{{channel}}
"Os grandes debates do agro estarão na Expodireto", diz Nei Manica
Presidente da Cotrijal destaca que programação abordará a questão climática, a legislação ambiental e a necessidade de revisão do seguro agrícola
À frente da Cotrijal, que organiza a 23ª edição da Expodireto, Nei Manica, garante que a feira não deixará de fora dos debates temas como irrigação, sustentabilidade e a necessidade de retomada de investimentos públicos no agro. Confira a entrevista.
Jornal do Comércio - Passado o período a pandemia, esta será a primeira edição da Expodireto sem qualquer restrição. Qual o clima para voltar a ter esta feira aberta?
Nei Manica - No ano passado, já tivemos um público acima de 260 mil pessoas, e vivíamos um clima de pós-pandemia. Neste ano, praticamente não se fala mais de pandemia. Temos uma estimativa sempre entre 250 mil e 270 mil pessoas durante o evento, porque na Expodireto não temos shows ou outros atrativos. É realmente uma feira voltada aos negócios e aos grandes debates do setor. Acreditamos que, mesmo com o clima desfavorável para o agricultor gaúcho, especialmente, teremos um grande público. Todos estão mobilizados, então, se batermos essa estimativa, acima de 260 mil pessoas, preencheremos plenamente a nossa expectativa.
JC - Serão mais de 560 empresas e 131 hectares. É um crescimento significativo.
Manica - Demonstra a pujança do agronegócio. O Brasil cada vez mais se posiciona como um player mundial na produção de alimentos, com tecnologia e muita inovação, que apresentaremos na Expodireto. O agronegócio tem sustentado a balança comercial do Brasil. Vivemos agora um momento de diálogo necessário, e a Expodireto está consolidada como o palco para os grandes debates e reivindicações do setor. Debates como o da retenção de água no Rio Grande do Sul, subvenção de seguro agrícola, uma audiência pública do Senado. Estarão aqui todas as empresas de ponta em termos de produção primária, para atrair desde as pequenas e médias até as grandes produções, e também teremos os representantes do poder público para este debate necessário.
JC - Em relação a temas como o seguro agrícola, a ausência do Moderfrota e a troca de governo federal. Podemos ter na Expodireto um retrato de como o setor está projetando este novo ciclo?
Manica - Ficamos surpresos porque o BNDES suspendeu nove linhas de financiamento para todos os segmentos. Cabe a nós, as entidades, junto com o Congresso, mostrar a importância que o agro tem e sempre teve para o governo continuar investindo no desenvolvimento deste setor. Porque, se parar o agronegócio, para a economia toda. É uma questão de diálogo, e é isso que buscamos em um evento como a Expodireto.
JC - A Expodireto terá os fóruns da soja, do milho, do leite, do trigo, florestal e o inédito, da carne bovina. Quais temas não podem passar batidos dessas discussões?
Manica - Em resumo, temos no Rio Grande do Sul e no Brasil área e tecnologia para qualificarmos ainda mais a produção, mas também precisamos ter segurança na hora de plantar e comercializar. Neste aspecto, precisamos enfrentar, nos debates, necessariamente, a questão climática, a legislação ambiental e a necessidade de revisão do seguro agrícola.
JC - Ano passado foram quase R$ 4,9 bilhões em negócios durante a Expodireto. Já se faz uma projeção para este ano?
Manica - Os negócios são sempre muito pautados pelo momento. No Rio Grande do Sul, temos um problema climático, mas a partir de Santa Catarina, não tem este problema. Bem pelo contrário, será uma excelente safra. Então, muitos produtores vêm na Expodireto fazer seus negócios, porque criamos essa tradição de bons preços, promoções, condições de negociação. Vamos ter, com certeza, um bom volume de negócios, mesmo com juros não muito favoráveis. A nível de Brasil, temos muitos produtores capitalizados. Pela necessidade de troca de maquinário e inovação, teremos muitos bons negócios.
JC - O setor de máquinas agrícolas é sempre um protagonista na feira. Qual o momento do produtor? É hora de renovação de frota ou de observar o mercado?
