A realização de contratos futuros de compra e venda de leite, permitindo previsibilidade e planejamento para investir, é uma das principais lutas dos produtores do setor para 2025. Afinal, pela falta de circunstâncias como essas e pelas dificuldades causadas por problemas climáticos - que impactam na alimentação dos animais e na produção - metade das famílias que atuavam na atividade desistiram nos últimos 10 anos. Produtores e indústrias defendem também preços mais estáveis e condições de competitividade com produtos do exterior.
Para o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, saber quanto vai receber pelo litro de leite entregue é o mínimo que se pode esperar para a implementação de avanços tecnológicos.
"É com isso que podemos assegurar a qualidade e a sanidade dos produtos, bem como todas as exigências legais, com as quais concordamos. Mas, ao contrário, vivemos incertezas. E, além do mais, quando o preço sobe, é degrau por degrau. Mas quando cai, desce de elevador."
Segundo o dirigente, o Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS) tem feito um debate mais maduro, mas ainda é preciso avançar mais.
Tang lembra que as sucessivas estiagens de anos anteriores impuseram grandes desafios ao produtor. E que a enchente de maio levou pastos semeados, solo e, em alguns locais, as próprias vacas e instalações.
"O ano de 2024 foi de alguma estabilidade. Até novembro não havia quedas (de preço) mais importantes. Mas todo fim de ano há tendência de queda de remuneração ao produtor, o que complica bastante, porque a produção cai com o estresse térmico a que são submetidos os animais, afetando a produção de alimentos e a produção de leite."
A preocupação com a questão da previsibilidade dos preços e com os efeitos das mudanças climáticas sobre os plantéis é compartilhada pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS). Para o vice-presidente da entidade, Eugênio Zanetti, 2025 deverá trazer aumento dos custos de produção, principalmente por conta da elevação da cotação do dólar. E, com a redução dos preços no final do ano, ao contrário da estabilidade verificada ao longo de 2024, surge um alerta de que o próximo ano seja de rentabilidade pressionada.
"Com as mudanças climáticas, a produção agrícola, essencial para a alimentação dos rebanhos, é afetada. Apesar de ser uma atividade pecuária, a produção leiteira depende diretamente da agricultura, tornando as alterações no clima, como secas prolongadas ou enchentes, um fator crítico para o setor que afetam pastagens, a silagem, e os grão para a ração concentrada."
Zanetti ressalta que condições climáticas extremas afetam diretamente a saúde dos animais e seu desempenho. No Centro-Oeste, por exemplo, queimadas e a redução da produtividade devido ao clima afetaram o abastecimento.
Embora a produção no RS tenha se mantido estável ou com leves reduções, o impacto climático em outras regiões acabou influenciando o setor como um todo. Entretanto, a oferta menor também proporcionou a estabilidade dos preços em 2024.
Por conta das enchentes, a produção de leite diminuiu em maio e junho, principalmente. E problemas logísticos também foram obstáculo importante, observa Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat).