Quando 2023 chegou ao fim, os gaúchos, ainda assustados pelas enchentes que assolaram o Estado em setembro e novembro daquele ano, tinham apenas a primeira amostra do impacto do aquecimento global na região. Hoje, no entanto, o cenário tornou-se ainda mais dramático. No último mês de maio, o Rio Grande do Sul enfrentou o maior evento climático de sua história, e a força das águas não apenas alagou quase todas as cidades do Estado, incluindo Porto Alegre, mas também deixou marcas profundas na memória coletiva, expondo a fragilidade da infraestrutura diante da intensificação dos fenômenos ambientais extremos.
A tragédia é mais do que um marco doloroso — é um alerta de que os impactos do aquecimento global já são uma realidade que exige respostas imediatas. Diante desse cenário, o Jornal do Comércio ouviu lideranças políticas e especialistas ambientais para entender o que está sendo planejado para 2025, um ano que desponta como decisivo na busca por soluções para mitigar os impactos da crise.
"Desastres não são naturais; são resultado das nossas escolhas." Com essa frase, o engenheiro florestal e PhD em Desastres Naturais, Marcos Leandro Kazmierczak, resume a realidade enfrentada pelo Rio Grande do Sul. Como já citado, a maior tragédia ambiental da bicentenária história gaúcha expôs não apenas a intensidade dos eventos climáticos, mas também a falta de preparação para lidar com eles. Sete meses depois, os impactos seguem presentes: casas ainda aguardam laudos da Defesa Civil, muitas escolas continuam fechadas, e a infraestrutura permanece longe da ideal para evitar novos desastres.
Kazmierczak afirma que o Estado não pode mais encarar essas tragédias como eventos isolados. "Os desastres estão se tornando frequentes e intensos, e os números são alarmantes. Nos últimos 20 anos, houve um aumento de 191% nos eventos climáticos extremos. O impacto econômico subiu 1.300%, e o número de edificações danificadas ou destruídas aumentou em 4.500%. Não podemos ignorar isso", alerta, destacando que, embora seja impossível prever com certeza se novos episódios ocorrerão em 2025, há uma clara tendência de que fenômenos semelhantes voltem a se repetir em breve.
Para ele, as lições deixadas pela recente tragédia são claras: é preciso repensar a governança, a infraestrutura e a consciência pública. "Metade dos municípios não possui planos diretores que considerem a prevenção de enchentes e deslizamentos. A maioria das Defesas Civis municipais é subdimensionada e falta infraestrutura básica, como computadores e barcos para emergências", critica.
O especialista destaca ainda a importância de ações mais eficientes para monitorar riscos e preparar as comunidades. "Precisamos de mais radares meteorológicos e sensores nos rios, e esses dados precisam ser usados estrategicamente para alertar a população."
O engenheiro enfatiza que as políticas públicas precisam ir além da resposta emergencial, com foco em prevenção, e que o cenário de 2024 deve servir como um ponto de virada em 2025. "Estamos em uma emergência climática, e as escolhas feitas agora determinarão o nosso futuro. Agir é essencial para evitar mais tragédias", conclui.