A indústria metalmecânica da Serra Gaúcha, principal polo do segmento no Estado, terá, neste ano, desempenhos diversos dentre seus segmentos produtivos. Há quem opere em alta expressiva, como o eletroeletrônico e o metalmecânico, mas também há aqueles que fecharão o ano com perdas na casa dos 20%, caso da cadeia do agronegócio.
"Foi um ano restrito e de dificuldades em razão da falta de definição de políticas públicas, agravadas no Rio Grande do Sul pelas enchentes de maio", define Ubiratã Rezler, presidente do Simecs (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e Material Elétrico de Caxias do Sul e Região Nordeste).
Segundo o dirigente, os agricultores recuaram na compra de máquinas novas, optando por fazer um retrofit. O sinal positivo do ano se concentra na apresentação de projetos pelas grandes empresas, que podem ter efeito prático dentro de dois a três anos.
"É o caso do automotivo. Porém, ainda existe muita insegurança jurídica, o que pode afetar a realização dos projetos mais adiante e comprometer investimentos realizados pela cadeia, inclusive na contratação de mão de obra. O problema reside aí: não se tem uma visão mais duradoura para a frente", avalia.
No geral, a expectativa é de resultado positivo no ano, incluindo aumento nos quadros de pessoal. Porém, houve adoção de férias coletivas e paradas em algumas empresas para garantir a operação diante da queda do mercado. As enchentes de maio afetaram a indústria da Serra, principalmente no aspecto logístico, com a obstrução de estradas e quedas de pontes, repercutindo em aumento nos custos do transporte. No momento, cerca de 90% dos estragos foram resolvidos, principalmente pela ação do setor privado.
A avaliação do dirigente sindical é de que a situação atual se mantenha em 2025, mas com tendência a recrudescimento das dificuldades, ainda por conta do cenário de indefinições públicas, principalmente pela ausência de medidas que estimulem a competitividade na indústria como um todo. "O governo tem anunciado políticas nesta área, mas atende especificamente alguns setores, considerados estratégicos, quando, na verdade, todas as atividades estão precisando de atenção para melhorar a produtividade e ganhar competitividade", reforça.
O que pode trazer avanço é a política de depreciação antecipada dos equipamentos por meio de recursos financiados para aquisição e alternativas tributárias. Rezler observa que esta é uma oportunidade para o empresário investir, ainda que o momento não seja adequado. "Alguém vai fazer e quem não fizer pode se dar mal. Ainda que esta medida possa ter consequências negativas futuras, porque a conta será paga por alguém, o empresário precisa olhar para esta política como alternativa para promover a sua melhoria", aconselha.
De outro lado, existem temas em debates ou já definidos que repercutirão negativamente no resultado das empresas industriais. O presidente do Simecs cita, como exemplo, a elevação na taxação do frete entre 6% a 8% em razão da reforma tributária. "É uma situação preocupante, que pode reduzir a lucratividade do negócio. A reforma é necessária, pois vai simplificar os processos e desonerar setores. Mas traz consigo outros problemas", admite. Também indica a desvalorização do real diante do dólar como entrave nas questões comerciais pela perda de competitividade no exterior, especialmente na abertura de novos mercados. "Quem resolver investir em maquinário, a maioria proveniente do exterior, terá um custo muito elevado, o que pode inviabilizar a aquisição", sinaliza.
Mesmo com a perspectiva de que as propostas de mudanças nas regras trabalhistas, com a redução da carga para 36 horas semanais, não sejam contempladas na sua essência, Rezler vislumbra agravamento no mercado de trabalho, principalmente com a mão de obra de baixa especialização. "Para elevar a produtividade, a indústria terá de investir ainda mais em máquinas. Não para tirar pessoas, mas para ganhar competitividade. As mudanças propostas não estão alinhadas com esta realidade", afirma.
Polo de Canoas ainda sofre com os efeitos das enchentes
Machemer lamenta índices negativos de emprego e diz que empresários estão receosos em contratar
SIMECAN/SIMECAN/DIVULGAÇÃO/JCO segmento metalmecânico de Canoas e Nova Santa Rita foi um dos que mais sofreu prejuízos com as enchentes de maio, pois cerca de 50% das empresas teve paralisação total ou parcial e permaneceu com as instalações inundadas por quase dois meses. De acordo com o presidente do Simecan (Sindicato das Indústrias Metalmecânicas e Eletroeletrônicas de Canoas e Nova Santa Rita), Roberto Rene Machemer, além das perdas patrimoniais e de vidas, o setor ainda não conseguiu estabelecer o nível de produção semelhante ao existente antes das enchentes. "Está difícil retomar os números anteriores, pois parte das empresas investiu na recuperação das máquinas, quando encontrou componentes; outras sucatearam e houve quem terceirizasse a produção", detalha.
O dirigente argumenta que os grandes investimentos são poucos. A maioria das empresas está aplicando basicamente em manutenção para garantir a operação atual. "O dinheiro público não chegou ou foi pouco para as empresas que tiveram prejuízos. Tem-se, ainda, a demora na liberação dos recursos, o que só piora a situação. Quem perdeu praticamente tudo não irá comprar se não tiver apoio público", observa.
As enchentes também foram determinantes no aumento de custo de produção, retirando ainda mais a competitividade dos negócios. Inicialmente pesaram os fretes e, na sequência, a valorização do dólar, já que boa parte dos insumos e equipamentos tem valores atrelados à moeda norte-americana.
Ainda assim, alguns segmentos conseguiram performance melhor, como eletroeletrônico e a indústria prestadora de serviços. Já no segmento agrícola, que tem forte representatividade na região, algumas empresas ficaram sem operar por mais de 90 dias. "Por conta dos aumentos percebe-se alta no faturamento, mas não em peças produzidas", relata.
A mão de obra é outro ponto de atenção do setor. A liderança assinala que, diante dos vários benefícios sociais públicos, muitas pessoas têm preferido ficar em casa ou trabalhar informalmente. "A contratação também é cara, pois é preciso investir na qualificação. Mas é comum o pessoal pedir desligamento, o que se transforma em prejuízo à empresa. A solução não é fácil, está se buscando alternativas em colaboração com demais entidades patronais", reforçou.
Ele acredita que 2025 se comporte de forma muito semelhante a este ano. Espera poucas novidades, mas muitos sobressaltos diante das importações chinesas e elevação do dólar, com repercussão nos preços das matérias-primas. "É um problema que vamos ter. A inflação é crescente e as empresas estão tentando ajustar seus custos. Já o governo segue gastando mais do que arrecada", destaca.
Machemer também atenta para a insegurança jurídica e mercadológica, além das ameaças vindas dos Estados Unidos de aumento das taxas de importação de produtos brasileiros. Destaca que alguns setores da região têm nas exportações perto de 50% da receita. "O Brasil não tem uma economia perene, sempre vivemos de sobressaltos", lamenta.