Com o tema Estalo e buscando aproximar as pessoas (principalmente aquelas que não têm acesso fácil) das artes visuais, em 2024, a Bienal do Mercosul deverá ter forte apelo popular. Segundo o professor e historiador de arte Raphael Fonseca, curador-chefe da mostra que chega à sua 14ª edição, o olhar de duas curadoras de programas públicos que vivem em Porto Alegre, Anna Mattos e Marina Feldens, viabilizará que parte da programação gire em torno de atividades que atrairão um público diverso com a presença de festas, ações performáticas e oficinas.
"Não devemos esquecer também que as curadoras educativas da Bienal, Andréa Hygino e Michele Ziegt, estarão organizando seminários, atividades e conversas que são uma espécie de interseção com os programas públicos", observa. Além dessa programação que será oferecida de forma gratuita, a curadoria do evento de 2024 adianta que está estudando a hipótese de realizar uma seleção de artistas e de obras cujos trabalhos aproximem um público não especializado da Bienal do Mercosul.
"Por mais que não possamos ainda adiantar os nomes dos artistas e suas obras, o título da mostra já entrega alguns de nossos interesses centrais: é um convite para habitar o movimento e a transformação de um estado para outro", emenda o curador-chefe da Bienal em 2024.
"Um ser vivo age sobre o outro por meio da dança, da matéria sonora, do desenho, da pintura, do vídeo, ou da instalação; queremos reunir artistas e trabalhos interessados em 'estalos' relacionados a seres humanos e mais que humanos", afirma Fonseca. Segundo ele, algumas das pesquisas presentes na Bienal "trazem algo explosivo", devido ao seu caráter agitado, brusco e iconófilo, enquanto parte dos artistas já criam visualidades que, "por mais que pareçam mais silenciosas, apenas pelo fato de existirem, já podem ser enxergadas como um estalo." "Não esqueçamos: há os estalos grandiloquentes e os quase imperceptíveis - do germinar de uma semente à vibração das batidas da trap music, esse é um projeto que versa sobre metamorfose."
Entre os focos da curadoria da mostra do ano que vem está a ideia de levar a exposição para outras partes da cidade, ampliando as atrações para além de espaços oficiais de artes visuais. "Ainda estamos em um processo de negociação e autorização da ocupação de novos espaços", comenta Fonseca. "Mas podemos adiantar que nos interessa ter a presença de espaços localizados fora do Centro de Porto Alegre, e que os diferentes públicos residentes da cidade possam ter um acesso livre a proposições no campo das artes visuais que farão parte da Bienal do Mercosul. Também desejamos o trânsito de habitantes de diferentes regiões da cidade entre si."
Afirmando "não acreditar" que um projeto da escala de uma Bienal de artes visuais deva apontar para uma direção única, o curador-chefe da mostra de 2024 destaca que o evento "certamente" apresentará projetos nas mais diversas linguagens - de artistas que se utilizam de diferentes imagens geradas por computador a pessoas que trabalham de forma unicamente artesanal. "São essas maneiras de lidar com a noção de criação - aqui lidos como diferentes estalos - que nos interessam", conceitua.
Fonseca - que também assina a organização da Bienal Sesc Videobrasil em São Paulo, juntamente com outros nomes - irá coordenar, ao todo, uma equipe de sete curadores nacionais e internacionais, que irão selecionar as obras que devem compor a 14ª edição da exposição de artes visuais focada na produção da América Latina. "Torço para que, mais do que "surpreender" o público, que essa reunião de obras e artistas gere interesse e discussão a respeito das artes visuais, das imagens, do mundo e, claro, da vida."