguaçu, Bacacheri e Londrina, no Paraná, e Navegantes e Joinville, em Santa Catarina. Mais seis no bloco do Centro, com São Luís e Imperatriz, no Maranhão, Teresina, no Piauí, Petrolina, em Pernambuco, Palma, em Tocantins, e Goiânia, em Goiás. Além disso, a CCR já tinha o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.
"É importante destacar que a operação conjunta dos 16 aeroportos, a partir de 2022, proporcionará ganhos decorrentes da escala e da integração entre eles, inclusive possibilitando o incremento de novas rotas e destinos, incluindo o aproveitamento do potencial de cargas do Brasil", lista a CEO. "As sinergias certamente irão contribuir para o desenvolvimento das regiões onde esses aeroportos estão inseridos", arremata ela.
O contrato entre a empresa, que pertence ao mesmo grupo que detém hoje quatro rodovias no Estado (BRs 101, 290 - Osório-Eldorado do Sul, 448 e 386), foi assinado em outubro com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que regula o setor e fiscaliza o cumprimento da concessão.
Para dar a largada nos processos da transição até assumir completamente a gestão, que deve ocorrer ocorrer até o fim do primeiro trimestre de 2022, falta a cerimônia de celebração da assinatura, que é organizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), do Ministério da Infraestrutura, e que deve ter a presença do presidente Jair Bolsonaro. O ato foi adiado na semana passada e pode ocorrer até sexta-feira (12).
Sobre execução de obras e adaptações, a concessionária prevê começo em 2022 e ainda vai divulgar o cronograma. Pelo contrato, demandas pontuais de cada local devem ser resolvidas na chamada Fase I-B, como adequação da capacidade de usuários e bagagens, implantação de áreas de segurança de fim de pista e sistema visual de aproximação do tipo Papi (os três aeroportos gaúchos têm) para pouso.
O prazo da execução da Fase I-B é de até 36 meses, ou três anos, a partir da data de "Eficácia do Contrato".
O Papi é exigência para operação de jatos, por exemplo. Pelotas deve ter voos com Boeing da Gol em janeiro para Guarulhos. Hoje tem ligação com bimotor turbo-hélice da Azul para Porto Alegre.
Uruguaiana tem conexão à Capital com turbo-hélice também da Azul, e Bagé, com avião monomotor com nove assentos, da Azul.
As condições dos três aeroportos foram mostradas na série Plano de Voo, que percorreu 12 destinos entre o interior e Porto Alegre. O de Bagé é o mais limitado e que vai exigir mais adaptações, se for receber aeronaves maiores.
Cidades estão ansiosas por melhorias e mais ligações
Bagé é uma das estruturas que vai precisar de mais melhorias para adequar o terminal
JONATAN SILVA/DIVULGAÇÃO/JC
As prefeituras das três cidades que terão aeroportos privatizados não veem a hora que o novo gestor entre e comece a fazer mudanças. Mais voos incluindo rotas para Argentina e Uruguai, são velhos sonhos, principalmente de Bagé e Uruguaiana. Pelotas, por exemplo, espera atrair mais eventos e fluxo de negócios, com oferta de voos diretos para outras localidades fora do Estado, além de Porto Alegre.
"Será uma nova era para o aeroporto e a região", resume o prefeito de Uruguaiana, Ronnie Peterson Colpo Mello. Ele espera que a CCR Airports agilize as obras na pista para receber aeronaves de maior porte e instale a esteira de bagagem. O equipamento está no local, mas não foi instalado. Mello aposta na oferta de voos ao país vizinho e a outros estados.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDI) de Bagé, Bayard Paschoa Pereira, também quer ver aeronaves pousando e decolando da pista para o Uruguai.
"Bagé teve liberações para voos internacionais em 2001", cita ele. A pasta fez pedido à Azul para ofertar ligações a Montevidéu, usando bimotores, além de operação interna com aeronaves ATR.
"Temos empresários com negócios aqui e no país vizinho", cita. O terminal terá de ter melhorias, mas Pereira avalia que podem ser feitas rapidamente. Ele diz que alguns espaços que hoje têm estruturas administrativas da Infraero podem ser liberadas para o uso na operação, o que dispersaria ampliação física imediata.
"A ampliação terá impacto em toda a região e tem efeito social, econômico e cultural", associa o secretário de Bagé. O terminal precisa de posto de abastecimento de querosene de aviação. "Já temos um investidor para instalar, só depende da concessionária", avisa Pereira. Mesmo com a operação com avião pequeno para a Capital, o secretário garante: "Bagé é uma antes e depois da retomada dos voos".
Situação de cada aeródromo e o que esperar da concessão
Plano de Voo - série - Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto - de Pelotas - área em frente a terminal - acesso chegada e saída de pessoas - fachada
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Bagé
- Pista atual: 1,5 mil metros
- Terminal atual: capacidade para 200 mil usuários/ano
- Investimento previsto: R$ 69 milhões
- Estrutura no terminal e apoio: não tem raio-X (aparelho existe, mas não está instalado), esteira de bagagem, área de embarque e posto de abastecimento de combustível para aeronaves (maiores).
- Voos: ligação com Porto Alegre, de domingo a segunda, com aeronave Grand Caravan (9 assentos), operado pela Azul
Pelotas
- Pista atual: 2 mil metros
- Terminal atual: capacidade para 800 mil pessoas/ano
- Investimento previsto: R$ 71 milhões
- Estrutura no terminal e apoio: tem raio-x, esteira de bagagem, sala de embarque, brigada de incêndio e posto de abastecimento
- Voos: diário para Porto Alegre, operado pela Azul, com aeronave ART 72 (70 lugares). A Azul vai ofertar de 20 de dezembro de 2021 até 28 de janeiro, voo direto três vezes na semana (segundas, quartas e sextas) para Florianópolis. A Gol deve ofertar, em janeiro, ligação direta com o Aeroporto de Guarulhos (SP), com jato 737-300
Uruguaiana
Pista atual: 1,5 mil metros
Terminal atual: capacidade para 300 mil passageiros/ano
Investimento previsto: R$ 66 milhões
Estrutura no terminal e apoio: tem raio-x, sala de embarque, brigada de incêndio e posto de abastecimento e não tem esteira de bagagem (existe equipamento, mas não está instalado)
Voos: diário para Porto Alegre, operado pela Azul, com aeronave ART 72 (70 lugares). A Azul vai ofertar, de 26 de dezembro de 2021 a 30 de janeiro, voo direto aos domingos para Florianópolis. A Gol deve ofertar, no primeiro semestre de 2022, ligação direta com o Aeroporto de Guarulhos (SP), com ATR 72