Claudio Medaglia, de Não-Me-Toque (RS)
O estímulo ao acesso à terra pelos pequenos agricultores ganhou destaque na fala do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, nesta segunda-feira (6), durante a abertura oficial da 23ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS). Respaldado pela fala de apoio do presidente da feira, Nei Manica, o ministro procurou desfazer as diferenças entre grandes e pequenos produtores rurais ao defender a possibilidade de crescimento e da conquista da propriedade para todos.
Cauteloso, mas demonstrando coragem, Fávaro pediu atenção ao público que lotava o auditório central do parque do evento antes de introduzir o tema. A manobra arriscada terminou em aplausos depois que o silêncio tomou conta do espaço enquanto ele falava. Logo na sequência, o político foi peremptório ao afirmar que "o governo federal não compactua em hipótese alguma" com invasão de terras privadas e produtivas.
Assim, afagando dois polos de diferentes pontos de vista, o ministro repudiou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e deu apoio à prisão do líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) José Rainha, durante o final de semana, em meio às discussões sobre a volta das invasões de terras pelo País. "Assim como nesse caso, outros sofrerão os rigores da lei se não respeitarem o direito à propriedade privada. O direito à propriedade é legítimo. E o direito de sonhar com a conquista das próprias terras também", observou.
Antes, Carlos Fávaro reiterou a posição de que o governo federal está de portas abertas a todos que reconhecem o resultado das urnas e que é hora de trabalhar juntos pelo Brasil. "Em 2024 ou em 2026, se quiser apoiar ou financiar o candidato que entender melhor, não há problema. Mas, agora, precisamos de união. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhece que a situação do Rio Grande do Sul, com a estiagem, requer atenção. Já foram anunciados recursos emergenciais de R$ 430 milhões para fazer um primeiro enfrentamento aos problemas com a estiagem. Mas sabemos que não é suficiente e que é preciso mais. Serão necessárias políticas públicas estruturantes. E vamos fazer", assegurou o ministro.
Ele destacou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) irá abrir uma linha de crédito com recursos de US$ 5 bilhões para o setor, e que o governo está trabalhando para modalidades mais ágeis de financiamento. Mas pontuou que as altas taxas de juros são um problema a ser superado. “As medidas fiscais do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostram a seriedade e o compromisso deste governo com a estabilidade financeira do País. Precisamos sensibilizar o presidente do Banco Central para que seja possível reduzir as taxas de juros e viabilizar a criação de programas acessíveis ao produtor”.
Fávaro também deu ênfase à importância da proteção do status sanitário do Brasil frente ao momento difícil pelo mundo todo, especialmente com a gripe aviária. “Temos um sistema eficiente, mas é preciso manter a atenção e os investimentos para fortalecer a vigilância sanitária para que o Rio Grande do Sul e o Paraná conquistem mercados já alcançados por Santa Catarina."
O ministro também ressaltou que a União está trabalhando intensamente para levantar a auto suspensão dos embarques de carne bovina para a China, por conta do surgimento de um caso de febre aftosa em um bovino no Pará. Analisada por um laboratório no Canadá, a amostra foi considerada “atípica”, sem risco de proliferação pelos rebanhos brasileiros.
Antes dele, o presidente da Expodireto Cotrijal, Nei Manica, disse que é preciso fortalecer o ministro, que é o “porta-voz do setor” junto ao governo federal. Manica pediu e manifestou apoio a Fávaro, produtor rural em Mato Grosso e conhecedor dos problemas do agronegócio. Manica também destacou a feira como um centro de difusão de tecnologias, inovação e de oportunidade de negócios, bem como da busca de soluções políticas para os problemas do agronegócio.
“Enfrentamos um momento ruim no clima, com três estiagens em quatro safras. Esperamos, sim, por medidas que nos auxiliem a passar por essas dificuldades”, disse o dirigente.
Ele salientou a necessidade de melhorar e aprimorar a legislação ambiental para viabilizar a reservação e o aproveitamento da água das chuvas, já que há impasses jurídicos decorrentes das normas de proteção especialmente às Áreas de Preservação Permanente (APPs). “Com mais água, teremos menos problemas, gerando crescimento econômico, empregos e renda”.
O tema da insegurança no campo também foi abordado pelo governador Eduardo Leite (PSDB), que garantiu o uso imediato das forças policiais em eventuais casos de invasão de propriedades privadas no Rio Grande do Sul. Leite tratou do assunto atribuindo a ele repercussão econômica. “Quando há insegurança, o investidor se afasta. Ninguém quer colocar dinheiro onde há risco ou onde as chances de retorno são menores. A insegurança também é precificada, eleva custos e onera o consumidor”, disse o governador, sob aplausos.
Após a inauguração da feira, que contou ainda com as participações de deputados estaduais e federais, senadores da República, secretários de Estado e da embaixadora de Gana no Brasil, Abena Busia, a comitiva circulou pelo parque. A placa em homenagem à senadora Tereza Cristina (Progressistas-MS), ex-ministra da Agricultura, na Calçada da Fama na Expodireto também ganhou destaque na programação política.
A feira segue até esta sexta-feira (10), com intensa agenda de palestras, painéis, demonstrações técnicas e negócios. Afinal, são 591 empresas presentes nos 131 hectares do parque, 31 delas somente na Arena Agrodigital. Nesta terça-feira, um dos destaques no espaço é o painel O Ecossistema Agro inovador de Israel, às 10h. À tarde, a partir das 14h, a abordagem será sobre o Impacto das tecnologias de Israel no Agro Brasileiro.