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REPORTAGEM ESPECIAL

- Publicada em 17 de Outubro de 2022 às 15:55

Ferramentas de inovação na saúde abrem novas possibilidades em prevenção, diagnóstico e tratamento

No Dia do Médico, profissionais da saúde falam sobre as novidades do mercado, expectativas para o futuro, consolidação da tecnologia nas rotinas e celebram a volta de congressos

No Dia do Médico, profissionais da saúde falam sobre as novidades do mercado, expectativas para o futuro, consolidação da tecnologia nas rotinas e celebram a volta de congressos


/ANDRESSA PUFAL/JC
As inovações na medicina avançaram de forma acelerada nos últimos anos. Tecnologias como robótica e inteligência artificial vêm contribuindo para progressos significativos na prevenção e no tratamento a enfermidades. O diagnóstico também passou por uma revolução ao levar em conta a carga genética, o que deu mais precisão e ampliou significativamente o arsenal de informações.
As inovações na medicina avançaram de forma acelerada nos últimos anos. Tecnologias como robótica e inteligência artificial vêm contribuindo para progressos significativos na prevenção e no tratamento a enfermidades. O diagnóstico também passou por uma revolução ao levar em conta a carga genética, o que deu mais precisão e ampliou significativamente o arsenal de informações.
Isso permite ao médico, por exemplo, definir a aplicação de um fármaco de acordo com a necessidade individual do paciente. As pesquisas também ganharam reforço e não se restringiram a estudos de vacinas e tratamentos para Covid-19. Nessa esteira, o teleatendimento passou a ser realidade em todo o País. "Se analisarmos um período de cinco anos, percebemos claramente o quanto houve uma transformação neste cenário. Inteligência artificial, robótica, wearables, metaverso, Internet das Coisas (IoT), telemedicina. Ferramentas que oportunizam agilidade, segurança e assertividade nos diagnósticos e tratamentos", destaca Luiz Antonio Nasi, superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento.
Surgiram arsenais de drogas, como imunobiológicos para doenças graves e raras, destinados a doenças inflamatórias intestinais e esclerose múltipla, entre outros. Medicamentos com resposta a doenças neurológicas e para tratamento do câncer, mesmo não sendo novidade, tiveram um salto na quantidade disponível. "Quem olha de fora pode ter impressão de que o setor da saúde, sob a perspectiva da medicina, tenha ficado em stand-by após a eclosão da pandemia. A realidade foi o contrário, vários pilares de desenvolvimento e inovação acabaram trabalhando ao mesmo tempo e gerando muita evolução", explica Rafael Cremonese, diretor-geral do Hospital Mãe de Deus.
 