Manica - Por incrível que pareça, sempre têm produtores com necessidade de renovar ou aumentar sua frota. Sempre tem aqueles que estão preparados para incrementar seu maquinário. Deveremos ter bons negócios.
JC - Estão previstas em torno de 60 delegações estrangeiras. Qual será o papel dessas delegações e qual o espaço destinado a elas?
Manica - Temos mais de 60 países com delegações confirmadas. Serão mais de 170 delegações entre empresários e produtores. Só da África, serão mais de 30 delegações. Eles vêm em busca de alimento. Nos países asiáticos, por exemplo, eles dizem "nós temos fome, mas não temos comida". Eles vêm aqui tratar da exportação direta, buscar tecnologia, equipamentos, até intercâmbios. A Expodireto abriu um canal importante para todos os continentes discutirem o agronegócio.
JC - Como o tema da sustentabilidade entrará nos debates da Expodireto? Hoje o produtor já está consciente do seu papel ou ainda é uma transformação necessária?
Manica - Vamos trazer para o debate a questão do mercado de resgate e comercialização do carbono. No mercado já existem muitas intenções em relação ao mercado do carbono, mas o produtor ainda precisa entender na prática esse processo. Sobre como conseguir esse benefício. Teremos painéis sobre este tema com especialistas que podem trazer essas orientações ao setor. Não é algo simples. Lentamente o produtor vai se adaptar e conseguir se beneficiar, preservando o meio ambiente. Eu diria que o nosso produtor está muito consciente da responsabilidade ambiental. As próprias cooperativas têm investido na área técnica para que não haja descuido com a questão ambiental. O nosso produtor brasileiro segue uma das legislações mais rigorosas do mundo. A Expodireto já ajudou em muito nessa construção e vai continuar ajudando.
JC - O Fórum da Carne Bovina estreia nesta Expodireto. Qual a perspectiva para este novo debate?
Manica - Buscamos caminhos para realmente agregarmos valor e fortalecermos o caminho da exportação da carne bovina. É um momento oportuno para todo o sistema ficar atento a este movimento e a esta cadeia da proteína, que tem a capacidade de agregar valor ao agro.
JC - Em relação ao Rio Grande do Sul, há a preocupação com a estiagem ao mesmo tempo em que temos um balanço positivo de exportações do agronegócio. Qual destes cenários deve se sobressair nos debates?
Manica - As duas coisas vão andar juntas na discussão. As entidades terão oportunidade para buscar melhorias nas legislações estadual e federal para que a gente possa criar mecanismos que amenizem uma realidade, por exemplo, de três secas nos últimos quatro anos no Rio Grande do Sul. Os processos de retenção de água e recuperação dos mananciais é importante para todo mundo. A alimentação é questão de segurança nacional. O Rio Grande do Sul tem produzido e exportado bastante. A exportação de commodities é importante, e agora precisamos agregar valor, com a exportação de proteína, por exemplo. É um trabalho gradativo, que temos que perseguir no fortalecimento das cadeias produtivas.
JC - Na Arena Agrodigital, hoje o produtor está adaptado à inovação tecnológica ou ainda é uma transformação cultural em andamento?
Manica - Hoje uma produção dificilmente tem o retorno esperado se não aplicar a tecnologia disponível para melhorar seus resultados. A Expodireto tem um papel importante de mostrar como a tecnologia pode beneficiar o produtor, com o uso demonstrado e o resultado que possa ser mensurado. Neste ano, ainda teremos o acréscimo de cinco dias de painéis de países que vão mostrar o que há de melhor neste setor. Mas fazer com que a tecnologia chegue, e seja, de fato, usada na propriedade, ainda é uma transformação cultural que temos feito. Os jovens que estão participando ativamente da produção vão em busca da tecnologia. Na cooperativa, fazemos o processo de integrar a tecnologia sempre acompanhada da experiência técnica.
JC - E o momento da Cotrijal?
Manica - Temos 65 anos e, embora todas as dificuldades, estamos conseguindo atender nosso produtor, cumprir nosso planejamento estratégico. E a Expodireto nos dá uma credibilidade cada vez maior.