*De Não-Me-Toque
A 25ª edição da Expodireto Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque (RS), foi marcada por cobranças de medidas que ajudem os produtores a lidar com mais uma seca consecutiva no Estado. A estiagem prejudicou especialmente a produção de soja, que deve registrar uma quebra de 17,4%. Diante desse cenário, a cooperação entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e empresas do setor tem apresentado resultados em diversas frentes, como genética, insumos e maquinário agrícola.
Uma dessas soluções é o bioinsumo Auras, fruto de 15 anos de pesquisa da Embrapa Meio Ambiente em parceria com a empresa NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola. O produto foi inspirado no mandacaru, planta nativa do semiárido brasileiro, conhecida por sua resistência a períodos prolongados de seca. “Ficamos analisando como ele conseguia permanecer verde por tanto tempo sem chuva. Descobrimos, então, uma rizobactéria que estimula o crescimento do sistema radicular, permitindo maior captação de água e reduzindo a perda hídrica da planta”, explicou Aníbal Eduardo Vieira Santos, da área de Transferência de Tecnologia da Embrapa.
A bactéria utilizada, Bacillus aryabhattai (cepa CMAA 1363), pode ser aplicada em lavouras de milho, soja, pastagens e algodão. Segundo os pesquisadores que desenvolveram o bioinsumo, o tratamento permite que as plantas mantenham produtividade mesmo sob estresse hídrico de 15 a 20 dias. “A cultura pode resistir por mais tempo, mas, para garantir produtividade, consideramos esse período”, explicou Wagner Morilha, gerente comercial da unidade de negócios da NOOA no Brasil.
Durante a Expodireto, a NOOA destacou o potencial do mercado gaúcho para expansão da tecnologia. “Estamos avançando com cooperativas e revendedores para ampliar a adoção do bioinsumo”, afirmou Morilha, garantindo que o produto pode ser utilizado em grande escala.
Melhoramento genético aumenta resistência à seca
Outra estratégia desenvolvida pela Embrapa é o melhoramento genético tradicional das sementes, que possibilita o desenvolvimento de raízes mais profundas, tornando as plantas mais resistentes à estiagem. Cada nova semente, aprimorada por meio do cruzamento convencional das variedades mais adaptadas, leva cerca de sete anos de pesquisa e pode proporcionar uma semana extra de tolerância à seca.
No entanto, Giovani Stefani Faé, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, alerta que apenas o melhoramento genético não é suficiente. “O manejo do solo é fundamental. Não basta cultivar uma variedade mais tolerante ou apenas investir em irrigação. O solo possui processos químicos e físicos que precisam ser trabalhados para garantir um sistema produtivo sustentável”, explicou.
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Pensando nisso, a Yara Fertilizantes apresentou na feira a linha Yara Amplix, que utiliza matriz orgânica para aumentar a resistência das plantas ao estresse abiótico, como seca, frio excessivo e chuvas intensas. Segundo a empresa, o fertilizante N-RHIZO, testado para soja, demonstrou um aumento médio de 3,3 sacas por hectare na produtividade. "De 100 testes realizados nas lavouras, 90 registraram resultado positivo", disse o diretor comercial da Yara Fertilizantes para a região Sul, Márcio Wally.
Além disso, em parceria com a Embrapa, a Yara está investindo R$ 450 milhões no programa Recupera Rural RS, voltado à recuperação de áreas inundadas que perderam capacidade produtiva devido a enchentes, algo fundamental para uma agricultura mais resiliente.
Tecnologia nacional para medição da permeabilidade do solo
No campo dos equipamentos, uma nova tecnologia promete otimizar a análise de parâmetros físicos do solo, impactando tanto a produção rural quanto à infraestrutura urbana. Trata-se do SoloFlux, o primeiro permeâmetro digital automatizado desenvolvido no Brasil, capaz de medir a permeabilidade ou condutividade hidráulica do solo saturado.
A medição da permeabilidade da água no solo é essencial para avaliar a drenagem e a redistribuição da umidade, além de ser importante para o manejo da irrigação e o planejamento de obras hidráulicas. As informações influenciam em projetos como canais, recarga de aquíferos, áreas de risco de contaminação por agrotóxicos e até mesmo a seleção de locais para aterros sanitários e cemitérios.
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Basicamente, o SoloFlux automatiza a captura, transmissão e leitura de dados, registrando os fluxos de água ao longo do tempo e permitindo cálculos precisos da condutividade hidráulica saturada do solo. Os dados são transmitidos via aplicativo e armazenados na nuvem, com comunicação remota via USB e Bluetooth.
“O equipamento tem um custo mais acessível e otimiza o trabalho no campo. Antes, o operador precisava monitorar manualmente a medição, o que demandava atenção exclusiva. Agora, com a automatização, ele pode se dedicar a outras atividades”, destacou Wenceslau Teixeira, pesquisador da Embrapa Solos e integrante do projeto, em nota.
O equipamento é resultado de uma parceria entre a Embrapa Solos (RJ), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e a Falker Automação Agrícola, empresa de Porto Alegre