Está escrito em lei federal: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo, são responsáveis pelo resíduo gerado. O resíduo de que trata a lei é o que chamamos de lixo. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, definida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevê atribuições a todos que se relacionam com um material, desde a sua geração até o descarte.
Isso vale, conforme diz a lei, "para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrente do ciclo de vida dos produtos". No entanto, o descarte do "lixo" nas cidades nos mostra que parte da responsabilidade é descumprida em uma das pontas do ciclo: a do indivíduo, que deveria, em casa ou no ambiente de trabalho, separar os resíduos antes de descartar para a coleta feita pela prefeitura.
A ideia que muitas vezes prevalece é a de comparação nivelada por baixo: por que fazer a minha parte se as outras pessoas não fazem a sua? Mas acredite, a ação individual faz sim diferença. Separar o "lixo seco" do "lixo molhado" é a condição para que as embalagens possam ser encaminhadas para a reciclagem, o que não acontece quando elas estão misturadas com os restos de alimento ou papel higiênico usado.
Fazer essa separação é o primeiro passo rumo à reciclagem. O segundo é garantir que o seu lixo seja recolhido pela coleta seletiva e chegue a um lugar comprometido em encaminhar os resíduos para a reciclagem, que pode ser uma cooperativa de catadores ou um ecoponto.
Separação em 4 partes
Dá para ir além de separar o “lixo seco” do “lixo molhado”. Para avançar na sua própria gestão de resíduos, a orientação é fazer a separação em quatro partes:
Reciclável
É o material “seco”, usado para as embalagens em geral (papel, plástico, alumínio, vidro…). Estes são encaminhados para unidades de triagem, onde são separados por tipos, e de lá são encaminhados para as empresas que fazem o reaproveitamento, transformando o que era lixo em novos produtos. O destino ideal dos recicláveis é primeiro a unidade triagem e depois a indústria para o reaproveitamento.
* Quer ir além? Então comece a fazer a segregação pelo tipo de material das embalagens. Isso porque cada tipo de resíduo tem um processo próprio de reciclagem. Separar em casa facilita o trabalho em outras etapas do ciclo.
Orgânico
É o lixo "molhado" de cozinha – restos de alimentos em geral. Pela decomposição natural, pode ser reaproveitado como adubo para o solo. O nome desse processo é compostagem. O destino ideal dos orgânicos é a composteira (em casa) e as hortas, que podem ser em casa ou comunitárias.
* Não quer fazer a compostagem em casa e não tem como levar a sobra dos alimentos para uma horta? Em muitas cidades existem clubes de compostagem que recolhem o resíduo orgânico em casa. Confere se existe algum perto de você!
Especiais e perigosos
São os eletrônicos em geral, pilhas, baterias, lâmpadas quebradas ou vencidas, além de pneus, medicamentos (a embalagem também) e resto de produtos químicos. Esses materiais contêm substâncias que podem contaminar o solo ou os outros materiais que tiverem contato com elas. O destino destes materiais especiais são os pontos de coleta especializados, para que voltem para o fabricante, que deve tratar e dar a eles o destino adequado.
* Supermercados e farmácias costumam receber alguns desses materiais.
Rejeito
É o que não pode ser usado como adubo nem reciclado, seja pela falta de tecnologia ou pelo alto custo do processo. Em casa é o lixo do banheiro (papel higiênico, fio dental, fraldas e absorventes) e o que é varrido do chão. Guardanapos usados, adesivos, etiquetas também não são recicláveis. O destino do rejeito é o aterro sanitário.
Caminho do lixo
O material que descartamos como lixo passa por alguns processos e muitas mãos assim que sai da nossa casa ou empresa. O reciclável é recolhido pelo gari e colocado no caminhão da coleta seletiva, entregue a uma unidade de triagem e separado pelos catadores por tipo de material. Somente depois disso será encaminhado para a indústria que fará a reciclagem. O rejeito é recolhido pelo gari ou por um caminhão automatizado e vai para o aterro sanitário. Em muitas cidades, o resíduo orgânico também vai para o aterro sanitário.
Lavo ou não lavo?
Limpar a embalagem que será destinada para a coleta seletiva não é uma obrigação, mas é uma boa prática. Leva alguns dias do momento em que o lixo sai da nossa casa e chega na indústria que fará a reciclagem. Caso o resíduo descartado tenha restos de alimento, poderá atrair animais como ratos e baratas, o que é prejudicial para a saúde de quem trabalha nessa cadeia produtiva.
Estou em dúvida, o que fazer?
Você se deparou com algum material e não sabe se ele pode ou não ser reciclado? Coloque em um saco de papel ou plástico e encaminhe a uma cooperativa de catadores ou a um ecoponto. Os profissionais que lidam diariamente com resíduos saberão que destino dar.
O que são os 3 "R" da sustentabilidade
Há bastante tempo difundido, o conceito dos 3 "R" no cuidado com o meio ambiente trata diretamente da nossa relação com o lixo e define que o consumo consciente deve passar pelas seguintes atitudes:
Reduzir o consumo no geral e, em especial, de embalagens descartáveis: vale trocar a sacola plástica do supermercado por uma sacola de pano, que poderá ser usada mais de uma vez.
Reutilizar o resíduo que já foi gerado: sabe o copo promocional que você ganhou em algum evento? Dá para levar ao local de trabalho e usar para tomar água ou café. Isso vai diminuir o uso dos copinhos plásticos descartáveis.
Reciclar: vale para todo resíduo que foi gerado, mas não tem mais como ser reaproveitado. Mas, para ser reciclado, tem que encaminhar para a reciclagem!
Reciclável nem sempre é reciclado
Quando colocamos uma embalagem no lixo seco, acreditamos que aquele material será reciclado. Mas nem sempre é isso que acontece: um material, mesmo reciclável, nem sempre é, de fato, reciclado. Alguns motivos são a dificuldade de encaminhar para a reciclagem, a falta de tecnologia para reciclar ou a contaminação do lixo seco que esteve em contato com o rejeito ou o orgânico. Por isso é que separar o lixo é tão importante. Encaminhar para as unidades de triagem somente o que pode ser reciclado aumenta a chance de que o produto descartado tenha o destino adequado e seja reciclado.
Não é lixo, é resíduo!
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS - lei n° 12.305/2010) não cita nenhuma vez a palavra "lixo". Mas, se não é lixo, então o que é? A lei apresenta uma definição para o conceito de "resíduo": é aquele material que, depois do seu uso, pode ter outro aproveitamento por meio do reuso ou da reciclagem.
Logística reversa
Um conceito importante quando o assunto é reciclagem é a logística reversa. Para entender, basta pensar no caminho que um produto trilha desde a sua produção até chegar ao consumidor: extração da matéria prima, fabricação, distribuição, venda e entrega ao consumidor. A logística reversa faz o caminho de volta e devolve o resíduo (uma embalagem plástica, por exemplo) para a ponta inicial da cadeia produtiva. Isso reduz o impacto ambiental, pois os materiais reciclados voltam para o setor produtivo, deixam de poluir o meio ambiente e reduzem a extração de matéria prima da natureza.
Dia Nacional da Reciclagem
5 de junho também é o Dia Nacional da Reciclagem. A data, instituída no Brasil por lei de 2009, tem como objetivo "conscientizar toda a sociedade sobre a importância da coleta, separação e destinação de materiais recicláveis". A escolha da data, celebrada junto do Dia Mundial do Meio Ambiente, não é coincidência, afinal, existe relação entre a destinação correta dos resíduos (encaminhando para a reciclagem o que pode ser reaproveitado) e a preservação ambiental.