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Publicada em 18 de Dezembro de 2024 às 21:10

Alta oferta de grãos e cotação do dólar embaralham mercado para 2025

Safra brasileira de soja pode chegar a 322 milhões de toneladas, sendo 22 milhões no RS

Safra brasileira de soja pode chegar a 322 milhões de toneladas, sendo 22 milhões no RS

EXPODIRETO COTRIJAL/divulga??o/jc
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Depois de uma sequência de safras marcadas por sucessivas estiagens que impactaram a produção agrícola, o cultivo deste verão sinaliza boas perspectivas para a colheita em 2025. Soja, milho e arroz despontam com produção em alta. Mas a oferta abundante pressiona as cotações para patamares inferiores, exigindo atenção e estratégia para avaliar o melhor momento para a comercialização.
Depois de uma sequência de safras marcadas por sucessivas estiagens que impactaram a produção agrícola, o cultivo deste verão sinaliza boas perspectivas para a colheita em 2025. Soja, milho e arroz despontam com produção em alta. Mas a oferta abundante pressiona as cotações para patamares inferiores, exigindo atenção e estratégia para avaliar o melhor momento para a comercialização.
O Brasil caminha para uma colheita recorde de 322 milhões de toneladas de grãos. Somente a soja deverá render volume próximo a 170 milhões de toneladas - e mais de 22 milhões no RS. Performance semelhante é esperada na Argentina, onde as lavouras apresentam bom desenvolvimento.
Conforme o coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, Luiz Fernando Roque, o grande desafio para o produtor é desvendar o cenário para fazer o melhor negócio possível, especialmente no primeiro semestre do próximo ano.
"O único fator, hoje, que está ajudando, de alguma forma, trazendo algum suporte para preço, é o câmbio. Os outros dois fatores, que são Chicago e prêmios de paridade de exportação, estão pressionados, principalmente os prêmios, que já estão em queda e tendem a ceder ainda mais na entrada da safra. Uma produção desse tamanho não tem prêmio que segure", aponta.
O analista projeta queda nas cotações na Bolsa de Chicago, caso se confirme uma grande safra na América do Sul, podendo perder até US$ 1,00 por bushel, em relação aos atuais US$ 10,00. O caminho para o produtor, sugere Roque, é manter a atenção e aproveitar o câmbio elevado.
"O dólar até pode subir mais, mas já temos um patamar histórico. E temos que diminuir o risco, diante desse cenário de preços mais fracos ali na frente".
Para o trigo, segundo grão mais produzido no mundo, a projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é de uma safra global de 794,7 milhões de toneladas. No Brasil, depois de uma colheita de 11,4 milhões de toneladas em 2022 e 8,5 milhões de toneladas no ano passado, a safra será ainda menor. A produção deve fechar em cerca de 7,3 milhões, contrariando a estimativa inicial, de mais de 9 milhões de toneladas.
A quebra na maioria dos estados produtores, com exceção para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, fará com que o País vá com força às compras no mercado internacional para garantir o abastecimento interno. Ruim para o Paraná, que será grande importador, bom para o RS, cuja produção, com qualidade, deverá atender aquele Estado, projeta o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado.
Segundo ele, produtores gaúchos poderão aproveitar a cotação do dólar para exportar. Enquanto as indústrias terão, também, de buscar matéria-prima no exterior.
Estudo da Emater/RS aponta, com a colheita praticamente concluída no RS, projeção de 4,12 milhões de toneladas. Um crescimento de 57,2% na produção e de 77,9% na produtividade, mesmo com a redução de 12,2% na área plantada.
Até outubro, 1,9 milhão de toneladas do cereal gaúcho foram exportadas. Já as importações passaram de 104,5 mil toneladas em 2023 para 597,6 mil toneladas, sendo 535,5 mil da Argentina.
O país vizinho deve colocar nos moinhos brasileiros até 7 milhões de toneladas de trigo, diz Bento. Com problemas pontuais na safra, os argentinos colherão mais de 18 milhões de toneladas, das quais 12 milhões irão para exportação.
E, embora as bolsas dos Estados Unidos estejam em baixa, precificando a safra americana, que tem bom desenvolvimento, a tendência é de aumento nas cotações. É que o governo de Vladimir Putin na Rússia está impondo taxas para conter as exportações, diante de uma produção menor, elevando os preços locais, o que deve pressionar as bolsas americanas para cima, finaliza o analista da Safras & Mercado.
 

