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SISTEMA

- Publicada em 18 de Outubro de 2023 às 00:15

Falhas estruturais preocupam entidades médicas do Estado

Rovinski: "a remuneração é um problema crônico onde o SUS terceiriza"

Rovinski: "a remuneração é um problema crônico onde o SUS terceiriza"


/Simers/Divulgação/JC
Loraine Luz, especial para o JC
Loraine Luz, especial para o JC
As tendências revolucionárias - a maioria apoiada no avanço tecnológico - não se avizinham de forma equânime em toda a rede de saúde, principalmente a pública. Sob uma perspectiva mais abrangente, para além dos hospitais de ponta em regiões com uma prestação de serviços mais diversa e consistente, resolver ou atenuar falhas estruturais é um urgente tema de casa do presente. Caso contrário, a tendência para o futuro é que se acentuem as discrepâncias já verificadas agora. "Não adianta a gente falar em robô e esquecer que em Dom Pedrito e em Bagé não tem Banco de Sangue", compara o presidente da Amrigs, Gerson Junqueira Jr.
Realizada no início de outubro na Capital, a feira internacional de saúde Health Meeting - Business & Innovation atestou a revolução prometida para o setor e embasbacou desavisados que passaram pelo prédio 40 da Pucrs para conferir palestras e expositores. Como representante da entidade que fez a curadoria científica do evento, Henri Siegert Chazan, presidente do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), comenta: "A tecnologia fará parte do dia a dia das instituições cada vez mais. Destaco o uso da telemedicina, da inteligência artificial e de ferramentas como prontuários eletrônicos. Entretanto, nosso sistema de saúde ainda tem grandes disparidades regionais e sociais. A própria sustentabilidade financeira das instituições é uma urgência, sobretudo a crise da saúde suplementar e a defasagem dos modelos de remuneração. É preciso enfrentar os desafios estruturais para que os benefícios cheguem a toda população".
Em junho, a Amrigs elaborou um panorama sobre a situação de uma das regiões mais desprovidas de atendimento. Foi até o Chuí, no sul do Estado, e reuniu representantes de 10 municípios locais no Fórum de Debate da Frente Pró Saúde RS.
"Lá, há uma carência total de determinados serviços", afirma Junqueira Jr. "Vou te dar um exemplo: diálise. Santa Vitória do Palmar, Chuí... não têm diálise. Os pacientes precisam ir até Pelotas. Isso é um problema estrutural", aponta. Segundo ele, é papel da entidade diagnosticar os problemas e manter uma interlocução com os gestores públicos na busca por soluções. "São problemas históricos", reconhece. Estruturas precárias pelo interior do Estado também são diagnosticadas pelo Simers. Segundo seu presidente, Marcos Rovinski, falta incentivo para a fixação do médico fora dos grandes centros. A baixa remuneração é um agravante. "Nós temos discutido a remuneração de médicos em praticamente todo o Estado. Onde tem estrutura SUS que terceiriza, contrata por PJ, a remuneração é um problema crônico", lamenta.
Ainda segundo ele, à exceção de Rio Grande, que aguarda por um novo hospital dentro do complexo da Unimed, não há grandes investimentos privados no Interior nesse sentido.

Outro ponto para o qual as entidades representativas do setor fazem coro diz respeito à abertura de novos cursos superiores sem a devida correspondência nas residências médicas. “Precisamos de critérios mais rígidos para a abertura de cursos”, defende Eduardo Trindade, presidente do Cremers. “Há uma formação em larga escala, sem uma estrutura de qualificação que acompanhe. É importante o médico fazer uma formação continuada após a graduação”, explica. No início do mês, o governo federal definiu o número de vagas que poderão ser abertas por faculdades privadas em cada Estado nos próximos anos – para o Rio Grande do Sul, foram considerados aptos quatro cursos, mais 240 vagas, em 186 municípios.
“O crescimento desenfreado de novas vagas preocupa muito nossas entidades, Amrigs, Cremers e Simers”, confirma Junqueira Jr. “Não adianta abrir, abrir, abrir faculdades se o aluno não vai ter a qualificação adequada”, lamenta o presidente da AMRIGS. O tema também está expresso com preocupação na carta compromisso resultado do II Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina, organizado em setembro pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em Belo Horizonte (MG).