A performance de robôs em cirurgias alimenta significativamente a tendência de a medicina se tornar cada vez mais precisa. Combinando-se ao avanço da inteligência artificial, as máquinas vão ganhando mais e mais autonomia e capacidades perceptivas para decidir e agir.
Do ponto de vista da maior exatidão durante o procedimento, as vantagens são significativas: menos sangramento ou intercorrências durante a cirurgia, menos dor ou complicações no pós-operatório e uma recuperação mais rápida, ou seja, menos tempo de internação - ótimas notícias para pacientes e que também aliviam as demandas de um hospital. De fato, esses benefícios já são uma realidade em centros de saúde maiores e consolidados, inclusive no interior do Estado - como se verá a seguir.
Os robôs atualizaram com larga vantagem, por exemplo, procedimentos que até então eram feitos por videolaparoscopia, em áreas como cirurgia geral, ortopedia, ginecologia, proctologia e urologia. Na videolaparoscopia, se acessava a cavidade do paciente com câmera e pequenas pinças, mas os movimentos eram limitados. Com visão tridimensional, alta definição de imagem, manipulação e movimentos finos, o robô pode fazer procedimentos mais complexos. No caso da remoção de tumores de próstata, a precisão nas incisões reduz consideravelmente os riscos de ferir nervos ou tecidos.
Foi em um caso similar que, em abril deste ano, o Complexo Hospitalar da Unimed Vale do Sinos realizou em Novo Hamburgo a primeira cirurgia robótica da Região. Em tratamento de câncer de próstata, um paciente de 70 anos teve retirada toda a glândula e alguns tecidos à volta (incluindo vesículas seminais) por meio do robô Da Vinci X, adquirido pela cooperativa em março. Ele funciona de forma remota, com o cirurgião operando a máquina à distância por meio de braços mecânicos que, além de micro tesouras, bisturis e cauterizadores, têm câmeras em alta resolução que permitem melhor visualização. O total do investimento em tecnologia, equipamentos e capacitação profissional chegou a R$ 12 milhões.
Mais recentemente, em agosto, foi a vez do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, em Santa Maria, apresentar o seu Da Vinci Xi, inaugurando o sistema de cirurgia robótica na região central do Estado. O primeiro procedimento também foi na especialidade de urologia. Resultado de um investimento de cerca de R$ 14 milhões, a máquina é composta por quatro braços articulados acoplados a micro câmeras e instrumentação. Os cirurgiões usam um console para controlar esses braços e podem contar com uma visão em 3D da anatomia do paciente. O robô amplia até 10 vezes a imagem da área a ser operada.
Está em Passo Fundo o maior número de robôs, no Interior, realizando intervenções precisas. Formalizado em agosto do ano passado, o Centro Regional de Cirurgia Robótica do Hospital de Clínicas da cidade conta com a quarta geração da tecnologia do sistema Vinci X, usado em casos de alta complexidade. No início do mês, incorporou um segundo sistema, o robô Rosa, voltado para cirurgias ortopédicas. Na estreia, foi realizada uma artroplastia total de joelho.
Já o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), de Passo Fundo, um dos maiores do Estado, contabiliza mais de 260 procedimentos feitos com o auxílio robótico desde maio do ano passado. A instituição tem o CORI, de segunda geração, utilizado em cirurgias de artroplastia total de joelho e brevemente em procedimento de quadril, e o robô Versius, que consegue atender uma maior variedade de especialidades, adquirido em março deste ano.
"É humano o comando de todo o processo, do início ao fim. Ao invés de o médico estar com a mão na pinça, é o robô quem faz os movimentos durante a cirurgia. Isso é extraordinário porque a máquina não treme, é mais lenta e precisa", explica o diretor técnico do HSVP, o médico Adroaldo Mallmann. Segundo ele, as pinças têm graus de movimentos que as mãos humanas não conseguem desenvolver. Além disso, com a tecnologia há extrema clareza na visibilidade da lesão. Para o médico, a redução no tempo de internação e de recuperação é excepcional. "Com o Versius, por exemplo, uma alta médica que levaria em torno de uma semana, agora, acontece em dois ou três dias", exemplifica. O HSVP projeta um terceiro robô, para a ortopedia, com previsão de chegada em 2024.