Após definir os dois últimos anos como muito positivos, o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs) de Caxias do Sul e Região, Paulo Spanholi, acredita ser possível a atividade manter um ritmo aquecido em 2023, com crescimento na ordem de 2% sobre 2022, que deve fechar com incremento de 4% a 5%. A confiança está depositada, principalmente, na continuidade da expansão do agronegócio, ainda favorecido pelos preços em alta das commodities no mercado externo e pela estimativa de nova safra de grãos com volumes recordes.
Na avaliação de Spanholi, a expansão deve se sustentar tanto pelo mercado interno quanto pelo externo. Esse, no entanto, com mais vigor em relação a anos anteriores. "Estatísticas recentes apontam para oportunidades importantes no exterior. Mas isto deve-se, principalmente, por ações de visibilidade em feiras e busca de vínculos", afirma.
Situação crítica nos últimos anos, o abastecimento de matérias-primas, principalmente metálicas, não deve se repetir em 2023. De acordo com o dirigente sindical, tanto a oferta quanto os preços praticados estão perto da normalidade. "Temos ainda alguns pontos delicados na atividade eletroeletrônica. Já na metalmecânica, os insumos nacionais tiveram queda nos preços, em alguns casos de até 30%. A crise nesta área, que teve seu pico na pandemia com preços altos e redução de produção na China, está praticamente equacionada", reforça.
Por conta deste novo cenário, Spanholi não acredita em inflação na atividade produtiva. Mas alerta para possível recrudescimento inflacionário em função da tendência de elevação da taxa Selic para 14% e do déficit orçamentário de quase R$ 200 bilhões a partir das mudanças na política de teto de gastos pelo governo federal. A questão dos juros e a falta de recursos para programas, como Moderfrota, preocupam por gerarem insegurança no produtor rural. De acordo com Spanholi, por cautela, os agricultores têm segurado as compras, reduzido pedidos e, até mesmo, cancelando. "O setor trabalha sempre no longo prazo. Por isso, as incertezas deste momento se traduzem em preocupação e cautela. Mas acredito que o governo fará os ajustes necessários e normalizará a situação dos programas a partir do segundo semestre. A atividade precisa de alguns benefícios, pois é uma operação de alto risco", avalia.
A situação mais sensível para a indústria metalmecânica é a carência da mão de obra, tanto especializada quanto para funções básicas. Paulo Spanholi informa a existência de aproximadamente 5 mil vagas abertas nas indústrias instaladas nos 17 municípios da região de abrangência da entidade, as quais têm em torno de 65 mil trabalhadores formais. "Falta pessoal para todas as funções", ressalta. Durante os dois anos da pandemia, a atividade metalmecânica da região contratou em torno de 10 mil pessoas. Em 2023, devem ser mais 6 mil.
De forma a atrair os jovens para a atividade, o Simecs, em parceria com Senai, tem realizado visitas à periferia das cidades da região, oferecendo cursos de formação básica. Spanholi admite que não tem sido tarefa fácil, mesmo com vários benefícios oferecidos aos jovens. "É um problema de educação. Há anos, o poder público tem acumulado assistencialismo. Temos uma geração sem ambição", provoca.
O Simecs também trabalha, em conjunto com Senai, Sebrae e Instituto Hélice, na capacitação do setor empresarial, em especial dos pequenos e médios negócios, a maioria de formação familiar e sem a presença de executivos experientes. "Estas organizações enfrentam problemas de organização, especialmente financeira. Isto compromete o crescimento e dificulta a tomada de decisões diante das rápidas transformações que o mercado exige", pondera.
Norma Euro 6 pode impactar no segmento de carroçarias de ônibus
Setor projeta que maior volume de compras deva ficar para o segundo semestre de 2023
CLAITON DORNELLES /JC
Após dois anos de quedas fortes, de 27% e 25%, derrubando a produção para 12,3 mil unidades, as fabricantes de carroçarias de ônibus ganharam fôlego em 2022, com alta estimada em 60%. A expectativa do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, Rubens Bisi, também executivo da Marcopolo, é de que o ano feche com produção de 19,3 mil a 19,5 mil unidades, das quais 4 mil devem ser exportadas. Segundo o dirigente, o ano foi de recuperação de produção, mas não de rentabilidade. Citou o aumento exagerado nos preços dos insumos, bem como a sua falta, e a dificuldade em repassar para os clientes.
Para 2023, Bisi estima que a produção total ficará de 7% a 10% menor. O mercado interno tem recuo projetado de 10% e o externo entre 5% a 7%. Na avaliação do dirigente, a causa principal é a adoção no Brasil de nova motorização com a norma Euro 6, o que trará aumento de custos ao setor, ainda debilitado financeiramente.
Bisi destaca que os transportadores até tentaram antecipar compras, mas não encontraram oferta suficiente de chassis. "Agora, o mercado tende a se retrair em razão da indefinição da política econômica do novo governo e para avaliar o real benefício da norma Euro 6 na redução do consumo de combustível, com projeções que variam de 3% a 10%, enquanto o custo do produto deve subir até 30%.
Por isso, o maior volume de compras deve ficar para o segundo semestre", avalia. O dirigente demonstra preocupação com o custo do financiamento, considerando a taxa Selic elevada e a falta de programas de estímulos ao setor. Como fatores positivos para o ano elenca o PIB mais robusto, repercutindo em aumento do trabalho formal e, este, no transporte de passageiros, gerando mais receita ao setor. Ainda cita os contratos já fechados de R$ 100 bilhões para obras de infraestrutura em razão das privatizações, o que oportuniza negócios para o fretamento, bem como o turismo ativo e as exportações ganhando maior fôlego, com a reorganização dos mercados. Bisi acredita que o programa Caminho da Escola terá continuidade por ter sido criado em governo anterior do PT, garantindo bons volumes para micro-ônibus.
Em razão da pandemia, prefeituras estenderam as concessões dos contratos do transporte urbano, prazo que já se encerrou e que agora exige renovação de frota. "A idade média dos ônibus está mais alta, o que repercute em aumento de consumo de combustível e manutenções mais frequentes, elevando o custo operacional", alerta.
Implementadoras esperam estabilidade
Após quatro exercícios consecutivos de crescimento, passando de 60,5 mil emplacamentos, em 2018, para 162,7 mil em 2021, o mercado de implementos rodoviários deve manter volumes equilibrados em 2023 na comparação com 2022. A expectativa da Associação Nacional de Implementos Rodoviários é que sejam entregues entre 155 mil a 160 mil equipamentos. "Seria muito bom repetir o resultado de 2022, considerando a estimativa de queda de 10% na produção de caminhões", externou o presidente José Carlos Spricigo.
O recuo é esperado em razão do aumento de preços como decorrência do ingresso da motorização Euro VI. A expectativa de manutenção de números positivos em 2022 também se deve ao movimento dos clientes em adiar as compras, no mês de outubro, para aguardar a chegada das novidades da Fenatran, feira realizada em novembro. A queda foi superior a 10%. "É possível que as compras adiadas se concretizem ao longo de 2023."
A repetição do resultado está fortemente vinculada aos resultados positivos do setor na feira, gerando expectativa de vendas na ordem de R$ 3,5 bilhões no mercado interno. As projeções também consideram a continuidade do desempenho positivo do agronegócio, responsável por 70% do faturamento da indústria. Outra contribuição deve vir do consumo interno com a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600. Também é aguardada uma melhora no mercado de exportações, o qual tem oscilado muito nos últimos anos. Em três ações de participação em feiras, o setor computou vendas possíveis na ordem de US$ 30 milhões.