Monitoramento online acelera diagnósticos

Carisi Anne Polanczyk, do Hospital Moinhos de Vento

Carisi Anne Polanczyk, do Hospital Moinhos de Vento


/hospital Moinhos de Vento/Divulgação/JC
Ferramentas digitais para monitoramento da saúde em tempo real por meio de dispositivos móveis, como mobiles, biossensores e wearables, vêm ganhando espaço. Há poucas semanas, no Congresso Europeu de Cardiologia, na Espanha, pesquisadores mostraram que o monitoramento em tempo real durante dois minutos por 14 dias por meio de aplicativo de smartphone aumentou as chances de detectar arritmias cardíacas. O relato é de Carisi Anne Polanczyk, chefe do Serviço de Cardiologia, Cirurgia Cardíaca e Vascular do Hospital Moinhos de Vento, que participou do encontro em Barcelona.
Entre os wearables, o mercado disponibiliza gadgets semelhantes a relógios e pulseiras, mas cheios de tecnologia. Alguns modelos de pulseiras digitais, chamadas smartband, verificam os níveis de oxigenação do sangue, e são capazes de identificar pessoas com apneia do sono ou com sonolência ao dirigir. Esses aparelhos entregam informações de desempenho e frequência cardíaca e funcionam conectados a um smartphone por bluetooth. Enquanto o smartwatch, mais parecido com um relógio, oferece funções variadas e pode ser acessado independente do celular, outros equipamentos, como monitores de pressão arterial digital, estão configurados para envio de informações por bluetooth para profissionais de saúde em cenários de risco.
Outra novidade que é realidade no Brasil é o monitoramento de forma automatizada de diabéticos tipo 1. Um sensor de inteligência artificial envia dados sobre os níveis de glicose via bluetooth para o celular e para a bomba de insulina, permitindo o acompanhamento da glicemia e a liberação de insulina, conforme a necessidade. "É preciso lembrar que há 100 anos não se conhecia insulina e pessoas com essa enfermidade tinham vida muito curta. Agora, a medição é em tempo real, o que reduz risco de hipoglicemia e hiperglicema", conta Marcos Rovinski, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
Além da criação de novos produtos, o marcapasso, conhecido por décadas de uso, ganhou a atenção de pesquisadores. Agora, integra a categoria de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis que agregaram novas funções para casos de arritmia, como reanimar o coração ou desacelerar os batimentos. Há modelos subcutâneos e até micro marcapasso, que pode ser inserido dentro do coração.
Juliana Cardozo Fernandes, gestora de Fluxos Assistenciais do Hospital Ernesto Dornelles, credita os avanços mais rápidos na área da saúde nos últimos anos ao espírito colaborativo entre pesquisadores e profissionais que se verificou a partir da pandemia. "Várias iniciativas de inovação foram aceleradas neste contexto", observa.

Hoje, a tecnologia ocupa cada vez mais espaço no atendimento médico. Por outro lado, está associado, muitas vezes, a um investimento elevado e que deve ser considerado.
"A questão de custo é também importante no País, pois temos parte muito grande da população que utiliza apenas o Sistema Único de Saúde e onde a tecnologia tem um custo ainda maior", observa Antonio Kalil, diretor médico da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Telemedicina se consolida e abre novas conexões

Fabiano Ramos, do São Lucas:

Fabiano Ramos, do São Lucas: "os médicos estão se adaptando"


/Pucrs/Divulgação/JC
Uma prática discutida há anos foi implementada na pandemia pela necessidade urgente de prestar serviços à população que ficou trancada em casa: o teleatendimento. Após avanços e reveses em anos de discussões em razão da complexidade do tema, a telemedicina foi regulamentada. Em maio deste ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou a Resolução nº 2.314/2022 e estabeleceu seis categorias, incluindo o teleatendimento.
"É uma modalidade de atendimento que veio para ficar. Muitas vezes, diminui a circulação de pacientes em consultórios e hospitais e ajuda a desafogar as emergências", conta Marcelo D'Avila, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).
Da consulta remota, passando pela cirurgia realizada por um robô manipulado por um médico em outro local, o exercício da medicina a partir do uso de Tecnologias Digitais, de Informação e de Comunicação (TDICs) traz uma série de vantagens e de desafios. Entre os benefícios, permite assistência a pessoas com dificuldade de locomoção, beneficia localidades onde faltam especialistas, inclusive com teleinterconsulta, possibilita emissão de laudos, monitoramento da saúde, entre outros.
Para o presidente do Simers, Marcos Rovinski, a pandemia popularizou a internet no atendimento a pacientes e na cooperação entre médicos e hospitais de diferentes localidades. "O Simers conseguiu orientar pequenas UTIs no Interior do Estado por meio de convênio. Prestamos consultoria a médicos que não tinham experiência como intensivistas, o que foi fundamental", detalha, explicando que a telemedicina possibilita o atendimento especializado em locais distantes de grandes centros urbanos.
O infectologista Fabiano Ramos, diretor técnico do Hospital São Lucas da Pucrs, reforça que a telemedicina muda a prática e os médicos, de forma geral, que não eram preparados para isso em razão do ensino tradicional. "Tem relação também com a origem do médico, que precisa ter o toque, conversar e examinar o paciente." Agora, os médicos estão se adaptando, alguns com maior dificuldade. A telemedicina oportuniza trocas de informações e discussões entre profissionais de todo o mundo, possibilita que se façam reuniões por vídeo, e democratiza o acesso ao conhecimento.
De acordo com a resolução do CFM, a telemedicina pode ser utilizada na assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões, gestão e promoção de saúde, em tempo real online (síncrona) ou offline (assíncrona). Com normativas que estabelecem questões éticas no exercício da atividade, o conselho destaca a autonomia do médico para decidir se a primeira consulta, que se mantém como padrão ouro, será presencial ou remota. "Nada substitui a relação direta, mas em uma situação emergencial, a telemedicina pode ser o único meio de garantir atendimento", complementa Rovinski.

