O cenário do agronegócio gaúcho não parece muito propício para a tomada de crédito durante a 25ª Expodireto Cotrijal, com nova estiagem e produtores endividados que ainda lidam com os efeitos da enchente de maio. Mas, contrariando todo esse contexto, as instituições bancárias que participarão da feira demonstram otimismo, apesar de ressaltarem que a tendência é de pés no chão. Diante desse cenário, talvez não seja possível superar o volume de negócios de 2024, quando os bancos movimentaram R$ 7,1 bilhões, montante 13,17% superior ao de 2023.
O gerente de mercado de agronegócios da superintendência de varejo do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul, Daniel Scherer, diz que a expectativa do banco em relação à Expodireto é muito positiva. "Fazemos análises de mercado, análises setoriais e somos sabedores de que o mercado de máquinas, obviamente, depende do financiamento, das linhas de crédito para investimento", informa Scherer.
Com a publicação, na última semana de fevereiro, da Medida Provisória (MP) do governo federal que libera R$ 4 bilhões em crédito extraordinário e recompõe as linhas de financiamento do Plano Safra 2024/2025, a tendência, segundo o executivo, é de que as linhas já estejam reabertas para o começo da feira, junto à grande disponibilidade de máquinas e implementos ofertados pelas empresas. " A expectativa é muito positiva, pois os estoques estão à disposição dos produtores, muitos deles com pronta entrega e isso faz com que os negócios sejam feitos com celeridade", aposta Scherer. Segundo ele, o volume contratado em 2024 foi de R$ 2,2 bilhões, em intenções e propostas incluídas pela Expodireto. "A expectativa para 2025 é crescer 10% deste valor, apostando no apetite do produtor pela compra e pelo recebimento imediato do produto, com o investimento indo para o campo", aponta. Scherer diz que, todos os anos, o Banco do Brasil disponibiliza aportes específicos para as grandes feira de agro do Estado e que trabalha com eventos pré-feira, rodando o Estado.
O diretor-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Ranolfo Vieira Júnior, também se diz otimista com as possibilidades que a feira trará para o agro. "É um setor que já demonstrou toda sua resiliência com o impacto das enchentes do ano passado. Mesmo agora, enfrentando uma nova estiagem que afeta a produção de grãos, acreditamos na força dos nossos produtores, cooperativas e agroindústrias", frisou. Vieira Júnior salienta que o BRDE irá disponibilizar R$ 300 milhões para novos financiamentos, volume superior ao montante do ano passado, quando o banco contabilizou R$ 257,5 milhões de novos pedidos. "Esse valor pode ser ampliado caso haja demanda maior neste ano", acrescenta o executivo.
O BRDE acredita que os financiamentos para projetos de inovação terão destaque na feira, setor que já esteve entre as principais demandas por apoio na edição passada, quando o banco contabilizou R$ 86 milhões em novos investimentos contratados. Entre os segmentos que o banco aposta que seguirão com alta demanda estão os relacionados ao aumento da capacidade de armazenagem e às políticas de sustentabilidade da matriz energética e transição climática. "Na Expodireto de 2024, os projetos de geração de energia com fontes renováveis responderam por 36% do total das operações encaminhadas, somando investimentos na ordem de R$ 92 milhões", diz Vieira Júnior.
Já o Badesul teve em torno de R$ 722 milhões em propostas captadas na Expodireto de 2024, mas, nesse ano, mantém-se "otimista com os pés no chão", como disse o presidente do banco, Claudio Gastal. "Projetando negócios na linha dos R$ 500 milhões, especialmente em função do cenário de crise vivido pelo Estado." Para ele, os produtores com dívidas, mas com capacidade de pagamento, ou seja, que não estão inadimplentes, tendem a investir em tecnologias para os próximos períodos de plantio. "Notamos isso na Expointer de 2024, quando, mesmo após toda a crise gerada pelas enchentes, os produtores investiram para evitar quebras na lavoura e degradação do solo após as enxurradas", avalia Gastal. O executivo destaca a importância da MP em crédito extraordinário do Plano Safra 2024/2025. "Essa medida gera segurança no produtor", afirma.
O diretor de desenvolvimento do Banrisul, Fernando Postal, diz que o setor está preocupado com a ocorrência de nova estiagem no Estado, mas afirma "não enxergar essa tragédia toda". Para ele, alguns lugares foram afetados, mas em outros os plantios seguem sem intercorrências. "A safra de arroz, como é que foi? Excelente. A de uva? É a melhor dos últimos tempos. Na região da Serra: pêssego, ameixa, figo, tudo andando bem. O milho já foi colhido. Em relação à soja, vamos ser sinceros e vamos aguardar, pois em algumas regiões está muito bonita", avalia Postal.
Em 2024, o Banrisul disponibilizou R$ 1,12 bilhão durante a Expodireto, um crescimento de 22,7% em relação a 2023. O diretor prefere não fazer projeções sobre negócios durante a feira em 2025, pois, segundo ele, "todo o setor está com o pé atrás". Postal diz que os recursos estarão disponíveis, mas não é possível ter certeza, diante do cenário de crise, que o produtor terá condições de investir
R$ 4 milhões em uma colheitadeira, por exemplo. "Acho bem difícil. No ano passado, foram mais de R$ 300 milhões em máquinas e equipamentos. É difícil prever como serão os negócios neste ano."
R$ 4 milhões em uma colheitadeira, por exemplo. "Acho bem difícil. No ano passado, foram mais de R$ 300 milhões em máquinas e equipamentos. É difícil prever como serão os negócios neste ano."
O Banrisul dispõe de uma carteira de R$ 13,7 bilhões para o agronegócio no Estado. Sobre o problema do endividamento dos produtores, Postal afirma que esse cenário faz com que o mercado financeiro fique um pouco preocupado em relação a grandes investimentos, além da alta da taxa Selic, que também funciona como entrave.
O presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Marcio Port, diz que a instituição prefere não estabelecer um volume de crédito a ser disponibilizado durante a Expodireto. "Não temos o costume de definir um valor de crédito e ser disponibilizado na feira, pois sempre estamos com todos os recursos que temos à disposição para negócios, todas as linhas de crédito, sem um valor limitador", pondera.
O volume de negócios do Sicredi, na Expodireto 2024, foi de R$ 305 milhões.