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Publicada em 09 de Março de 2025 às 19:28

Expodireto chega aos 25 anos e se destaca com foco em tecnologia e negócios

Com o clima atual do RS, o mote dos debates da 25ª Expodireto, em Não-Me-Toque, não poderia ser diferente: estiagem e a relação direta com as mudanças climáticas

Com o clima atual do RS, o mote dos debates da 25ª Expodireto, em Não-Me-Toque, não poderia ser diferente: estiagem e a relação direta com as mudanças climáticas

/Expodireto/Divulgação/JC
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A Expodireto Cotrijal chega aos 25 anos em um momento crucial para o agronegócio gaúcho: o endividamento exponencial dos produtores, após três anos de seca severa, agravado por mais um período de estiagem, num contexto em que muitos ainda não recuperaram as perdas causadas pela enchente. Mesmo assim, a expectativa é de que a feira siga a tendência de crescimento, seja em comercialização, número de visitantes e expositores.
A Expodireto Cotrijal chega aos 25 anos em um momento crucial para o agronegócio gaúcho: o endividamento exponencial dos produtores, após três anos de seca severa, agravado por mais um período de estiagem, num contexto em que muitos ainda não recuperaram as perdas causadas pela enchente. Mesmo assim, a expectativa é de que a feira siga a tendência de crescimento, seja em comercialização, número de visitantes e expositores.
O presidente da Cotrijal, Nei Manica, afirma que o sucesso da mostra, mesmo em períodos difíceis para o Estado, se explica pelo caráter dela: totalmente focada em tecnologia e negócios. "É uma feira que baliza todas as outras, no decorrer do ano, e atrai grande público de outros estados e diferentes países, o que, mesmo em períodos difíceis, têm proporcionado números recordes de negócios, público e empresas participantes", argumenta o presidente.
O cenário de seca não é nenhuma novidade, pois em 22 edições da mostra de Não-Me-Toque, desde a primeira no ano 2000, foram registrados episódios de estiagem no Rio Grande do Sul, com maior ou menor gravidade. Os anos com períodos mais prolongados de baixa ou nenhuma pluviosidade, nos quais a perda de umidade do solo foi superior a sua reposição, foram os de 2005, 2020, 2022 e 2023, conforme dados do Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul. Mesmo nos anos mais difíceis, como o de 2020, quando o Estado amargou uma das piores secas da história, a Expodireto bateu recordes de comercialização, com incremento de 10% num comparativo com a edição de 2019, saltando de R$ 2,4 bilhões para R$ 2,6 bilhões.
Manica destaca o crescimento da feira nesses 25 anos: num comparativo entre a primeira edição, em 2000 e a 24ª, no ano passado, a área do parque cresceu em quase 100 hectares, saltando de 32 para 130 hectares, com as sucessivas ampliações. Em termos de público, foram 41 mil pessoas no ano 2000 e 377,6 mil na edição passada. "O número de expositores também cresceu de forma considerável, pois há 25 anos eram 114 expositores e hoje contamos com 577 e mais de 200 empresas esperando oportunidade de participar da Expodireto", diz Manica. Em termos de comercialização, os valores também são recorde: se em 2000 foi de módicos R$ 21 milhões, em 2024 superou todas as expectativas e alcançou R$ 7,9 bilhões.
No ano passado, quando todos comemoravam uma safra de verão cheia, veio um novo revés: a enchente de maio devastou lavouras, erodiu solos e matou animais nos quatro cantos do Estado. Agora, a falta de água campo a fora se repete em 2025, trazendo prejuízos intensos, especialmente para a soja. Diante desse cenário, o mote dos debates da 25ª Expodireto não poderia ser diferente: estiagem e irrigação. Os temas têm relação direta com as mudanças climáticas, gerando endividamento dos produtores ou sendo a salvação das lavouras. "Mais um ano de estiagem e o produtor não aguenta mais, precisamos buscar saídas para irrigar nossas lavouras. Com certeza esse será um dos temas centrais dos fóruns da soja e do milho dessa edição", afirma Manica. Ele acrescenta que o endividamento dos produtores é muito grande e que é preciso voltar a falar em securitização. "Não é alongamento, é empréstimo federal com prazo longo e juros compatíveis com a realidade. Precisamos despolitizar esse tema, olhar o produtor como federação, como sociedade. Esse é o papel da Expodireto", completa o dirigente.
O governador Eduardo Leite reforçou que o Estado tem se dedicado incessantemente ao desenvolvimento do setor agropecuário, reconhecendo seu papel vital na economia e na vida de milhões de gaúchos. "Nossa presença na Expodireto, especialmente com os nossos bancos de desenvolvimento, é uma demonstração desse comprometimento. A feira é um ponto alto do calendário econômico do RS e um espaço privilegiado para a troca de experiências e conhecimentos entre os participantes", disse Leite, durante a cerimônia de abertura da mostra.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, aposta numa feira de bons resultados, mais pela participação do público de fora do Estado e das missões estrangeiras do que pela possibilidade de os gaúchos fecharem negócio. "O agronegócio do Rio Grande do Sul está em crise, produtores endividados, nova estiagem, rescaldo da enchente, mas não significa que vamos ter crise dentro da feira, porque todos os anos se anunciam vendas importantes. Acredito que vamos ter mais uma exposição espetacular", diz Gedeão. O dirigente exalta a feira como palco importante para discussões de temas políticos, como a necessidade de ampliar a área de agricultura irrigada no Estado como forma de driblar as estiagens recorrentes. "Eu era negacionista sobre as mudanças climáticas. Hoje não sou mais, acho que realmente o clima mudou. Agora, temos que mitigar os efeitos", afirmou.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, a importância da Expodireto cresce por ser palco de debates sobre toda a situação que os produtores estão vivenciando. "Vamos aproveitar os espaços onde vamos ter, com certeza, a participação de muitos políticos do governo federal, estadual e dos agentes financeiros", afirma. Silva considera a possibilidade de queda nos negócios durante a feira de Não-Me-Toque em função da crise vivida pelo agronegócio. "Não está propício para efetuar investimentos, o produtor gaúcho dificilmente vai fazer grandes negócios dentro da feira, mas estará presente para conhecer novas tecnologias, ver o que tem de melhor para a produtividade, qualidade do plantio, em busca de mais renda", diz o dirigente.
Além dos fóruns, a programação inclui audiências públicas sobre irrigação e securitização, Arena Agrodigital e participação de delegações estrangeiras, com destaque especial para a comitiva indiana (ao todo, serão 70 países). "O ano de 2025 também é especial, pois foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional das Cooperativas. Isso ressalta a importância do cooperativismo no crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da tecnologia, inovação e oportunidade de negócios", sublinha Manica. A cadeia da carne bovina e a bacia leiteira também estarão no centro das discussões durante a Expodireto.
Entre as novidades para este ano, ainda está a ampliação da área do estacionamento, que ganhou outras 1,5 mil vagas. O acesso à 25ª Expodireto Cotrijal é gratuito para o público.
 

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