Em uma disputa de futebol, há quem diga que os 15 primeiros minutos são determinantes para projetar como será o restante da partida. Situação similar é o que o setor industrial espera para 2023. Com a mudança do governo federal, o primeiro semestre do próximo ano será determinante para a projeção do futuro do segmento.
"Vai ter uns seis meses de entendimento (da situação)", antecipa o economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes. Apesar das incertezas, as projeções da entidade são de crescimento.
Para o Brasil, a expectativa é de um incremento de 1% do PIB para o próximo ano e no Rio Grande do Sul, a alta deve ser de 5%. Particularmente quanto ao Produto Interno Bruto Real da indústria nacional, a evolução deverá ser também de 1%, e da gaúcha na ordem de 1,2%.
"A indústria pensa em produzir e gerar empregos", afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, Gilberto Petry. Ele espera que o governo não crie empecilhos para o setor. Uma das pautas que o dirigente deseja que seja abordada em 2023 é a da reindustrialização do País. " O setor vem perdendo participação (na economia)", alerta Petry. Ele compara com o desempenho da agropecuária, que vem crescendo muito nos últimos anos.
A respeito do Rio Grande do Sul, o presidente da Fiergs defende que o Estado precisa concentrar esforços no sentido de atrair mais investimentos.
Já o economista-chefe da entidade acrescenta que, no caso do Brasil, a questão da liderança verde (práticas sustentáveis) e a sua estabilidade geopolítica atraem a atenção do mundo para o País. Essa condição é reforçada pelo cenário internacional. "A gente vê que o problema de energia vai persistir na Europa nos próximos anos", aponta Nunes.
A Fiergs projeta que o crescimento esperado para 2023 no Brasil terá como obstáculo a tendência de acomodação no avanço do volume de serviços. Para a economia do Rio Grande do Sul, a recuperação da produção agrícola deve implicar uma taxa de crescimento elevada. O aumento estimado na produção da safra de grãos é de 52,5%, conforme prognóstico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já as perspectivas para a indústria não são muito diferentes de 2022. A produção industrial deve ter mais um ano de crescimento, embora menor. Tendo como únicos vetores positivos a normalização completa da cadeia de suprimentos e menores pressões sobre os custos. A indicação de baixo crescimento mundial, com reflexo nos preços de commodities, e o prognóstico de uma boa safra no ano que vem, favorecem os níveis de inflação no Brasil, que deverá encerrar 2023 em 5,2%.
Quanto a empregos, a geração de postos de trabalho tende a diminuir o ritmo no próximo ano, com projeção de abertura de 550 mil vagas com carteira assinada no País. No Rio Grande do Sul, espera-se a criação de 38 mil empregos, sendo 12 mil no segmento industrial. O saldo de vagas formais deve ser mais baixo do que nos anos anteriores em decorrência do menor crescimento esperado para a indústria e serviços, setores que, historicamente, concentram a abertura de empregos no Estado.
Segmento de calçados terá desempenho superior ao do PIB
Ferreira prevê avanço de 1,6%
/ABICALÇADOS/DIVULGAÇÃO/JC
Uma área da indústria nacional que deverá registrar no próximo ano um resultado melhor do que o geral da economia do País é a calçadista. O presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, informa que para 2022 a perspectiva é confirmar um crescimento de 3%, em relação ao ano anterior, o que representará uma produção de aproximadamente 844 milhões de pares. Já para 2023, a expectativa é de um incremento de 1,6%, chegando a 857 milhões de pares de calçados.
No entanto, Ferreira admite que é difícil fazer projeções para o próximo ano, pois com a mudança de governo pode ocorrer uma surpresa positiva ou negativa. "Mas a gente sabe que, independentemente de alterações de governo, a economia como um todo tem um comportamento que é reflexo do que acontece internacionalmente", argumenta.
Sobre o cenário político brasileiro para 2023, o presidente da Abicalçados prevê que o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva será distinto das suas duas primeiras gestões (2003-2006 e 2007-2010). "O País está diferente, o mundo está diferente", frisa Ferreira. Ele espera que o presidente da República consiga manter o crescimento da economia e também defende que há a necessidade da reindustrialização do Brasil para gerar emprego e renda. Ferreira considera ainda que será preciso realizar reformas como a tributária e a administrativa.
Quanto ao panorama no exterior, ele teme que a guerra entre Rússia e Ucrânia não tenha fim muito em breve. No entanto, o dirigente espera que, pelo menos, o conflito não tome maiores proporções. Já quanto a eventuais novas dificuldades com a Covid-19, o dirigente diz ser uma incógnita. "O que sempre afeta o Ocidente é o problema da China em abrir e fechar suas atividades, isso impacta todo o fluxo internacional de insumos para as cadeias produtivas", argumenta. Contudo, o presidente da Abicalçados não projeta o ressurgimento de surtos tão intensos da pandemia, como ocorreu no passado.
Setor petroquímico deve confirmar venda da Braskem
Se o ditado "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" estiver correto, em 2023 a petroquímica nacional deve ver concretizada a alienação da principal empresa do segmento no País: a Braskem. Essa expectativa já ocorreu em outras ocasiões, entretanto, dessa vez o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Gerson Haas, aposta que realmente vai acontecer.
Ele argumenta que a troca de presidentes da empresa, saindo Roberto Simões, a partir de janeiro, e entrando Roberto Bischoff, é justamente para a missão de vender a companhia. Sobre a cadeia do plástico de uma forma em geral, o presidente do Sinplast-RS destaca que hoje os empreendedores estão segurando um pouco os investimentos (devido às dúvidas que são geradas durante uma troca de gestão no governo federal). "Mas isso é por mais dois ou três meses, até o período do Carnaval, como normalmente ocorre. Depois o pessoal vai se acostumar e ver que não vai dar uma guinada de forma que possa prejudicar o mercado, até porque o novo governante não quer isso", comenta o dirigente. Haas reforça que, qualquer governo que seja, "está todo mundo no mesmo avião, se o piloto cair, todos caem juntos". Para o representante do Sinplast-RS, a confirmação de Fernando Haddad como ministro da Fazenda indica que o próprio Lula pretende ter uma ingerência mais forte sobre a pasta. "A economia vai crescer no ano que vem", prevê Haas. Um fator que pode atrapalhar as projeções seria uma nova onda de pandemia de coronavírus. Haas revela, ainda, que o Sinplast-RS monitora os produtos plásticos que proveem de fora do Estado.