Se recuperando do prejuízo nos cofres por conta das enchentes, a dupla Gre-Nal encara 2025 com a responsabilidade de apertar o cinto nos investimentos esportivos. Será uma temporada de criatividade no mercado com um dosador de ânimo já na largada: o Gauchão valendo o inédito octacampeonato para o Grêmio e, para o Inter, a missão de impedir uma hegemonia reservada, até então, apenas para si. Mais à frente, com o calendário cheio e a novidade do Super Mundial — gaúchos param por um mês entre junho e julho —, Grêmio e Inter apostam em um planejamento esportivo calculado para montar elencos sem comprometer o caixa e manter o equilíbrio perante às ricas potências do futebol brasileiro.
Com reformulações a caminho, Grêmio projeta uma cara nova para próxima temporada
Presidente Alberto Guerra não tem candidatura à reeleição confirmada para o pleito de 2025
LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA/JCMudança é a palavra para o Grêmio em 2025. Tendo desempenhado muito abaixo do esperado nesta temporada, os bastidores apontam para reformulações contundentes. As saídas de Renato Portaluppi e Antônio Brum, precedidas pela ruptura com seus auxiliares, o treinador de goleiros e o preparador físico, deram início a um intenso período de metamorfoses. As transformações devem se estender pelos diferentes setores do Tricolor, englobando tanto as quatro linhas (comissão técnica, preparadores e atletas) quanto o extracampo (executivo, conselho e direção). Tudo indica que esse é só o começo.
Para ocupar a cadeira até então vazia, Alexandre Rossato, advogado e atual chefe de gabinete, assumiu a vice-presidência de futebol. Cesar Augusto Peixoto, por sua vez, foi o escolhido para exercer o cargo de diretor de futebol. Essa dupla, junto à comissão técnica, será decisiva no planejamento da próxima temporada, inclusive no que diz respeito às contratações e dispensas.
As definições do ano passarão também por outro elemento importante: a política. O presidente Alberto Guerra chegará em seu último ano de mandato na gestão do clube e ainda não há confirmação sobre sua candidatura à reeleição. O que se pode prospectar com um pouco mais de assertividade, no entanto, é o seu adversário. Paulo Caleffi, ex-vice-presidente de Guerra, deixou prematuramente o cargo após desafeto público entre as partes e, em 2025, deve figurar como representante da oposição. De amigos e companheiros de gestão a adversários nas urnas. Especula-se que, em caso de desistência do atual mandatário, Luciano Feldens será lançado em seu lugar.
Saindo das urnas e indo para os cofres, o Grêmio, em reunião do Conselho Deliberativo, aprovou um orçamento bruto de R$ 548 milhões para o próximo exercício. Esperando uma arrecadação R$ 73 milhões acima da receita prevista para 2024, o Tricolor deseja ajeitar a casa e terminar o ano com um lucro (simbólico) de R$ 75 mil. A ideia é quebrar o mau hábito e, após três anos consecutivos de déficit, comemorar o Réveillon no positivo.
Entre o fim de antigos ciclos e o início de novos, o Grêmio irá ao mercado com as pretendidas reformulações em mente. A aposentadoria de Pedro Geromel, as lesões de Kannemann e Rodrigo Ely e a indefinição de outros atletas da posição tornam a carência de zagueiros evidente.
Para além da questão quantitativa, o sistema defensivo se mostrou ineficiente. Só no Brasileirão, o Tricolor sofreu 50 gols em 38 partidas. Tendo essas situações postas, a defesa deve ser vista como prioridade na janela de transferências. O clube, entretanto, precisará conciliar os seus anseios com o orçamento limitado que tem à disposição.
No que diz respeito às competições para a próxima temporada, o Tricolor já tem os objetivos financeiros bem definidos. O clube espera, no ano de 2025, figurar entre os oito melhores colocados do Brasileirão. Já nas Copas, onde tradicionalmente se sobressai, a meta é alcançar as quartas de final, tanto na Copa do Brasil quanto na Sul-Americana. À procura de um posicionamento oficial, a redação procurou o presidente Alberto Guerra, porém o dirigente optou por não falar. E, até o fechamento desta matéria, o novo treinador do Grêmio ainda não havia sido contratado.
Barcellos destaca importância do primeiro semestre do Inter após anos conturbados
Presidente também alerta para necessidade de apertar o cinto nas finanças
THAYNÁ WEISSBACH/JCDentro de campo, o trabalho no Inter é sólido e prevê continuidade sob o guarda-chuva do novo organograma da direção, destacado pela presença do ídolo D'Alessandro na ponte entre comissão técnica e cartolas. A grande questão é as possíveis saídas, suas reposições e o quebra-cabeça a ser montado pelo técnico Roger Machado, que terá sua primeira prova de fogo à frente do Colorado. O comandante, que viveu o outro lado, sabe do peso da rivalidade Gre-Nal e terá a missão de impedir o octa gremista no Gauchão.
Para isso, ele preza pela manutenção da base, algo que o presidente do clube, Alessandro Barcellos, também vê como primordial para 2025. "Este grupo vem sendo montado há mais de dois anos, com a ideia de suportar o período do mandato (até 2026). A ideia é a manutenção, sabendo que temos a necessidade de venda pelo orçamento e a reposição com o critério muito claro de equilíbrio financeiro".
Depois de um prejuízo calculado na casa dos R$ 90 milhões em 2024, devido à tragédia que assolou o Estado, o orçamento de 2025 prevê R$ 160 milhões na venda de atletas, as quais Barcellos não coloca um prazo, deixando claro que podem ocorrer ao longo da temporada que está por vir — negociações fechadas nos próximos dias entram no recorte deste ano.
Diante desse déficit, o mandatário explica que o equilíbrio operacional, até um ano atrás, era contemplado pelos superávits do primeiro mandato e, agora, é preciso voltar algumas casas para restabelecer esta realidade. Nesse contexto, sem a aprovação do projeto de debêntures junto ao Conselho Deliberativo, resta a atual gestão vender ativos para estancar a dívida.
Outro ponto de atenção é o ciclo que parece ter se instaurado no Beira-Rio. Após um primeiro semestre abaixo, ocorre a troca no comando técnico e uma reta final de futebol seguro e esperançoso, até que o processo se repita no ano seguinte. Nesta temporada, Barcellos relembra as enchentes, que afastaram o clube de seu estádio e centro de treinamentos, e impediram o que seria uma temporada de recuperação ainda nas Copas, após a eliminação no Estadual.
A confiança em Roger e a consciência dos profissionais recém-chegados sobre este cenário, além da pré-temporada, beneficiando atletas como Borré, que veio da Europa e não parou desde 2023, também são pontos exaltados pelo presidente.
Quanto à concorrência, como citado acima, as ricas potências do futebol brasileiro, neste caso Flamengo, Botafogo e Palmeiras, despontam como times a serem batidos, inclusive na Libertadores. "Hoje, estes são os clubes mais poderosos do País e preocupam os demais", garante Barcellos.
Para muitos, o método para combatê-los é, assim como vários outros no Brasil, virar SAF. O presidente explica que, por conta do ano atípico, o debate sobre este e outros modelos de gestão, que deveria se intensificar, estagnou e deve retomar seu curso em breve. "Não envolve só a SAF, mas acharmos soluções para enfrentar o endividamento e buscarmos uma forma de investimento no clube de médio e longo prazo. Vamos trabalhar provocando o Conselho Deliberativo e a própria gestão. O Inter precisa enfrentar esse debate". A tendência, de momento, é que o clube se mantenha associativo.