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Publicada em 04 de Dezembro de 2024 às 20:43

Estudo visionário em microbioma intestinal teve apoio da Fapergs

Médica Themis Reverbel também contou com apoio da Fapergs durante sua carreira na área da saúde, e será homenageada por isso

Médica Themis Reverbel também contou com apoio da Fapergs durante sua carreira na área da saúde, e será homenageada por isso

THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Loraine Luz, especial para o JC
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A Fapergs está indissociada de importantes momentos da trajetória de uma das mais notáveis médicas e pesquisadoras do Estado. Themis Reverbel da Silveira começa sua relação com a fundação logo em seguida de sua residência médica em gastroenterologia. "A minha longa e muito proveitosa relação com a Fapergs teve seu início no final da década de 1960. Recebi minha graduação em dezembro de 1964. Temos o mesmo tempo de caminhada: 60 anos", observa a médica doutora em Medicina Genética com vasta produção científica e que tornou o Estado referência em hepatologia pediátrica.
Atuando na pediatria da Santa Casa, a recém médica Themis se sensibilizou com a frequência de casos de desnutrição crônica, anemia e diarreia. Ela, então, sugeriu estudar a flora do tubo digestivo por meio de um método inovador na época, a tubagem duodenal para colheita de material do intestino delgado, e comparar os resultados com a coprocultura, que era a prática usual para investigar os microrganismos do tubo digestivo. Themis foi orientada pelo professor Newton Neves da Silva, membro do primeiro Conselho Superior da Fapergs e um dos fundadores do Instituto de Pesquisas Biológicas do Estado. "Para realizar este projeto, ganhei uma bolsa da Fapergs e assim teve início a minha trajetória de pesquisadora clínica. O estudo, original na época, teve ampla divulgação em congressos nacionais e internacionais. Hoje em dia, este tema, o microbioma intestinal, é do maior interesse científico, sendo considerado o segundo cérebro das pessoas, tal a sua importância", observa a médica. "O que suspeitávamos, na distante década de 1960, agora está comprovado: a relação entre o desenvolvimento de doenças, o aumento da permeabilidade da parede intestinal e a presença de disbiose", completa.
Em 2010, Themis se tornou a primeira mulher presidente do Conselho Superior da Fapergs. "Participando então mais diretamente da administração da instituição, não mais como bolsista ou pesquisadora, tive a oportunidade de avaliar melhor a dimensão do papel importante da nossa agência na formação de recursos humanos regionais e no desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica de ponta", explica.
Dessa época, ela destaca o pioneirismo da Fapergs no programa Integração Universidade Empresa, cujo objetivo foi investir na manutenção e na criação dos Núcleos de Inovação e Transferência de Tecnologia. "Houve uma enorme demanda, tendo sido possível atender apenas metade das solicitações", recorda ela. Em 2010, a Fapergs e a Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social firmaram uma parceria para selecionar projetos de entidades sociais contemplados com bolsas internacionais. E, no mesmo ano, a fundação publicou um edital para submissão de propostas relacionadas a mudanças climáticas e eventos extremos. "Durante o período em que estive na presidência do Conselho Superior, merece destaque especial a assinatura do convênio Capes-Fapergs para bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado", acrescenta.
Ao longo da carreira, Themis sempre foi muito atuante em programas de pós-graduação da UFCSPA e da Ufrgs, em grupos de pesquisa e de pós-graduação do Hospital de Clínicas (onde implantou o centro de pesquisas), além de ter criado, em 1994, e coordenado até 2008 o primeiro centro de transplante hepático especializado para crianças do sul do Brasil. Ela entende que um dos papéis mais importantes da fundação foi o suporte à iniciação científica, tecnológica e de inovação. "Faz com que os alunos, ainda na graduação, aprofundem seus conhecimentos e, se estimulados a persistir nos projetos, se tornem pesquisadores mais qualificados. Este apoio é um grande estímulo para os jovens", observa. "Em pesquisa, não há geração espontânea, é necessário estímulo. Investir em pesquisa não é gasto. Está articulado com o desenvolvimento social, ambiental e econômico", defende a médica.
Themis está ciente de que a Medicina é uma das áreas com maior atenção das agências de fomento. A saúde pública, especialmente, é um dos eixos estratégicos prioritários da Fapergs. "Basta lembrar que cerca de 30% dos artigos publicados por profissionais do Hospital de Clínicas de Porto Alegre são frutos de financiamento da Fapergs", observa. Ela continua: "Em relação à produção científica, é evidente que estamos progredindo. Mas precisamos reconhecer que ainda temos problemas. Um deles, a publicação em revistas de alto impacto".
A publicação é fundamental para a avaliação, pela Capes, do desempenho dos programas de pós-graduação. Segundo a pesquisadora, "os preços cobrados pelas revistas para avaliar, traduzir e, eventualmente, publicar, estão cada vez mais difíceis de aceitar". Por fim, Themis alerta que, apesar dos esforços das comunidades científicas e dos órgãos especializados há, periodicamente, a ameaça de corte das verbas destinadas às pesquisas. "Não há, na saúde, uma estrutura de apoio que seja permanente, abrangente e imune às variações políticas", avalia. "Penso na Embrapa e na Embraer, os melhores exemplos de como é possível realizar pesquisa de ponta no nosso País, e quero acreditar que ainda chegaremos lá", conclui. "Ao longo dessas seis décadas, a Fapergs manteve, de maneira exemplar, as linhas básicas dos que a conceberam. Sem fazer distinção entre pesquisa teórica e aplicada, clínica e experimental, soube valorizar a qualidade dos projetos e das pesquisas nos mais diversos campos do conhecimento. Soube dar a devida importância à internacionalização, confirmando acordos com instituições congêneres no mundo. Apesar das inúmeras dificuldades, os gaúchos só têm motivos de orgulho da Fapergs, que possibilita mantermos o nosso merecido destaque nas diversas áreas de interesse."

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