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JC 90 anos: Do sonho de Jenor Jarros nasce um novo jornal
Ícone da imprensa gaúcha, Jenor Cardoso Jarros tomou um empréstimo e fundou o Consultor do Comércio
A sigla JC remete ao Jornal do Comércio e às iniciais do fundador da publicação, Jenor Cardoso Jarros. Não por acaso, a empresa que publica o diário de economia e negócios do Rio Grande do Sul se chama Empresa Jornalística J. C. Jarros. As histórias do jornal e do homem se confundem: o respeitável tabloide de páginas coloridas que, aos 90 anos, publica diariamente centenas de notícias nasceu de um sonho de Jenor: ter seu próprio negócio e ser editor de um jornal.
Com pouco mais de 20 anos, decidiu criar um boletim informativo do comércio em Porto Alegre, cidade que em 1933 tinha 300 mil habitantes. O País era comandado por Getúlio Vargas, e o mundo ainda sentia os efeitos da crise internacional com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929.
Mas o jovem estava decidido a levar adiante seu empreendimento. Tomou um empréstimo, comprou uma velha máquina de escrever Remington, um mimeógrafo usado e alugou uma apertada salinha na rua General Câmara, nº 28.
Nascia o Consultor do Comércio, periódico que informava aos atacadistas da época a entrada de produtos coloniais na Capital e o movimento de vapores no porto, como eram chamados os grandes navios cargueiros.
Jenor Jarros tinha força de vontade e conhecimentos adquiridos quando trabalhou para Alencastro Antunes, que também editara um boletim - os assinantes depois foram herdados pelo Consultor do Comércio.
Ele contava ainda com dois colaboradores decisivos para o sucesso da empreitada: sua noiva Zaida e o amigo Ismael Varella - ambos, aliás, seguiram no Jornal do Comércio após a morte do fundador, décadas mais tarde.
Nos anos 1930, Zaida era uma jovem professora que, à noite, depois do expediente, revisava a soma dos números colhidos ao longo do dia para que fossem datilografados corretamente ainda na manhã seguinte bem cedo, passados no mimeógrafo e distribuídos aos assinantes do boletim. Varella era o braço direito de Jenor.
Assim, o pequeno grupo fazia todas as tarefas necessárias à circulação do boletim. "Aquele homem que, ainda no verdor dos anos, percorria a cidade com um maço de jornais debaixo do braço... Poucos sabiam que aquele homem solitário carregava muito mais do que um simples pacote de jornais: ele carregava um tesouro. Estava vivendo o sonho de um jornal, que já estava nascendo, como modesto boletim", descreve o jurista Francisco Talaia O'Donnell, contemporâneo de Jenor Jarros e depois colaborador do jornal.
As poucas páginas impressas em formato de jornal foram crescendo e conquistando assinantes no Rio Grande do Sul. "Jenor Jarros costumava dizer que ele era tudo no jornal: editor, diretor, entregador e faxineiro. Poucos são os que poderão dar testemunho de como foi árdua e difícil a caminhada inicial que transformou em realidade o grande sonho do fundador do Jornal do Comércio. Fica aqui o testemunho de um grande admirador da obra que viu nascer e crescer. Alguns, quando viam Jenor sobraçando seu jornal, comentavam mais ou menos assim: 'Coitado do Jarros, perdendo seu tempo numa luta inglória, com esse jornal que jamais poderá crescer, pois ele não tem capital, não tem máquinas, não tem nem sede. É mais uma iniciativa que morre na praia'. Estes não imaginavam que, além do jornal, ele carregava algo mais, um sonho, grande sonho que o conduzia", conta O'Donnell, em artigo no livro Jornal do Comércio 60 anos, do jornalista Homero Guerreiro.
Do mimeógrafo à impressão em cores
A evolução editorial do Jornal do Comércio ao longo de nove décadas foi acompanhada pela modernização de sua impressão. No início, um mimeógrafo adquirido por Jenor Cardoso Jarros em 1933 garantir a impressão do boletim Consultor do Commercio.
Na década de 1940, pequenas impressoras passaram a ser usadas no trabalho. Eram complicadas de operar e frágeis — receberam dos funcionários os apelidos de "Mimosa" e "Dengosa".
O ano de 1953 marca um novo formato do então Consultor do Comércio e também a aquisição de uma impressora meia-folha, a Mercedes Original Glockner. A máquina, que exigia uma preparação com linotipos e uso de chumbo, foi utilizada até 1970. Nesse ano, em 9 de novembro, o Jornal do Comércio passou a imprimir em offset.
Uma máquina Goss Community havia sido encomendada por Jenor Cardoso Jarros, que não pôde acompanhar sua operação, pois faleceu em 1969. A estreia em offset foi alvo de grande expectativa, que culminou com uma festa, com direito a desfile da máquina em veículos identificados e presença de autoridades na primeira impressão.
Adaptada, a rotativa segue em uso até hoje. Mas o parque gráfico foi muito modernizado de lá para cá, especialmente depois dos anos 1990.
A primeira edição com capa e contracapa coloridas saiu 25 de outubro de 1999. Com novas máquinas adquiridas, o Jornal do Comércio passou a ser impresso totalmente a cores nos anos 2000. Com investimentos em tecnologia e maquinário, o JC conseguiu uma ótima qualidade em sua impressão, performance que é mantida até os dias atuais.