Modalidades de atendimento a distância

Em maio, o Conselho Federal de Medicina divulgou a Resolução nº 2.314/2022 e regulamentou o serviço, até então polêmico

Em maio, o Conselho Federal de Medicina divulgou a Resolução nº 2.314/2022 e regulamentou o serviço, até então polêmico


/Hospital da Pucrs/Divulgação/JC
Teleconsulta: consulta médica não presencial, mediada por TDICs, com médico e paciente localizados em diferentes espaços.
Teleinterconsulta: ocorre quando há troca de informações e opiniões entre médicos, com ou sem a presença do paciente, para auxílio diagnóstico ou terapêutico, clínico ou cirúrgico.
Telediagnóstico: emissão de laudo ou parecer de exames, por meio de gráficos, imagens e dados enviados pela internet.
Telecirurgia: procedimento feito por um robô, manipulado por um médico que está em outro local.
Televigilância (ou telemonitoramento): coordenação, indicação, orientação e supervisão de parâmetros de saúde ou doença, por meio de avaliação clínica ou aquisição direta de imagens, sinais e dados de equipamentos ou dispositivos agregados ou implantáveis nos pacientes.
Teletriagem: avaliação médica dos sintomas do paciente, a distância, para regulação ambulatorial ou hospitalar e, conforme a necessidade, direcionamento para assistência ou especialista.
Fonte: Conselho Federal de Medicina (CFM)

Gestão das instituições passa por reformulação

No Mãe de Deus, os profissionais foram chamados a participar mais dos processos decisórios, tendo papel relevante nas mudanças

No Mãe de Deus, os profissionais foram chamados a participar mais dos processos decisórios, tendo papel relevante nas mudanças


/Mãe de Deus/Divulgação/JC
A administração das instituições de saúde não passou incólume pela pandemia. A necessidade de reinventar metodologias, adequar escalas, equilibrar custos limitados, driblar falta de insumos e atender necessidades de equipes e pacientes mudou de forma acelerada e profunda a gestão. Médicos foram desafiados a apresentar projetos inovadoras dentro de hospitais e consultórios e trouxeram, além da garantia no atendimento, melhorias em processos e nas organizações como um todo.
Instituição de saúde e de ensino, o Hospital São Lucas da Pucrs teve o desafio duplo de reformular sistemas e gestão. "A pandemia nos fez olhar para os processos dentro dos hospitais, que precisavam ser melhor controlados para que não ficássemos sem medicações básicas. Essa reorganização foi fundamental, pois, muitas vezes, é determinante para o destino de uma organização", observa Fabiano Ramos, que coordenou a pesquisa da vacina CoronaVac no Hospital São Lucas.
No Hospital Pompeia, de Caxias do Sul, a pandemia também fez com que a administração buscasse soluções imediatas para atender às necessidades de urgência e alternativas para garantir a sustentabilidade da instituição. Para melhorar a performance, o hospital está implantando uma nova versão Philips Tasy, solução de informática para gestão. O sistema de produção e prontuário do hospital agiliza o processo e torna melhor o desfecho do paciente.
"Conseguimos medir indicadores de forma rápida, o que nos faz repensar toda a estrutura do hospital", explica Thiago Passarin, diretor técnico do Hospital Pompeia.
Reuniões virtuais e ferramentas operacionais, como aplicativos e dashboards (em português, paineis de informações) institucionais, foram algumas das mudanças impostas no começo da pandemia no Hospital Ernesto Dornelles (HED). "Dificilmente algum gestor conseguiu manter a operação eficiente e rápida o suficiente para salvar o maior número de vidas possíveis dentro da sua capacidade instalada sem acesso à informação em tempo real", diz a pneumologista Juliana Cardozo Fernandes, gestora de Fluxos Assistenciais do HED.
As tecnologias tornaram dinâmico o acesso a dados e ajudaram a garantir o contato entre as equipes do HED. "Essas ferramentas garantiram a conexão entre as equipes, interações importantes e necessárias que precisam ser tomadas em grupo", afirma Juliana, explicando que muitas reuniões seguem virtuais por dinamizarem o trabalho, poupando deslocamento dentro da instituição e otimizando o tempo.
No Hospital Mãe de Deus (HMD), os profissionais foram chamados a participar mais dos processos, tendo papel mais relevante na administração. "Médicos foram desafiados a trazer projetos e ideias inovadoras e o hospital passou a ser catalisador das boas ideias. Mais de 15 projetos vieram de reuniões que realizamos semanalmente. Uma das iniciativas é o Núcleo de Neuro-oncologia do Centro Integrado de Oncologia", detalha o neurocirurgião Luiz Felipe Alencastro, coordenador da Neurologia do HMD.

