Claudio Medaglia, de Não-Me-Toque
A Embrapa Trigo e a Be8 assinaram nesta segunda-feira (4), na Expodireto Cotrijal, um acordo de cooperação técnica para o desenvolvimento de cultivares de triticale voltadas à produção de etanol amiláceo. Entre as alternativas, o triticale apresenta grande potencial para abastecer o mercado de biocombustíveis, especialmente as usinas de produção de etanol.
A expectativa é encontrar mais uma cultura rentável para o agricultor e que ela possa encaixar na indústria. “Esse pode ser o primeiro passo de uma jornada muito longa no Rio Grande do Sul. Nós hoje importamos 100% do etanol. E deveremos aumentar a mistura de etanol para 30% e depois 35%. Isso quer dizer que o Estado vai importar ainda mais etanol. Então, por isso, a importância desse ato, disse o presidente da Be8, Erasmo Carlos Battistella. A assinatura do acordo foi acompanhada pelo presidente da Expodireto, Nei Manica.
O projeto está orçado em cerca de R$ 850 milhões, serão patrocinadas pela empresa passo-fundense, com recursos que serão disponibilizados por meio de financiamento bancário. As pesquisas serão feitas por meio do programa de melhoramento genético da Embrapa Trigo e pretendem alcançar maior produtividade de grãos, com melhor resposta aos estresses bióticos e abióticos, além de características específicas para o desempenho das cultivares na produção de etanol.
“Vamos desenvolver grãos com porcentagem de amido acima de 65% e proteína nos grãos acima de 14%, para aproveitamento como energia limpa e também na produção de ração para alimentação animal”, disse o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.
Segundo o pesquisador, a expectativa é evoluir, em até cinco, para materiais mais resolutivos que os até o momento disponíveis no mercado. “Essa é uma agenda não apenas da Be8, é uma agenda de País. Cultivamos 78 milhões de hectares de grãos no Brasil e apenas, até o momento, 4 milhões de hectares com cereais de inverno. Isto abre uma oportunidade para ampliar a área, e interessa além do aspecto local. É transformar os cereais de inverno como um negócio de País.”
Segundo dados da Embrapa, o triticale tem um potencial muito grande de produção de etanol, mas nunca foi trabalhado com esse viés. A solução tecnológica visa aproveitar a oferta ambiental, que permite a conversão, com 10 a 14 horas diárias de luz solar, em alimento, fibra e energia.
“Então, 1 mil quilos de triticale renderão mais de 400 litros de etanol. Mas há outro aspecto muito relevante: a produção de grão seco de destilaria, ao redor de 36% a 42% de proteína. E isso poderá ser utilizado na composição e formulação de ração”, explicou Lemainski.
Para Battistella, a proposta é mesmo valiosa. ”Esse não é o começo, é uma continuidade desse grande trabalho que a Embrapa Trigo, tem feito. E, obviamente, o setor de etanol, que está nascendo no Rio Grande do Sul, se beneficia de todo esse histórico. É o próprio histórico do triticale já desenvolvido. Mas é óbvio que esse evento de hoje também marca o início de uma nova etapa, em que provavelmente vamos buscar também mais material genético, onde se produz muito triticale, como na Polônia”, afirmou.
O empresário aposta no projeto como uma alternativa importante também para o agricultor. “O triticale é uma cultura diferente do trigo, com suas características. É mais rústica, em alguns momentos requer menos fertilizante. Então, talvez tenha até um custo menor e que vai ter uma capacidade boa de produção de etanol”.