A comercialização de touros, matrizes e genética bovina que ficou represada em 2023 aconteceu em 2024. E deverá seguir em alta neste ano e em 2026. A avaliação é do presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do RS (Sindiler/RS), Fábio Crespo.
Segundo ele, após um começo de ano arrastado, com o preço do boi e as vendas em baixa, 2024 termina melhor que a perspectiva inicial para a pecuária de corte do Estado. O mercado foi se acomodando a partir da metade do ano, para chegar a cotações melhores e mais próximas do valor justo.
"A oferta de touros foi bem superior ao que se esperava. E com preços médios no mínimo 15% a 20% acima do previsto, baseado no que aconteceu em 2023. Isso ocorreu por necessidade do produtor", analisa o leiloeiro.
A avaliação é de que uma grande oferta de animais ficou represada em 2023, retardando a renovação dos touros nas propriedades, mas que, em 2024, os produtores não tiveram como esperar mais e foram às compras, adquirindo qualidade.
"O produtor de genética enxugou um pouco, deixou só a nata, pensando que qualidade justificaria preço melhor. E foi o que aconteceu. Para 2025, vai ser melhor. E 2026 ainda mais. O importante será a liquidez. Se ao produtor vender pelo preço que o mercado está praticando, está bom. Se tem quem compre por mais, ótimo", observa.
A análise vai ao encontro do que projeta a presidente da Conexão Delta G, Clarissa Lopes Peixoto. Segundo ela, a retenção de matrizes nas propriedades gera o aumento do uso de reprodutores, proporcionando resultados ainda mais positivos e impulsionando a produção.
Já a indústria frigorífica do Rio Grande do Sul deve encerrar o ano de 2024 com 1,93 milhão de bovinos abatidos, cerca de 5% inferior ao desempenho de 2023. Mas, ainda assim, a percepção do setor é de que este ano que se inicia será promissor. Cerca de 80% da produção fica no mercado gaúcho.
Conforme o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do RS (Sicadergs), Ladislau Böes, houve forte entrada de carne oriunda de outros estados nos primeiros seis meses do ano. Isso sem falar nas enchentes de abril e maio, cujo impacto foi sentido a partir da metade do ano, quando a compra do produto pelos consumidores também diminuiu.
Mas a recuperação das vendas de matrizes e reprodutores, assim como a retomada dos abates no segundo semestre do ano passado cria uma expectativa positiva para o próximo exercício.
"O ano de 2025 tende a ser melhor, com a valorização do preço do boi que verificamos desde novembro. Os investimentos que vêm sendo feitos na cria e no entoure de vacas são garantia de rebanho no futuro. Há uma tendência de ajuste de mercado, sem grande desvalorização. Além disso, novos mercados para exportação estão surgindo para empresas gaúchas", avalia o dirigente.
O CEO da Solução Genética, o pecuarista Luis Felipe Cassol tem a melhor das expectativas para 2025. Segundo ele, após um começo difícil e o agravamento do cenário em todo o Estado por conta das enchentes de maio, a comercialização de sêmen e embriões de reprodutores bovinos de alta performance surpreendeu positivamente.
"Vendemos volume expressivo de sêmen, acima do projetado. E material de ponta de todas as raças. Tivemos muita procura por touros diferenciados e também em preços. Se 2024 teve tudo o que passamos e termina bem, cumprindo o esperado e além, com preços bastante bons na pecuária, retomando lucratividade, as expectativas são as melhores possíveis".
Mariana Tellechea, presidente da Associação Brasileira de Angus e Ultrablack, que entrega o cargo no começo de janeiro, projeta uma mudança de ciclo positiva na pecuária de corte pelo menos ao longo dos próximos dois anos. O desempenho do setor neste encerramento de 2024, com preços aquecidos e mercado ágil, tanto de animais para melhoramento genético, quanto do quilo do boi, permitem acreditar em bons ventos à frente.
Igualmente, as exportações crescentes no ano passado na comparação com 2023, associadas às oportunidades de negócios que devem surgir, reforçam esse quadro. Entre janeiro e setembro de 2024, o embarque de carne Angus cresceu 7,85% sobre o período anterior, alcançando 1,83 mil toneladas.
"E os dois últimos meses do ano são, tradicionalmente, os que têm mais pedidos. Então, vamos fechar um ano bem positivo", completa a pecuarista.