Outra inovação do HMD é a adoção do conceito de Atenção à Saúde Baseada em Valor - em inglês,
Value-based Health Care (VBHC), a partir do lançamento do Escritório de Valor em Saúde. O primeiro projeto é da coluna, com a reunião de um grupo de especialistas que verifica o que é valor no paciente: não sentir dor, voltar ao trabalho no menor tempo possível, fazer todas as atividades que fazia antes sem dor ou todas essas alternativas. "A partir daí, começamos a analisar as medidas que se pode tomar para atingir o melhor resultado, mas com o menor desperdício de recursos, de esforços. Não significa economizar para tratar, mas atuar em protocolos bem desenvolvidos, e, para isso, é preciso inovar", conta Alencastro.

A iniciativa tem um coordenador, neurocirurgiões e ortopedistas trabalhando juntos. Há ainda a equipe de Tecnologia da Informação, analista de dados e o gestor de projetos.
"É um colegiado que visa dar o melhor resultado para o paciente, para que se sinta bem tratado e acolhido, sem ter que peregrinar por vários médicos", complementa Alencastro. Implementado este ano, o projeto foi desenvolvido durante seis meses e deve ser replicado em todas as outras áreas da medicina que o Hospital Mãe de Deus atua.
"Queremos oferecer um ambiente seguro onde o paciente vai encontrar a melhor resposta, sem perder tempo, recursos ou ficar afastado do trabalho. Isso tudo é inovação, porque vai ter de usar softwares dedicados, vai ter de fazer uma análise de dados de forma diferente. É uma maneira inovadora de ver o cuidado com o paciente. Pode parecer habitual, mas não é assim que ocorre", explica o coordenador da Neurologia do HMD.
Rafael Cremonese, diretor geral do Hospital Mãe de Deus e responsável pelas mudanças na administração, destaca a importância do setor de qualidade, time responsável por analisar todos os processos do hospital e receber as demandas do paciente. "Sempre se teve orientação para a necessidade do paciente, mas é diferente desenhar processos a partir das necessidades deles", explica o médico, que é especialista em medicina intensiva.
Também os próprios pacientes têm espaço em um conselho, e dão opiniões em questões complexas ou simples, como o novo desenho da recepção da internação, que colocou as pessoas na espera mais próximas às janelas, para ampliar o conforto da luz natural. Essa participação do cliente tem relação com as mudanças no mercado da saúde. Nos últimos anos, houve maior inserção de capital e um movimento de consolidação, com a criação de grandes redes. "As instituições começam a ser mais parecidas com a indústria sob o ponto de vista de gestão. Também mudou a relação com o paciente. O cliente quer participar mais das decisões de tratamento, quer ser informado de forma prática. Ele pesquisa, lê, tem opiniões. Estamos tentandp entender este paciente", comenta Cremonese.
A construção de um sistema de governança no Hospital Divina, da Divina Providência, também preconiza o envolvimento do corpo clínico, assim como de pacientes e operadoras. Willian Dalprá, diretor técnico da instituição, explica que, na prática, o Divina constrói junto com as equipes médicas as soluções para entregar melhor qualidade. "Ao envolver o corpo clínico na estrutura de governança, estamos olhando a performance médica, aqueles profissionais que de fato conseguem ter o melhor resultado de desfecho clínico", observa.
O novo direcionamento do Divina para um formato mais flexível é uma resposta às mudanças na saúde suplementar. "Percebemos maior influência da medicina verticalizada, onde a operadora do plano de saúde tem sua própria estrutura hospitalar. Sendo um fornecedor de serviços, o Divina precisa ser parceiro da operadora, em uma perspectiva de eficiência operacional, baixo custo e melhores desfechos clínicos", afirma Dalprá, destacando que o hospital está caminhando para a monitorização e divulgação de seus desfechos clínicos para que seus públicos identifiquem a qualidade assistencial e escolham a instituição para aquele tipo de procedimento.

