Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 24 de Abril de 2024 às 13:02

CEO da Siemens elogia Eduardo Leite e vê possibilidade de projeto no RS

CEO da Siemens Brasil, Pablo Fava concedeu entrevista ao JC na Feira de Hannover

CEO da Siemens Brasil, Pablo Fava concedeu entrevista ao JC na Feira de Hannover

Guilherme Kolling/Especial/JC
Compartilhe:
Guilherme Kolling
Guilherme Kolling Editor-chefe
De Hannover, AlemanhaA rápida agenda do governador Eduardo Leite na Feira de Hannover incluiu uma visita guiada ao estande da gigante alemã Siemens na segunda-feira (22). O local, no Pavilhão 9 do complexo, é o mais movimentado da feira neste ano. O chefe do Executivo gaúcho e sua comitiva tiveram um guia de luxo, o CEO da Siemens Brasil, Pablo Fava, que ao longo de uma hora apresentou as principais novidades e conceitos de tecnologia industrial que estão na vitrine de Hannover, passando por Inteligência Artificial, operação autônoma de robôs, modelos gêmeos digitais, automação, conectividade e sustentabilidade.
De Hannover, Alemanha

A rápida agenda do governador Eduardo Leite na Feira de Hannover incluiu uma visita guiada ao estande da gigante alemã Siemens na segunda-feira (22). O local, no Pavilhão 9 do complexo, é o mais movimentado da feira neste ano. O chefe do Executivo gaúcho e sua comitiva tiveram um guia de luxo, o CEO da Siemens Brasil, Pablo Fava, que ao longo de uma hora apresentou as principais novidades e conceitos de tecnologia industrial que estão na vitrine de Hannover, passando por Inteligência Artificial, operação autônoma de robôs, modelos gêmeos digitais, automação, conectividade e sustentabilidade.
• LEIA TAMBÉM: Eduardo Leite ressalta diferencial de projeto de hidrogênio verde no RS

Fava pôde conversar alguns minutos com o governador, em um breve intervalo antes do compromisso seguinte da delegação gaúcha e fez elogios a Eduardo Leite ao comentar o encontro. “O governador está muito interessado em (ver) o que o Rio Grande do Sul pode fazer para atrair mais investimentos para o Estado. E eu acho que essa é a postura adequada”, afirmou o dirigente da Siemens Brasil.

Questionado sobre projetos da empresa para o Rio Grande do Sul, o executivo, embora tenha ressalvado que não há nada concreto, vê possibilidade de “construir algum projeto junto com o Estado” no futuro. Vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK em São Paulo), ele cita, ainda, a proximidade cultural com o Rio Grande do Sul.
• LEIA TAMBÉM: Gigantes da indústria mostram como dados e meio digital melhoram performance

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, concedida durante visita da reportagem ao estande da Siemens, no dia seguinte à agenda do governador, Fava faz uma análise das inovações apresentadas na Feira de Hannover e explica o propósito de atuação da multinacional nesse momento de transformação da economia.


Jornal do Comércio – Entre as empresas alemãs na Feira de Hannover, o estande da Siemens é o que mais desperta atenção do público. E aqui também é perceptível essa mudança que houve na feira: antes a atração era um braço de robô operando; agora é o robô e o gêmeo digital. Está ocorrendo essa transformação de foco, da máquina para a inovação?

Pablo Fava – A máquina sempre é necessária. O que a Siemens está apresentando aqui é o mundo físico e o mundo virtual. O mundo digital, cada vez mais, nos entrega valor para ser implementado dentro do mundo físico nas mais diversas perspectivas. O gêmeo digital já tem o seu tempo, os sistemas de automação já têm o seu tempo, só que tudo tem uma evolução. E hoje a Inteligência Artificial Generativa implementada em vários aspectos do que a gente vê – desde a energia ou no desenho de um produto, no desenho de uma planta, em uma predição de manutenção, em um controle de qualidade – gera muitas novidades, muita disrupção em como as coisas devem ser feitas. Nos ajuda a ser mais rápidos, mais eficientes e, principalmente, mais sustentáveis em uma produção industrial. Então, o que nós (Siemens) fazemos é combinar o mundo físico e o mundo digital. A combinação dos dois começa a gerar valores que até agora era impossível gerar. Sabe a disrupção das novas revoluções industriais? Ainda falamos na 4.0, na 5.0, seja o que for, é uma evolução mais do que uma revolução.

JC – Mas dá para dizer que, no passado, a Siemens era mais produtora de equipamentos e hoje está mais digital?

Fava – A Siemens sempre foi uma empresa de tecnologia e hoje nosso foco é isso: combinar o real – o mundo físico –, que nos entrega dados, e com esses dados nós construímos muitas outras formas de construir valor.

JC – No tema da Inteligência Artificial, vemos uma preocupação muito grande de substituição de pessoas por máquinas no trabalho. E a necessidade de cada vez mais aprendizado. Entretanto, em diversos estandes em Hannover, inclusive aqui na Siemens, vemos como a Inteligência Artificial pode ajudar o operador da máquina...

Fava – É isso mesmo. São várias aplicações. A máquina e a Inteligência (Artificial) ajudam. O que precisamos é capacitar as pessoas para o uso dessas inteligências. São funções das mais diversas, por exemplo, uso de Inteligência (Artificial) para predizer que alguma parte de uma máquina pode ter uma falha em um tempo determinado. E você atuar antes que isso aconteça. Não preventivamente, mas preditivamente, predizer o que vai acontecer. Outra, Inteligência Artificial aplicada à imagem, através de imagem você consegue fazer o controle de qualidade de um produto acabado. Ou, por exemplo, através do metaverso industrial, que é a confluência de gêmeos digitais com Inteligência Artificial em ambientes muito mais imersivos, você consegue criar imagens sintéticas, a partir do metaverso industrial, para que com essas imagens sintéticas você treine a Inteligência Artificial.

