Guilherme Kolling, de Hannover
A
delegação brasileira em Hannover trocou o metrô pelo ônibus na manhã desta terça-feira (31). É que ao invés de ir à feira de tecnologia industrial, o grupo madrugou para viajar até a cidade de Bremen, a duas horas de distância, para visitar a fábrica da Mercedes-Benz, no norte da Alemanha.
Trata-se da segunda mais importante planta da montadora alemã, onde são produzidos 11 modelos de automóveis. Além de conhecer in loco o espaço em que são feitos carros sofisticados de uma marca reconhecida no cenário automotivo mundial, a manhã na unidade da Mercedes foi uma experiência para ver, na prática e em grande escala, o que mostram os protótipos exibidos na Feira de Hannover.
Fabricação sob demanda, aproveitamento de insumos ao máximo, automação e controle, inteligência artificial e robôs na linha de produção, tudo isso pode ser conferido na prática na planta da Mercedes. A fábrica de Bremen produz 400 mil veículos por ano em um complexo industrial com 13 mil funcionários.
Mais do que os números superlativos, impressiona o fato de o trabalho ser feito para diferentes modelos de veículos, com uso de variados tipos de combustíveis – gasolina, híbrido, gás natural veicular e elétrico – e formatos também distintos (SUVs, esportivos, sedãs e cupês), além de direção do lado esquerdo ou direito. Tudo isso em linhas de montagem que vão se adaptando conforme o formato requerido.
A Mercedes faz o carro exatamente de acordo com o pedido do cliente. De uma certa forma, é um processo individual, isto é, ao invés de o carro ser fabricado para depois ser vendido, a montadora produz o que foi demandado: determinado modelo com acessórios específicos – incluindo tipo de pneu, determinada cor etc., sendo feitos de forma intercalada.
A reportagem do Jornal do Comércio acompanhou a visita guiada à fábrica, passando por diversas linhas de produção – em nenhuma delas era permitido fazer imagens, proibição comum em montadoras para roteiros como esse, por questões de segredo industrial.
Executivos gaúchos – e de outros estados como Santa Catarina e Goiás, que também integram a delegação brasileira – ficaram impressionados com a rapidez de adaptação nos processos e formas, mesmo com maquinário pesado, como prensas que fazem os moldes das carrocerias de futuras Mercedes. Boa parte das perguntas dos empresários ao representante da montadora alemã que guiou a visita foram nesse sentido, sobre como era feito o controle e como era possível ter aquela rapidez para ir se adaptando conforme o produto.
Muita coisa é executada por
robôs e inteligência artificial. Logo no início do roteiro, no primeiro pavilhão do processo de fabricação, um portão se abriu automaticamente e um carrinho, controlado por sensores, levou uma pilha de chapas de aço que seriam prensadas ao seu destino. Tudo sem nenhum humano por perto. Depois, tetos de vidro eram instalados e ajustados milimetricamente também por robôs.
Nas linhas de produção mais avançadas, essas sim repletas de funcionários, as máquinas também trabalham, checando com precisão, por exemplo, se as frestas nas aberturas do carro estão corretas. Só existem dois vereditos, explicou o guia: ou está perfeita ou está errada. Há também controle de qualidade por trabalhadores, mas até nesses casos, a triagem é feita por máquinas, que apontam a qualidade de cada peça em telões – a sintonia fina de alguns detalhes é checada por humanos.
Se o grande nível de automação e a alta tecnologia utilizada permitem à Mercedes definir o número exato de peças e automóveis que planeja produzir a cada turno, um fator externo impede que a companhia mantenha suas metas de fabricação: a escassez de insumos, como chips para automóveis, em função de um contexto de guerra na Ucrânia e lockdown em parte da China.
Atualmente, clientes da Mercedes na Alemanha precisam esperar um ano para receber o veículo encomendado – o carro pode ser retirado na própria fábrica de Bremen. A planta tem 75% da sua produção exportada para 200 países, inclusive o Brasil, e é referência para modelos como Classe C e GLC. Um carro leva três dias e meio para ser feito, do início ao fim. Modelos conversíveis tomam quatro dias e meio de trabalho. A planta produz ainda as linhas Classe E, SL e os modelos EQC e EQE (ambos elétricos).
Apesar da excelência da fábrica no norte alemão, os novos protótipos e veículos Mercedes são desenvolvidos na matriz, cuja fábrica fica em Sttutgart, sul da Alemanha.