Tecnologias de precisão viram aliadas dos profissionais

No Moinhos de Vento, em Porto Alegre, foram realizadas as primeiras cirurgias com o novo robô Versius

No Moinhos de Vento, em Porto Alegre, foram realizadas as primeiras cirurgias com o novo robô Versius


/Karine Vianna/Divulgação/JC
Três procedimentos em pacientes de especialidades distintas foram realizados no dia 12 de outubro com o novo robô Versius. A estreia marcou a ampliação e a qualificação do núcleo de cirurgia robótica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
O equipamento permite ao cirurgião maior precisão no procedimento e visualização em um monitor 3D HD, além de instrumentos com flexibilidade maior do que uma mão humana. "A cirurgia precisa e eficiente com cortes pequenos leva a menos dor no pós-operatório, alta precoce e recuperação mais rápida", destaca o urologista e coordenador do Núcleo de Cirurgia Robótica do Hospital Moinhos de Vento, André Berger. Nos próximos dias, o Versius também será utilizado em cirurgia torácica, ginecológica e geral.
Tecnologias como a inteligência artificial, cirurgia robótica, telemedicina, aparelhos eletrônicos vestíveis com sensores conectados à internet (IoT), big data, computação em nuvem e engenharia genética estão avançando em nível acelerado e são cada vez mais utilizadas em instituições de saúde. Outro instrumento, já bastante disseminado, é o prontuário eletrônico, que permite o armazenamento de informações dos pacientes, como dados pessoais, histórico, sintomas, resultados de exames e tratamentos. Tudo fica em um mesmo local, o que facilita o acesso por diferentes profissionais a qualquer momento.
Nos últimos dois anos, o Hospital Ernesto Dornelles (HED) acelerou uma série de iniciativas de inovação. A mais recente foi inaugurada em setembro deste ano: o novo Centro de Neurologia e Neurocirurgia. De acordo com Juliana Cardozo Fernandes, do HED, por meio de avaliação neurodinâmica não invasiva, é possível, por exemplo, medir as ondas cerebrais e verificar a pressão intracraniana em vítimas de traumas, hemorragias, tumores e até cefaleia pós-Covid.
Desde 2021, o HED oferece tratamentos de diálises personalizadas, quando abriu o Centro de Nefrologia em Diálise. No Centro de Saúde Digestiva, é possível realizar cirurgia de redução de estômago para tratamento da obesidade por endoscopia, menos invasiva. Na Unidade de Cuidados Respiratórios foi criada uma ala com cuidados intermediários para pacientes graves não entubados. "Neste espaço, um familiar poderia acompanhar, com equipamento de proteção, seus entes queridos com Covid, o que agregou muito no estado emocional dessas pessoas que sofreram, além da doença, o isolamento da família", detalha Juliana. Com atendimento multidisciplinar, o Hospital Mãe de Deus criou este ano o Núcleo de Neuro-oncologia do Centro Integrado de Oncologia do HMD, com tecnologia de ponta em exames de diagnóstico e intervenções cirúrgicas para pacientes com tumores de crânio ou coluna. Em 2021, foi instalada a Emergência Cardioneurológica, com uma porta vermelha para garantir atendimento imediato. "Sabemos que no infarto agudo do miocárdio ou no AVC, tempo é vida, tempo é precioso", destaca Rafael Cremonese, diretor-geral do HMD.

