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Publicada em 23 de Agosto de 2019 às 03:00

China e UE são fontes de estímulos e incertezas

Considerando-se o peso da soja na economia gaúcha, o conflito comercial sino-americano gera elevadas tensões comerciais

Considerando-se o peso da soja na economia gaúcha, o conflito comercial sino-americano gera elevadas tensões comerciais

/WENDERSON ARAUJO/TRILUX/DIVULGAÇÃO/JC
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Thiago Copetti
Os produtores que irão à Expointer circularão pelo parque pisando em muitas incertezas sobre o mercado internacional, mas também com algumas boas perspectivas. Os dilemas atuais e de curto prazo estão relacionados aos preços da soja e à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que é repleta de altos e baixos, afetando tanto o câmbio quanto a demanda do gigante asiático pela oleaginosa. As dúvidas de médio e longo prazos estão centradas no mercado europeu e no recente acordo feito entre União Europeia (UE) e Mercosul.
Os produtores que irão à Expointer circularão pelo parque pisando em muitas incertezas sobre o mercado internacional, mas também com algumas boas perspectivas. Os dilemas atuais e de curto prazo estão relacionados aos preços da soja e à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que é repleta de altos e baixos, afetando tanto o câmbio quanto a demanda do gigante asiático pela oleaginosa. As dúvidas de médio e longo prazos estão centradas no mercado europeu e no recente acordo feito entre União Europeia (UE) e Mercosul.
Dado o peso da soja na economia gaúcha, o conflito comercial sino-americano é um gerador de elevadas tensões dentro e fora do Brasil. Para o analista da Safras & Mercado Luís Fernando Roque, em nenhum momento da história recente foi tão difícil fazer projeções sobre os preços e a demanda asiática pela soja. Isso porque, além de a guerra comercial entre Estados Unidos e China impactar diretamente a cotação do grão, afeta o câmbio e, conforme os rumos das conversas entre Donald Trump e Xi Jinping, também pode reduzir as compras de soja do Brasil.
"A soja norte-americana é uma das moedas de troca em um possível acordo. Os estoque americanos estão muito altos, em torno de 28 milhões de tonelas, ante uma média normal de 10 milhões", explica Roque.
Um acordo entre os dois governos, muito provavelmente, envolveria a compra desse estoque, reduzindo as aquisições da soja brasileira. O analista, porém, não acha provável que a trégua ocorra ainda em 2019. E um simples post no Twitter de Trump pode mudar o cenário, para melhor ou pior. Mas, apesar de um ambiente internacional e de cotações futuras ainda nebulosas, o produtor começará, em breve, a semear, no mínimo, a mesma área do ciclo anterior, e até com pequeno aumento. O secretário da Agricultura do Estado, Covatti Filho, se diz confiante de que o Estado, ao menos neste ano, será beneficiado.
"Há um grupo de chineses que já fez contatos para comprar 100 mil toneladas/mês de soja no Estado. O mercado está aquecido, e temos uma boa porta de saída para lá, que é o porto do Rio Grande. Não podemos influenciar nos preços, que, agora, estão um pouco deprimidos, mas as perspectivas de vendas são muito boas", pondera Covatti Filho.
Enquanto sobre a questão chinesa há certo consenso, as perspectivas de médio e longo prazos envolvendo o Mercosul e a UE são difusas quanto aos ganhos. Sobre as perdas no setor da agricultura e da pecuária, inicialmente, a análise é que dois segmentos importantes para o Estado serão atingidos: leite (pela importação de queijos e produto em pó) e vinho (já que os importados da Europa terão benefícios para entrar no Mercosul).
Otimista com o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia, Covatti Filho estima que o tratado poderá, inclusive, já dar seus primeiros sinais dentro da Expointer. Ao comentar sobre as perspectivas de ampliar os negócios realizados na feira de 2018, que somaram
R$ 2,3 bilhões, Covatti disse que, além das estimativas de diferentes sindicatos e associações rurais, o acordo com a UE também leva o governo a projetar alta nos negócios para este ano. O secretário estima que o futuro acordo entre Mercosul e União Europeia pode estimular o produtor a começar a fazer investimentos, mesmo que os tratados levem até três anos para vigorar.
"Recentemente, recebemos representantes de uma grande empresa de implementos agrícolas que nos colocou que sua produção até outubro está toda vendida. Outra boa referência que temos é de uma grande delegação de empresários da Argentina que virá prospectar parcerias para futuros negócios de exportações para a União Europeia", assegura o secretário da Agricultura do Estado.
Sobre o fato de que setores prejudicados, como pecuária de leite e vitivinicultura podem inibir as vendas do setor, Covatti diz confiar que o Ministério da Agricultura vai buscar acelerar a implementação de iniciativas para reduzir as perdas de ambos. O acordo, segundo Covatti, poderia ser um começo para equacionar as assimetrias dentro do Mercosul.
"O produtor da fronteira quer comprar insumos no país vizinho (Argentina), onde os custos são menores. Isso também será discutido em um fórum dentro da Expointer", antecipa o secretário.
Para o arroz, a cota definida de 60 mil toneladas sem taxas pouco ou nada mudará no cenário, avalia o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz (Sindarroz), Élio Coradini Filho. Isso porque o valor é menor, inclusive ao volume exportado mensalmente apenas pelo Brasil, e essa cota ainda teria que ser compartilhada com os outros integrantes do Mercosul. "O nosso pedido era de uma cota de 400 mil toneladas, o que poderia ter algum impacto positivo real", lamenta Coradini.
 

Farsul não espera ganhos com o acordo entre os dois blocos em pouco tempo

Coordenador da área de relações internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o também presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, é bastante cético quanto aos impactos do acordo da União Europeia com o Mercosul. Ao contrário do secretário da Agricultura, Covatti Filho, Gedeão afirma que ainda é muito cedo para esse tratado ter reflexos no agronegócio gaúcho. "Debates sobre o acordo, sim, podem ocorrer, mas, para os negócios, ainda não vejo como ter influência na Expointer", pondera Gedeão.
Um ponto positivo do acordo, diz o produtor - que, em agosto, esteve na Argentina representando a CNA em um encontro sobre o tema -, é que o tratado com a UE vai obrigar todos os países do bloco latino a se modernizar. Essa seria a grande vantagem do acordo, que também permitirá a aquisição de máquinas mais modernas com custos menores.
"Se tu tirar a parte dos grãos, o Brasil não consegue ser competitivo. O Paraguai, com a menor carga tributária, hoje, é mais competitivo. Em geral, temos alta carga tributária, ineficiência em diversos setores e logísticas precária. Se não melhorarmos esses itens de competitividade, perderemos a corrida para o mercado europeu, especialmente o setor industrial", resume o presidente da Farsul.
As boas expectativas estão mesmo centradas em possíveis ganhos para o sojicultores com o conflito norte-americano com a China. Para Gedeão, qualquer faísca que ocorra nessa briga tem impacto no agronegócio brasileiro, para cima e para baixo. Mas o produtor deverá ir para a feira com mais critérios, sem tanta ambição, como tinha no passado, para fazer negócios e comprar máquinas.
"Ele vai com os pés mais no chão, temos um crise em parte da Metade Sul, uma região importante, com 1 milhão de hectares de arroz, com perdas recentes, e 1,5 milhão também de problemas na soja. Ou seja, são 2,5 milhões de hectares que foram afetados pelo clima na safra de verão passada", lamenta Gedeão. Ainda no cenário interno, a preocupação é com o possível fim da Lei Kandir, que desonera as exportações, afetando diretamente o agronegócio.

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