Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

FEIRA DO LIVRO

- Publicada em 28 de Outubro de 2023 às 21:14

Inteligência artificial não é nem inteligente nem artificial, diz Nicolelis

Público lotou auditório no Espaço Força e Luz para ouvir o escritor e neurocientista Miguel Nicolelis

Público lotou auditório no Espaço Força e Luz para ouvir o escritor e neurocientista Miguel Nicolelis


NÍCOLAS PASINATO/ESPECIAL/JC
Enquanto os corredores da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre apresentavam um intenso movimento de pessoas interessadas nas diversas obras espalhadas pelas bancas na Praça da Alfândega durante o fim da tarde deste sábado, próximo dali, no Espaço Força e Luz, localizado na Rua dos Andradas, um público atento comparecia ao bate-papo com o escritor e neurocientista Miguel Nicolelis. Mediado pelo escritor, professor, colecionador de arte e médico oncologista Gilberto Schwartsmann, o encontro bastante concorrido, que lotou o auditório Barbosa Lessa, debateu os mais diferentes temas. Entre eles, um assunto que tem provocado preocupação em Nicolelis: o da inteligência artificial. A IA não é inteligente, segundo ele, em razão da definição clássica da ciência que diz que inteligência é propriedade emergente dos seres vivos e da sua interação com o ambiente e com outros seres vivos. E não é artificial, basicamente, por ser feita por humanos. “Para a inteligência artificial funcionar, existe um exército de 50 mil ‘caras’ por trás”, cita, exemplificando recorrentes casos de moderadores de conteúdo fixados em países africanos que enfrentam problemas psiquiátricos ao ter que lidar e filtrar cenas de extrema violência que chegam todos os dias nas redes sociais. O neurocientista afirma ser admirador de todo o arcabouço científico, estatístico e matemático da IA, o que lhe incomoda é o marketing por de trás dessas plataformas, que, geralmente, supervaloriza as capacidades dessas novas ferramentas. Ele cita como exemplo o movimento dos carros autodirigíveis, amplamente exaltados pelas marcas, mas pouco debatidos no que se refere à responsabilização de possíveis acidentes causados a partir da inovação. Durante o bate-papo, Nicolelis lembrou da sua atuação durante a pandemia de Covid-19, quando saiu em defesa de adoção de medidas de isolamento social da população e se transformou em uma das principais vozes de combate à desinformação. Na época, foi coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, auxiliando os governadores dos estados para a criação de políticas públicas para o enfrentamento da pandemia até que pediu para sair quando sentiu que não estava mais sendo escutado pelos agentes públicos. “Dessa experiência, uma das coisas que aprendi é que quando a política bate de frente com a biologia, a biologia ganha de goleada”, recorda. Sobre Miguel NicolelisNicolelis é pioneiro na pesquisa em interface cérebro-máquina (ICM), tecnologia que permite a captação das dinâmicas cerebrais em computador. Ele fundou e é diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra. É autor dos livros “Muito além do nosso eu” (2011), “O cérebro relativistico: como ele funciona e por que ele não pode ser simulado por uma máquina de Turing” (2015), “Made in Macaíba (2016)” e “O verdadeiro criador de tudo” (2020). 
Enquanto os corredores da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre apresentavam um intenso movimento de pessoas interessadas nas diversas obras espalhadas pelas bancas na Praça da Alfândega durante o fim da tarde deste sábado, próximo dali, no Espaço Força e Luz, localizado na Rua dos Andradas, um público atento comparecia ao bate-papo com o escritor e neurocientista Miguel Nicolelis.

Mediado pelo escritor, professor, colecionador de arte e médico oncologista Gilberto Schwartsmann, o encontro bastante concorrido, que lotou o auditório Barbosa Lessa, debateu os mais diferentes temas. Entre eles, um assunto que tem provocado preocupação em Nicolelis: o da inteligência artificial.

A IA não é inteligente, segundo ele, em razão da definição clássica da ciência que diz que inteligência é propriedade emergente dos seres vivos e da sua interação com o ambiente e com outros seres vivos. E não é artificial, basicamente, por ser feita por humanos. “Para a inteligência artificial funcionar, existe um exército de 50 mil ‘caras’ por trás”, cita, exemplificando recorrentes casos de moderadores de conteúdo fixados em países africanos que enfrentam problemas psiquiátricos ao ter que lidar e filtrar cenas de extrema violência que chegam todos os dias nas redes sociais.

O neurocientista afirma ser admirador de todo o arcabouço científico, estatístico e matemático da IA, o que lhe incomoda é o marketing por de trás dessas plataformas, que, geralmente, supervaloriza as capacidades dessas novas ferramentas. Ele cita como exemplo o movimento dos carros autodirigíveis, amplamente exaltados pelas marcas, mas pouco debatidos no que se refere à responsabilização de possíveis acidentes causados a partir da inovação.

Durante o bate-papo, Nicolelis lembrou da sua atuação durante a pandemia de Covid-19, quando saiu em defesa de adoção de medidas de isolamento social da população e se transformou em uma das principais vozes de combate à desinformação. Na época, foi coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, auxiliando os governadores dos estados para a criação de políticas públicas para o enfrentamento da pandemia até que pediu para sair quando sentiu que não estava mais sendo escutado pelos agentes públicos. “Dessa experiência, uma das coisas que aprendi é que quando a política bate de frente com a biologia, a biologia ganha de goleada”, recorda.

Sobre Miguel Nicolelis

Nicolelis é pioneiro na pesquisa em interface cérebro-máquina (ICM), tecnologia que permite a captação das dinâmicas cerebrais em computador. Ele fundou e é diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra. É autor dos livros “Muito além do nosso eu” (2011), “O cérebro relativistico: como ele funciona e por que ele não pode ser simulado por uma máquina de Turing” (2015), “Made in Macaíba (2016)” e “O verdadeiro criador de tudo” (2020).