Depois de um ano de final de ciclos de investimentos entre algumas das principais indústrias gaúchas, da produção de celulose ao setor petroquímico, chegando à produção de metais, 2024 promete ser o ano da "colheita" destes aportes.
É o caso da CMPC, em Guaíba, considerada atualmente a maior indústria gaúcha, e também aquela que levou adiante nos últimos anos o maior projeto de ampliação da produção com sustentabilidade.
O chamado BioCMPC, que renovou diversos processos produtivos da celulose na planta gaúcha da empresa chilena com investimentos de R$ 2,75 bilhões, garantirá em 2024 o aumento de 18% na capacidade produtiva da indústria, que chegará a 2,35 milhões de toneladas de celulose por ano, a partir da licença de operação liberada pela Fepam no final deste ano. Representa 50% de toda a produção mundial da CMPC.
Em momento de expansão da produção, também há perspectiva de incremento, em 2024, das operações portuárias para exportação do que a CMPC produz, com a possível concretização do investimento anunciado ainda em 2022 para a construção de um terminal exclusivo para a celulose, em São José do Norte, em parceria com a também chilena Neptune Ports. Os investimentos neste terminal, que reforçaria o uso da hidrovia gaúcha já adotado pela empresa, é previsto em até R$ 30 milhões.
Garantir a plena capacidade de produção, e a consequente maior movimentação da economia gaúcha a partir da produção de celulose, que envolve ainda o plantio de florestas e a movimentação portuária de exportação, a partir de Rio Grande, também dependerá de um reaquecimento do mercado internacional da celulose. De acordo com a empresa, 90% da produção gaúcha da CMPC é destinada à exportação, tendo os mercados asiáticos e europeus como principais compradores, no entanto, conforme levantamento do Departamento de Economia e Estatística (DEE), nos primeiros nove meses deste ano, houve redução de 18% nas vendas de celulose e papel gaúchos para o exterior.
Fábrica de fertilizantes pronta
para o fortalecimento do agro
Expectativa semelhante acontece em Rio Grande, onde a Yara Fertilizantes, ao concluir investimentos de R$ 2 bilhões, teve sua capacidade produtiva de fertilizantes ampliada em quase 60%, saltando de 1,4 milhão de toneladas por ano para 2,2 milhões. Uma capacidade ainda não atingida em virtude da redução da demanda no agro brasileiro. No Rio Grande do Sul, a estiagem e as fortes chuvas de 2023 reduziram em pelo menos 7% as compras junto à fabricante. O Estado representa 25% das vendas da Yara.
De acordo com o diretor Operações da Yara na Região Sul, Lucas Enizalde, porém, a fábrica agora, com a ampliação, está pronta para garantir um possível crescimento do setor, sem restrições de produção. A perspectiva para 2024 é de que a planta de Rio Grande, de onde já sai o chamado YaraBasa, que é um fertilizante adequado à produção agrícola brasileira, invista ainda mais em desenvolvimento de produtos que garantam maior produtividade em menores faixas de terra.
"É uma questão de sustentabilidade, e o agro tem se adequado para garantir cada vez mais mercados. Neste aspecto, a tendência é de aumentar ainda mais a importância de adubos eficientes e adequados à realidade brasileira", aponta Enizalde.
Produção sustentável é prioridade em refinarias e no Polo Petroquímico
Próximo ano deve consolidar as ações já iniciadas nas refinarias gaúchas
/TÂNIA MEINERZ/JC
É também o caminho da sustentabilidade que a Braskem, no Polo Petroquímico de Triunfo, pretende reforçar em 2024. Neste ano, foi ampliada em 30% a capacidade de produção do eteno verde, o chamado plástico verde, que tem a sua única planta com produção 100% sustentável, a partir da cana de açúcar, em substituição aos produtos do petróleo, no mundo, aqui no Rio Grande do Sul. A perspectiva em 2024 é de exportação dessa tecnologia, com projetos de parceria já bem encaminhados na Ásia.
O plano poderá representar uma das saídas para o setor depois de um ano desfavorável para a produção química, de borracha e plásticos no Estado. Em outra frente para reverter este ciclo em 2024, a Arlanxeo, que produz polibutadieno, que é base da produção de borrachas, investiu R$ 500 milhões em avanços tecnológicos da sua produção no Polo de Triunfo. Conforme o DEE, nos primeiros nove meses de 2023, houve redução de mais de 30% nas exportações deste tipo de produto.
O próximo ano desenha-se também como um período de reforço no protagonismo das refinarias gaúchas a partir de investimentos iniciados em 2023 e que devem ser reforçados no próximo ano em projetos para "limpar" a produção incentivada pela Petrobras.
Em Canoas, a Refap pretende, em 2024 garantir a presença de pelo menos 5% de óleo vegetal, portanto, renovável, na composição do diesel que sai da refinaria. O ciclo de investimentos em combustíveis menos poluentes teve início este ano e chegará, em cinco anos, a R$ 1,2 bilhão.
Já em Rio Grande, a Refinaria Riograndense está prestes a dar uma virada na sua produção, em 2024 será um ano decisivo neste processo. Neste ano, aconteceram os primeiros testes bem- sucedidos e, no próximo ano, acontecerá o teste industrial definitivo para a possível conversão da planta industrial na primeira biorrefinaria da Petrobras, que produzirá, entre outros produtos, diesel e combustível para a aviação a partir de óleo vegetal e reciclado, em substituição aos derivados do petróleo. A perspectiva é de investimentos de até R$ 2,5 bilhões na transformação da refinaria.
Tramontina e Gerdau finalizam
aportes nas unidades gaúchas
Já na Serra, a Tramontina fechou em 2023 um ciclo de
R$ 300 milhões em investimentos nos últimos três anos, para garantir fôlego aos próximos anos, com a ampliação de um centro logístico em Garibaldi. A expectativa para 2024 é um crescimento de 10% em seus negócios. De acordo com o DEE, o setor de produtos de metal está entre os que tiveram maior redução na economia este ano. Um cenário que deve ser revertido no próximo ano, com maior previsibilidade na economia.
A Gerdau encerrou em 2023 um ciclo de investimentos para modernizar suas plantas industriais em Charqueadas e Sapucaia do Sul, e chega a 2024 com a perspectiva de ampliar sua importância como maior recicladora de metais para a produção de aço na América Latina. Serão iniciadas ainda as desmontagens de duas plataformas que eram da Petrobras, em Rio Grande, para garantir competitividade à siderúrgica.