O Pavilhão da Agricultura Familiar na 25ª edição da Expodireto Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque, foi uma experiência de gostos, cheiros e texturas. Com 222 expositores e 190 estandes, foi lá também que rostos femininos se destacaram. De criadoras de plantas a enólogas, elas apresentaram seus produtos feitos em todos os cantos do Rio Grande do Sul.
Alice Rambo veio de Mormaço, na região norte do Estado, acompanhada da filha para vender plantas como jiboia, suculentas e comigo-ninguém-pode. O empreendimento, que iniciou por vontade dela, conta com duas estufas na propriedade. “A expectativa é sempre bastante público, aqui foi muito bom”, contou. Ela explica que, para cada feira, é preciso trazer novidades, diversificando as espécies de plantas. “Hoje, o pessoal busca muita suculenta, flor de cera e samambaia”, disse.
A produtora contou ainda que a seca que atinge o Estado afetou os negócios porque os clientes deixaram de comprar, não pela produção, que é resistente, mas pelo impacto econômico. “Por isso é bom vir às feiras”, considerou. Ela divide os cuidados com as plantas durante a noite e vende durante o dia na propriedade. “Quando tu trabalhas com plantas, tem que te dedicar para elas ficarem bonitas, senão ninguém compra. É diferente de só gostar de plantas”, comentou.
Diferentemente de Alice, Gleika Borges, de Sarandi, também na região norte, carrega gerações no estande de erva-mate. “Meus avós paternos e maternos eram ervateiros, meus pais são ervateiros e eu cresci nesse meio. Participar da feira é muito bom para os negócios, conseguimos tornar o nome da marca mais reconhecido”, contou.
Gleika afirma que a família tem erval próprio, mas também faz parcerias para dar conta da produção. “Temos a edição tradicional e a com açúcar, mais grossa e mais fina, para todos os gostos”. Ela também faz revenda, mas é nas feiras que o movimento favorece os negócios. “Vem pessoas de todos os cantos do Rio Grande do Sul. Nós não temos representante comercial, então faz toda a diferença”, disse.

Gleika Borges da Silva, Erva-mate Tradição da Palmeira. Agricultura Familiar. Expodireto.
TÂNIA MEINERZ/JC
A enóloga Alana Foresti também toca o negócio da família, que iniciou em 1946 com seus bisavós em Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha. “Meu pai faleceu no ano passado e agora eu e minha mãe estamos produzindo os vinhos. Minha mãe cultiva as uvas e eu faço os vinhos”, disse. Tudo é feito na propriedade da família, que é capaz de produzir 30 mil garrafas por ano e 18 rótulos. Inclusive, os produtos são premiados em feiras regionais e nacionais, com destaque para o vinho bordô e o espumante brut branco. “Enviamos para outros estados, mas nosso mercado principal é o gaúcho. E as feiras valorizam nosso trabalho, divulgam a agricultura familiar e a nossa cultura”, acrescentou.
Para ela, é um orgulho fazer parte da agricultura familiar. “É um sentimento de alegria, eu vejo nos olhos da minha família a felicidade de poder levar adiante nossa história e, principalmente, a cultura. Produzimos vinhos como meu avô fazia”, disse. Um dos rótulos da marca é uma homenagem à bisavó. O Nona Francisca retrata a personalidade da matriarca, que era feminina e, ao mesmo tempo, muito forte. “Ela não era delicada, olha tudo o que construiu. Então esse vinho é rosé, mas mais alcoólico, é um vinho gastronômico”, compartilhou.