JC – E a vantagem de um protótipo digital ao invés de começar do zero no físico, ter que fazer e refazer... Essas ferramentas também ajudam?

Fava – Com certeza, isso já vem desde as fases do gêmeo digital mesmo, então, você evita falhas, antecipa problemas que vai ter, faz isso muito mais rápido, e consegue simular o que quiser hoje. Todas as condições físicas podem ser explicadas por uma fórmula matemática. “Ah, vai ter aquecimento em um componente”, aquecimento em uma placa eletrônica ou vibração, eu consigo simular, o que seja no meio físico é possível simular no mundo virtual e tirar conclusões antes de fazer o modelo físico.

JC – Esses avanços digitais também trazem precisão, evitam gastos. Assim, dá para dizer que também garantem avanços em sustentabilidade?

Fava – Tudo o que você evita de gasto, consegue ser mais eficiente em uma produção, automaticamente vai ser mais sustentável. Por quê? Vai reduzir gasto de energia, recursos, e aí tem uma infinidade de possibilidades. Por exemplo, impressão 3D, conseguiria fazer uma mesma peça e nessa modelagem você usa menos material...

JC – Ou customizar como uma montadora de carros, que consegue fazer vários modelos de veículos em uma mesma linha de montagem...

Fava – Exatamente. E você consegue ter a análise da quantidade de energia aplicada em cada parte da produção, a partir dessa análise consegue tirar oportunidades para reduzir esse consumo de energia, ter maior eficiência. Sempre no mundo virtual, digital, isso é muito mais fácil. Você pode fazer isso do lado de sua produção, e consegue tirar conclusões no lugar. Ou coloca essa informação na nuvem, nos servidores, e faz uma análise muito maior. Hoje conectividade é muito necessária, tem disrupção até nas cadeias de produção. Poderia ter cadeias, por exemplo, com AGVs (Automated Guided Vehicle, na sigla em inglês – veículos autônomos, em tradução livre), que se movimentam dentro da planta (industrial), escolhem o produto, que fase da produção deveriam fazer dentro da planta. Isso cria novas oportunidades para ganho de eficiência, desde que seja testado, simulado, que funcionaria melhor de outra forma. Mas essa simulação – não uma simulação física, mas uma modelagem virtual – nos dá uma eficiência muito maior.

JC – Quantas unidades a Siemens tem hoje no Brasil e qual é o foco?

Fava – No Brasil temos 10 escritórios de vendas, 3 fábricas – uma em Santa Catarina e duas em São Paulo, em Jundiaí. Nós temos 5 centros de pesquisa, um Belo Horizonte (MG), dois em Curitiba (PR) e outros dois em São Paulo. Então, o grupo – tem a Siemens Healthineers, a Siemens Mobility... – hoje tem 2,8 mil funcionários, uma empresa bem estabelecida, uma empresa com mais de 150 anos no Brasil, o primeiro projeto é de 1867.

JC – E essa nova jornada de o cliente ajudar a fazer o projeto. Na visita guiada do Rio Grande do Sul, até foi dado o exemplo da empresa Zegla, de Bento Gonçalves.

Fava – Então, o caso que comentei, um fabricante de máquinas que cria o gêmeo digital já na sua fase, inclusive, de vendas. Porque utiliza esse gêmeo digital para demonstrar para o cliente como a máquina que ele está projetando vai se comportar, que capacidade de produção ele teria, quantas pessoas ele precisa para operar essa máquina, que tipo de gargalos podem acontecer. E essa discussão facilita muito o processo de venda para o fabricante de máquinas e de compra para o seu cliente. Então, de novo, uma modelagem digital vai ser muito mais eficiente, porém, representativa da realidade o suficiente para tirar conclusões e para conseguir vender valor para o cliente.

JC – O Rio Grande do Sul está celebrando 200 anos de imigração alemã. O governador gaúcho visitou o estande da Siemens na Feira de Hannover, teve uma visita guiada por você, certamente deve ter falado do interesse do Rio Grande do Sul nessa área da inovação. Existe perspectiva de futuro de alguma atividade da Siemens no Rio Grande do Sul, que foi onde a empresa começou a atuar no Brasil?

Fava – No Rio Grande do Sul temos um centro de aplicações para máquinas avançado para a região. O Rio Grande do Sul é uma potência, tem uma capacidade muito grande de construção de valor para o Brasil todo, em alimentos e bebidas, máquinas, polo petroquímico... O que a gente conversou muito foi sobre investimentos. O governador está muito interessado em (ver) o que o Rio Grande do Sul pode fazer para atrair mais investimentos para o Estado. E eu acho que essa é a postura adequada, essa forma que o Rio Grande do Sul vai ser maior, vai construir mais competências ainda. Culturalmente somos muito próximos, porque tem muito alemão, italiano no Estado, e a Siemens está muito presente lá. Então, não temos nada concreto, mas a gente verá no futuro se dá para construir algum projeto junto com o Estado. De qualquer forma, já apoiamos o Instituto Senai de Inovação, em São Leopoldo, com tecnologia, softwares, sistemas de controles. O centro de inovação lá de São Leopoldo contribui muito na construção de sistemas de manufatura, indústria, processos mais eficientes, utilizando tecnologias, e a Siemens está muito presente lá.

Notícias relacionadas