A partir da triagem, o paciente da Emergência Cardioneurológica é atendido por um cardiologista para avaliação antes mesmo de um familiar resolver a parte burocrática. "Isso só foi possível com investimento em processos, na organização da dinâmica, na parceria entre serviços e em investimentos", explica Alencastro.
O HMD adquiriu uma nova tomografia, ressonância e hemodinâmica para atender com melhor qualidade o paciente que chega na emergência com uma situação hiper aguda.

Após realizar cirurgias por robótica em ortopedia, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, aguarda liberação da Anvisa para utilizar o robô em cirurgias de quadril, ainda não permitidas no Brasil. Segundo Adroaldo Mallmann, diretor técnico médico do HSVP, a tecnologia possibilitou maior precisão, minimizando riscos de não alinhamento adequado das próteses, reduziu complicações, sangramento e tempo cirúrgico.
Outro importante procedimento adotado no hospital, no departamento de Cirurgia Cardíaca, foi a técnica inovadora de fibrilação atrial, que reduziu o tempo do procedimento de até duas horas para, no máximo, 30 minutos. "Tudo isso com a mesma resolução, tempo menor de anestesia, custo menor para a saúde complementar ou SUS e o próprio hospital", declara Mallmann.

Relação com o paciente se mantém como essencial

Serviço de hospitalidade do HED acompanha toda a jornada

Serviço de hospitalidade do HED acompanha toda a jornada


/HED/Divulgação/JC
"A evolução da medicina é absolutamente imprevisível, mas nada pode colocar em perigo a relação do médico com o paciente, que é o pilar da atuação do profissional. Nada pode abalar essa conexão. Não somos máquinas, somos pessoas", afirma Marcos Rovinski, presidente do Simers. Neste contexto, hospitais estabeleceram escritórios de experiência com o paciente, onde as equipes de atendimento se conectam mais com as famílias.
Um dos hospitais que adotou o escritório de experiência foi o Ernesto Dornelles. Nesta linha, o HED criou um serviço de hospitalidade, que permanentemente acompanha a jornada do paciente para tentar perceber suas pequenas necessidades. "Isso permite que o paciente e sua família tenham mais voz ativa na interação com a equipe assistencial (médico, psicólogo, fisioterapeuta, enfermeiro) e participe tanto das decisões quanto da execução de seu plano terapêutico", explica Juliana Fernandes, gestora de Fluxos Assistenciais do HED.
Hoje, muitos indivíduos chegam no consultório com dúvidas estruturadas, após buscar informações sobre investigação e tratamento, nem sempre de fontes seguras, na internet. Isso exige uma escuta qualificada por parte do médico. "Não existe inteligência artificial ou exame que supere a orientação médica. A arte da medicina é personalizar o tratamento", diz.
A cada dia, devido ao avanço da medicina, os médicos são capazes de compreender, diagnosticar e tratar melhor determinados tipos de doenças e condições de saúde, explica Luiz Antonio Nasi, superintendente médico do HMV. "Com estas melhorias, conseguimos oferecer alternativas mais rápidas, eficazes e seguras para nossos pacientes que antes tinham menos chances de cura ou de manter a qualidade de vida frente à determinada doença." É preciso se preocupar com a performance, considera Antonio Kalil, da Santa Casa. "Devemos avaliar a forma como o médico diagnostica e trata os pacientes, não só em termos de uso das tecnologias, mas levando em conta a jornada deles, de serem bem atendidos." Nesse sentido, na maior parte das vezes, a tecnologia acaba auxiliando ao permitir mais tempo de cuidado dos pacientes em uma relação mais próxima. Kalil exemplifica destacando o uso de ferramentas de inteligência artificial para diagnósticos em situações agudas. Por meio de algoritmos, o robô Laura, utilizado na Santa Casa, permite averiguar mais precocemente alterações que levam à piora do estado clínico dos pacientes de determinados tipos de doenças, como infecção.