Queda das cotações do arroz na entressafra é um alerta

Previsão é de uma produção nacional de 12 milhões de toneladas de arroz e 16 milhões no bloco do Mercosul

Previsão é de uma produção nacional de 12 milhões de toneladas de arroz e 16 milhões no bloco do Mercosul

THIAGO COPETTI/ESPECIAL/JC
No arroz, que manteve preços firmes para o produtor brasileiro ao longo do ano, o momento é de queda nas cotações em plena entressafra e com tendência baixista para o primeiro semestre de 2025. Um dos motivos, conforme o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, é a oferta de contratos de opção de venda ao governo pelo preço de R$ 87,00 para a saca de 50 quilos em agosto de 2025, já abaixo dos custos de produção, entre R$ 90,00 e R$ 100,00.
Mesmo com baixa adesão - na primeira rodada apenas 4% das 500 mil toneladas pretendidas pela Conab foram comercializadas -, o movimento criou um balizador de mercado ruim. "É um valor que, com despesas de transporte e outros custos, traz o preço da saca para R$ 80,00. Não serve para o mercado e pode desestimular o plantio na próxima safra", avisou o líder arrozeiro.
O analista da Safras & Mercado Evandro Silva observa ainda que o consumo enfraquecido e também a baixa nas exportações fizeram o mercado perder sustentação. "A previsão de safra cheia, com uma produção nacional perto de 12 milhões de toneladas e perto de 16 milhões em todo o bloco do Mercosul, indica um cenário de oferta abundante. Com base nisso, uma pressão negativa sobre os preços, principalmente no primeiro semestre, que tem entrada da safra gaúcha e também maior volume de importações", projeta.
Mas no RS, a tendência é de diminuição na área plantada em relação à projeção inicial, de 948 mil hectares. Encerrado o período recomendado pelo zoneamento agroclimático para a semeadura de arroz, cerca de 50 mil hectares ainda não foram plantados.
 

Produtor de milho gaúcho pode ter vantagem na hora da venda do grão

RS deve colher 5,3 milhões de toneladas de milho, 4% da safra nacional, de 119,6 milhões de toneladas

RS deve colher 5,3 milhões de toneladas de milho, 4% da safra nacional, de 119,6 milhões de toneladas

CL/DIVULGAÇÃO/CIDADES
Cultura mais produzida no mundo, com 1,2 bilhão de toneladas, o milho corresponde a cerca de 40% da produção global de grãos. E nesta safra deverá gerar 119,6 milhões de toneladas no Brasil. O cereal, cuja demanda no Rio Grande do Sul gira em torno de 7 milhões de toneladas, não deve ultrapassar as 5,3 milhões colhidas. Como o Estado planta e colhe primeiro, pode ser beneficiado na hora de comercializar.
O resultado é a evasão de dinheiro do Rio Grande do Sul e a geração de empregos em outros Estados, de onde os gaúchos importam, lamenta o produtor Paulo Vargas, coordenador da Comissão de Milho e Feijão da Federação da Agricultura do rio Grande do Sul (Farsul). Ele destaca a importância da cultura na rotação com outras, contribuindo para reduzir pragas nas lavouras e a alta produção na safrinha, principalmente no Centro-Oeste.
"No RS, a safrinha não funciona devido à questão climática e o período de semeadura, pós-soja, que não favorece. Mas o Estado planta primeiro, e pode vender mais cedo, quando ainda há pouca oferta do produto. Entretanto, se a safrinha não for boa, seria melhor esperar para vender melhor depois", analisa.
A perspectiva de safra é positiva no RS, com potencial de colher entre 120 e 150 sacas de 60 quilos por hectare em muitas regiões. Entretanto, no ciclo passado, com o clima chuvoso, o manejo da cigarrinha-do-milho ocasionou uma baixa produtividade, mesmo com lavouras bem estabelecidas, lembra o agrônomo Décio Fernando Neuls, assistente técnico da Kakau Insumos, de Carazinho.
"A expectativa, agora, é de uma baixa pressão pela praga, pouco dano e produtividade alta. Mas muitos produtores saíram da cultura por medo de alto custo com o manejo para enfrentar a cigarrinha e a incidência de enfezamento, doença transmitida pelo inseto", observa Neuls.
Segundo ele, as cotações sugerem que, no momento, é melhor vender no mercado interno e não exportar.
 

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