A 41ª Convenção Gaúcha de Supermercados - Expoagas 2024 foi batizada como a feira da superação. Depois da catástrofe com as chuvas do final do mês de abril e início do mês de maio, impactando produção, transporte e comercialização em todo o Estado, o setor supermercadista comemora a possibilidade de retomada. A feira acontece até o dia 22 de agosto, no Centro de Eventos da Fiergs, com algumas adaptações, em função das limitações do local, também atingido pelas cheias.
"Vamos bater recorde de público", festeja o presidente da Associação Gaúcha de Supermercadistas, Antônio Cesa Longo, lembrando do temor, há cerca de três meses, que o evento não pudesse ser realizado. A entidade calcula mais de 63 mil visitantes aos 496 estandes - o mesmo número da edição anterior, com a movimentação de cerca de R$ 700 milhões em negócios.
A entidade também aposta na movimentação proporcionada pela Agas Jovem, cuja programação teve início no dia 17, com o II Encontro Nacional de Jovens Supermercadistas na Serra gaúcha.
Jornal do Comércio - Como foi a escolha do tema e a organização desta edição da Expoagas?
Antônio Cesa Longo - Houve um momento em que achávamos que não iria se realizar, que o evento estava cancelado. A Fiergs estava em uma situação difícil com o que aconteceu, naquele episódio das enchentes. Não tínhamos local. Começamos a procurar outros lugares. E daí veio o nome Superação. A gente pensou: não, tem que ser lá na Fiergs! Naquele momento, todo mundo estava querendo se doar, o Brasil inteiro querendo ajudar e a Agas ajudando com água, cobertor, comida, kit de higiene. Mas a gente queria mais. A realização desse evento é de superação também porque teremos mais de 3 mil pessoas que vão trabalhar.
JC - Foi preciso adaptar o local?
Longo - Houve muita conversa, e uma sensibilidade muito grande. O Bier (Cláudio Bier, presidente da Fiergs) comprou a ideia de imediato. O Petry ( Gilberto Petry, ex-presidente) também não mediu esforços. O auditório estava destruído, mas achamos uma solução, construir um teatro de lona lá fora, um pouco menor. Os estandes também foram readequados, com projetos com menos peso e menos altura para não prejudicar e colocar em risco o piso. E a nossa preocupação também foi com os prestadores de serviço. São 3 mil pessoas que trabalham com vontade de se reerguer.
JC - O número de expositores se manteve?
Longo - Todo mundo confirmou, mantivemos 496 expositores. Só dois, realmente, não tiveram condições porque a empresa não voltou a funcionar. Essa é a superação. O Brasil vai estar ali, mesmo com todas as dificuldades da falta do Aeroporto Salgado Filho.
JC - Como será a programação?
Longo - A programação começa mesmo no dia seguinte, com painelistas que estão dentro da superação pessoal, como o Paulo Jeremias (sócio-fundador da rede Di Paolo), que perdeu restaurantes, mas está de volta. Tem também a nossa presidente do Agas jovem (Roberta Barreto, proprietária dos supermercados Codebal, de Eldorado do Sul), que, de quatro lojas, perdeu três, e está reconstruindo. Todos os painelistas perderam lojas. Teremos a participação do Tinga, do Rubinho Barrichello, da Maju Coutinho. O Rubinho Barrichello tem uma história muito legal. Mesmo com toda dificuldade logística, ele estará aqui. Vai chegar por Belém Novo.
JC - A feira também será espaço para as ações da Agas?
Longo - Sim, o legal é que todas as inscrições para associados são grátis, no outro ano eram pagas. E, para os pequenos estabelecimentos, de serviços, bares, hotéis e restaurantes, é R$ 20,00. E vamos dobrar o nosso fundo: para cada pequeno que paga R$ 20,00, a gente deposita R$ 40,00 para continuar ajudando. Naquele primeiro momento, ajudamos a salvar vidas. Doamos para o Estado o drone mais moderno que tem no Brasil e que segue salvando vidas. Mas sabemos que as dificuldades continuarão. Após a feira, vamos fazer uma doação para o Hospital Nossa Senhora das Graças. A feira vai ser muito importante para essa continuidade. Esses expositores fizeram um esforço para estar na feira.
JC - Estar na feira é importante por ser uma vitrine nessa retomada.
Longo - Com certeza, essa é garra de todos, de fazer a melhor de todas as feiras — e será — justamente porque quem está expondo também tem alguma dificuldade. Cada um que vai lá vai porque é a continuidade da empresa, vai para fazer negócio. São 496 empresas. Vamos sortear um carro para motivar todo mundo a fazer negócio. São R$ 700 milhões, somente nesses três dias. É um evento que antecede a Semana Farroupilha e a Expointer, isso é muito simbólico.
JC - Qual vai ser a programação do Agas Jovem?
Longo - Vamos ter o encontro nacional de jovens supermercadistas, o Agas Jovem. O Giovanni (Giovanni Tumelero, diretor-presidente do Jornal do Comércio) é padrinho. Será na Serra, que também foi atingida. Vamos fazer um encontro nacional, em Gramado, com os jovens, e, simultaneamente, em Bento Gonçalves, nos locais turísticos. O Agas Jovem foi criado há 21 anos e se tornou um modelo para o setor no Brasil. Mais de 70 jovens supermercadistas vão participar da programação na Serra. No outro dia, visitamos supermercados referências.
JC - A abertura também foi inspirada nessa superação?
Longo - Neste ano, a gente linkou a feira com a comemoração dos 200 anos da imigração alemã e dos 150 anos da italiana. Os cônsules já estão confirmados. Vamos fazer uma encenação dos imigrantes chegando. Vai ser muito legal. E esse tema tem tudo muito a ver com o que passamos. Essa homenagem vai ser a grande atração da abertura, que acabou sendo antecipada para segunda-feira, na Casa NTX. Na realidade, todos nós somos descendentes de imigrantes. Nossos antepassados tiveram histórias de superação para contar. Nessa noite do dia 20, vamos ter a apresentação do aplicativo Ajuda Sul, que em 12 horas do lançamento conseguiu mapear todos os setores, as lojas que foram atingidos, com geolocalização. No dia seguinte do lançamento, começamos a passar para os fornecedores os que foram inundados, quem precisava de mais atenção, quem precisava de prazo, de bonificação. Foi um trabalho que ajudou o fornecedor a saber quais eram as empresas que haviam sido, efetivamente, atingidas, quais lojas a ajudar de imediato.
JC - Qual foi o impacto da falta do aeroporto?
Longo - Acho que vai ser um evento de retomada mesmo do nosso Estado, que está sem o aeroporto, sem Trensurb, todos com dificuldades. A falta do aeroporto quase que nos risca do mapa, mas conseguimos. Vem gente de Florianópolis, Passo Fundo, Caxias, Jaguaruna. A gente está trazendo supermercadistas de outros estados para prestigiarem a indústria gaúcha. Todo mundo queria vir, mas a logística é complicada. Tivemos que fazer um quebra-cabeça. Acho que acertamos no tema: superação.