Futuro traz possibilidades infinitas para a assertividade

As tecnologias trouxeram a exigência de o profissional se atualizar

As tecnologias trouxeram a exigência de o profissional se atualizar


/Andréa Zysko/Divulgação/JC
Quando se pensa em possibilidades de futuro, é importante lembrar que todo esforço da ciência está voltado para melhorar e facilitar a vida das pessoas. Mas não há como prever o quanto a medicina ainda vai avançar e surpreender. Quem esperava, há cinco anos, o que se viveu nos últimos dois anos na saúde? O esforço para desenvolvimento de vacinas conseguiu fazer em 10 meses um trabalho que normalmente demora 10 anos.
Para a médica Carisi Anne Polanczyk, chefe do Serviço de Cardiologia, Cirurgia Cardíaca e Vascular do Hospital Moinhos de Vento, a tecnologia já quebrou muitos paradigmas, mas "o que virá pela frente será ainda mais transformador", ao citar a incorporação do metaverso pela medicina. No atendimento digital, o metaverso possibilita um ambiente mais confortável para algumas pessoas do que uma teleconsulta ou mesmo o atendimento no consultório, facilitando o relato de suas preocupações e ansiedades, especialmente entre crianças e adolescentes.
Neste cenário futurista, o ideal é reunir toda a equipe de trabalho no mesmo ambiente para que se possa fazer a avaliação do indivíduo e ter acesso a métodos de diagnóstico e recursos audiovisuais para explicar a doença e as alternativas de tratamento. "As projeções são para 2040, mas vemos que está acelerando demais. Em alguns cenários pode vir mais cedo", diz Carisi. De acordo com Adroaldo Mallmann, diretor-técnico médico do Hospital São Vicente de Paulo, as tecnologias trouxeram, além dos benefícios em prevenção, diagnóstico e tratamento, uma exigência maior por parte do médico de se atualizar. "Exige cada vez mais treinamento, em plataforma virtual e depois na realidade. Precisa estar junto com médicos com experiência e que ensinam, pois está lidando com vida", destaca. Luiz Antonio Nasi, do Hospital Moinhos de Vento (HMV), reforça. "Percebo que um dos principais desafios neste novo mundo é a necessidade de atualização e adaptação. As oportunidades são inúmeras, e, com certeza, o paciente é o principal beneficiário."

Para responder à necessidade cada vez maior por qualificação contínua, a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) deve abrir nas próximas semanas o Centro de Simulação e Treinamento Clínico.
O projeto tem participação da Cooperativa dos Anestesiologistas de Porto Alegre (COOPA) e da Sociedade de Anestesiologia do Rio Grande do Sul (SARGS), além da parceria de todas as demais 48 sociedades gaúchas de especialidades médicas.

Gerson Junqueira Jr, presidente da AMRIGS, conta que o centro terá condições de oferecer treinamento e simulação virtual, desde procedimentos simples a complexos. Será possível simular exames obstétricos em manequins, endoscopias, videolaparoscopia, técnicas cirúrgicas em robótica e entrevistas em psiquiatria. "Cada sociedade poderá montar os seus cursos, com o seu corpo técnico. Com investimentos de R$ 10 milhões, o complexo terá um cenário para atendimentos a emergências, como acidentes automotivos e catástrofes naturais."