Guilherme Kolling, de HannoverO anúncio de
tarifas para as importações dos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump na quarta-feira (2) causou reações em todo mundo. Na União Europeia (UE), que será tarifada em 20%, a contrariedade ao protecionismo de Trump estava latente já antes da oficialização da medida, quando o tarifaço ainda estava nos discursos e promessas.
Em Hannover, que sedia a maior feira de tecnologia industrial do mundo e reúne dirigentes e executivos de grandes empresas, além de representantes governamentais da área de comércio exterior de diversos países, o tema está presente todos os dias, desde domingo (30 de março), quando ocorreu a cerimônia de abertura.
Na oportunidade, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz – que está de saída do cargo, com a formação de um novo governo no país –,
foi duro em seu discurso, em que se sobressaíram críticas ao governo Trump, tanto do ponto de vista comercial, quanto de política externa e defesa.
Fez críticas ao isolacionismo e a barreiras ao livre mercado. E disse que a União Europeia é parceira, mas saberá reagir, caso os Estados Unidos não deixem outra opção. Com a formalização da taxa de 20% a produtos da UE, a reação virá.
No domingo, Scholz ainda tinha dito que o remédio a medidas isolacionistas é mais livre mercado, defendendo a importância de ampliar pactos comerciais pelo mundo. Nesse cenário, o acordo União Europeia-Mercosul volta a ganhar força.
Cabe lembrar que, em 2023, após a pandemia, período em que o mundo sentiu o impacto da dependência de matérias-primas da China, Scholz havia citado o acordo com o Mercosul como uma das medidas que a Europa deveria avançar, para não depender tanto do gigante asiático.
Dois anos depois, agora com o cerco tarifário se fechando por parte dos Estados Unidos, o tema volta a ganhar força e
Scholz, mais uma vez na abertura da Feira de Hannover, manifestou o desejo de que o acordo com o Mercosul seja ratificado logo.
Nos debates realizados nos primeiros dias do evento na Alemanha, o tema esteve presente, especialmente com a confirmação de que o Brasil será o país parceiro da feira em 2026. A escolha sempre tem também um caráter político, como ficou demonstrado na afinidade Canadá-Alemanha na edição deste ano – ambos estão em conflito em relação a medidas de Trump, sentem-se ameaçados e mostram um alinhamento.
Assim, para o próximo ano, além de aproximar as indústrias brasileiras e alemãs, a fim de promover desenvolvimento conjunto, também está na agenda que, até o início da próxima edição de Hannover, em abril de 2026, o acordo UE–Mercosul esteja ratificado.
Em reunião na terça-feira com o presidente da Fiergs, Claudio Bier, sobre os
preparativos para o Brasil no próximo ano, o presidente da Deutsche Messe – empresa organizadora da feira –, Jochen Köckler, afirmou ter informações de integrantes do Parlamento Europeu, de que o acordo será destravado, confirmando a expectativa de ter esse trunfo simbólico até Hannover 2026.
A mesma percepção foi manifestada por Mark Heinzel, diretor para Américas da Câmara Alemã de Comércio e Indústria na segunda-feira, durante um painel sobre investimentos e negócios no Mercosul, no primeiro dia da Feira de Hannover 2025.
Há consenso de que a resistência maior está na importação de produtos agrícolas do Mercosul. Na Alemanha, apesar de ser contestado por produtores, já há um entendimento de que a parceria entre os blocos é uma questão maior, e que será necessário ceder neste aspecto. A França ainda está bloqueando o acordo, mas o entendimento é que poderá ceder em uma nova negociação, com maior pressão da Alemanha.
“A Alemanha está preparada a pagar um preço, porque é necessário fazer acomodações internas em um acordo como esse (Mercosul-União Europeia)”, observa o embaixador do Brasil na Alemanha, o experiente diplomata Roberto Jaguaribe.
Integrante da Câmara de Comércio Exterior do Parlamento Europeu, Bernd Lange – que também participou de painel sobre o Mercosul no início da Feira de Hannover –, observou que um dos questionamentos dos franceses é o desmatamento da Amazônia. Entretanto, avaliou que é possível superar a contrariedade dos franceses. “Nós (europeus) não somos mestres do universo. Precisamos de parceiros para promover mudanças sustentáveis”, admitiu, defendendo também que finalmente saia o acordo com o Mercosul.