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Publicada em 14 de Outubro de 2024 às 18:21

Clima, finanças e demografia afetam desenvolvimento econômico do RS

Ex-secretário da Fazenda do Estado, Aod defendeu atenção a melhorias no ensino e citou a questão da dívida

Ex-secretário da Fazenda do Estado, Aod defendeu atenção a melhorias no ensino e citou a questão da dívida

Tânia Meinerz/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Mais do que a enchente de abril e maio, outros problemas vêm sangrando a economia do Rio Grande do Sul há décadas sem receber o enfrentamento adequado. E um dos mais contundentes é justamente a estiagem, fenômeno recorrente, que trava o crescimento da receita e compromete investimentos, afirma o economista Aod Cunha.
Mais do que a enchente de abril e maio, outros problemas vêm sangrando a economia do Rio Grande do Sul há décadas sem receber o enfrentamento adequado. E um dos mais contundentes é justamente a estiagem, fenômeno recorrente, que trava o crescimento da receita e compromete investimentos, afirma o economista Aod Cunha.
Exemplo disso é o PIB gaúcho. Mesmo caindo 0,3% no segundo trimestre de 2024, sob impacto dos estragos das chuvas, o indicador chegou ao final de junho com crescimento de 5,4% no acumulado do ano, acima do desempenho nacional, de 2,9%.
Mas em 2022, último ano de seca, o resultado foi -5,1%, enquanto o País cresceu 3%, comparou Aod no Fórum Econômico, realizado no dia 10 de outubro no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, em promoção do Jornal do Comércio em parceria com a Propósito Boutique Financeira.
O economista destacou que, embora o Rio Grande do Sul seja o segundo em incidência de secas no País, entre 1991 e 2024, o interior gaúcho, excetuando a Região Metropolitana de Porto Alegre, Serra e Litoral Norte, é a área com maior ocorrência do fenômeno. "E o que nós fizemos sobre isso, de forma significativa, para mudar esse quadro?", questionou.
Mapa apresenta incidência de secas nas últimas três décadas, municípios em vermelho sofreram mais com estiagens | SPGG/DEE/APRESENTAÇÃO AOD CUNHA/REPRODUÇÃO/JC
Mapa apresenta incidência de secas nas últimas três décadas, municípios em vermelho sofreram mais com estiagens SPGG/DEE/APRESENTAÇÃO AOD CUNHA/REPRODUÇÃO/JC
Segundo o ex-secretário da Fazenda do RS, cerca de R$ 120 bilhões foram perdidos por secas nos últimos 20 anos, correspondendo a R$ 40 bilhões em ICMS. E esse é apenas um componente.
Some-se o decréscimo do Rio Grande do Sul no ranking nacional do Ensino Básico e a elevada dívida pública, que dificulta novos investimentos e a melhoria da qualidade de políticas públicas, e fica mais perceptível o tamanho da dificuldade em alavancar a economia e o desenvolvimento.
"A reforma previdenciária irá mostrar resposta positiva dentro de 10 anos. Mas a dívida seguirá sendo um problema, porque freia investimentos públicos, com um sistema fiscal não resolvido", avaliou Aod.
E há, ainda, conforme o economista, o envelhecimento populacional do Rio Grande do Sul, sem compensação com imigração de pessoas de outras regiões. Um tema que conversa, também com as secas. Aod mostrou um mapa que traduz o movimento de pessoas abandonando as regiões mais atingidas por estiagens e onde esse fenômeno causa impacto econômico ainda maior. E um deslocamento para áreas mais industrializadas, com melhores infraestrutura e condições de trabalho e vida.
Movimento semelhante ocorre em Santa Catarina e Paraná, com concentração de pessoas nas regiões metropolitanas e no litoral. Ainda assim, esses estados, com investimentos assertivos, têm atraído mais pessoas.
Dados do Censo Demográfico Brasileiro divulgados pelo IBGE mostram que, entre 2010 e 2022, o Rio Grande do Sul aumentou sua população apenas 1,8% ao longo desses 12 anos, contra 21,8% dos catarinenses e 9,6% dos paranaenses.
Mapa mostra declínio de população (municípios em vermelho) nas últimas três décadas | SPGG/DEE/APRESENTAÇÃO AOD CUNHA/REPRODUÇÃO/JC
Mapa mostra declínio de população (municípios em vermelho) nas últimas três décadas SPGG/DEE/APRESENTAÇÃO AOD CUNHA/REPRODUÇÃO/JC
"Precisamos nos tornar um local mais atrativo para o fluxo de talentos", afirmou Aod Cunha. De acordo com ele, o Rio Grande do Sul já tinha desafios importantes para crescer, com uma localização geográfica menos favorável, secas, envelhecimento demográfico, fluxo migratório e um setor público altamente endividado. E a tragédia climática de maio cria entraves ainda maiores, não só no curto como no longo prazo.
"Superar o quadro atual exigirá uma organização da sociedade como ainda não fizemos nas últimas décadas. Acima das trocas de governo e do ciclo político, com visão e persistência de longo prazo. Não há meio termo. Ou conseguimos isso e saímos mais fortes, ou veremos um novo ciclo de migração de pessoas e empresas", concluiu.

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