O primeiro passo para a recuperação da indústria gaúcha diretamente afetada pela calamidade que atingiu o Rio Grande do Sul será a manutenção dos empregos. É nisso que acredita o empresário Thômaz Nunnenkamp, que é presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos do Rio Grande do Sul (Sindifar) e que foi um dos candidatos à sucessão na presidência da Fiergs.
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Atualmente em uma das vice-presidências da entidade, ele fez parte, na semana passada, da comitiva organizada pela Fiergs para apresentar ao governo federal, em Brasília, uma série de medidas para a recuperação do setor.
"Apresentamos um projeto robusto na área tributária, incluindo questões como prazos e acessórios. Manter os empregos é o primeiro passo dessa recuperação, e a suspensão de impostos já determinada é um alento. O próximo passo precisa ser a garantia de crédito para a retomada. As empresas precisarão ter capital de giro e renovação de máquinas, por exemplo. É preciso recapitalizar as indústrias e ajudar na recuperação dos parques industriais para voltarmos a gerar impostos e fortalecer a economia", avalia.
Entre as principais preocupações, que já estavam na agenda do empresário e agora são amplificadas, está a perda de espaço da indústria gaúcha.
"Tenho comparado o setor industrial a um ecossistema. Quando temos um menor número de 'espécies', esse ecossistema fica mais frágil e suscetível a impactos. E agora estamos diante de um impacto jamais visto. A calamidade, infelizmente, tende a reduzir a diversidade", avalia o dirigente.
Há outras problemas a serem enfrentados daqui para frente, prevê Nunnenkamp. "O desafio para garantir a sobrevivência do maior número possível de indústrias e setores, porque isso é importante para todo o sistema, será enorme. Exigirá muito trabalho. Hoje, para o restante do País, somos como um membro da família que está hospitalizado na UTI após um acidente grave. Exige muito apoio e atenção dos nossos parentes do restante do País", ilustra Nunnenkamp.
A perda de espaço, ou o enfraquecimento deste ecossistema, ultrapassa as barreiras nacionais. A indústria gaúcha, conforme a Fiergs, reforça o papel do Rio Grande do Sul como o segundo Estado no País em número de empresas exportadoras, 11,1% do total. São quase 3 mil exportadores, mais de 50% de médio e grande portes. Uma fatia que, com a calamidade, poderá ser reduzida.
Diversas ações estão no radar do setor farmacêutico no Rio Grande do Sul
Além das produções de medicamentos, que pararam nas empresas, pelo menos uma indústria ficou alagada
/PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCNo caso do setor farmacêutico gaúcho, a preocupação em relação à balança comercial está maior em termos de importações. Seja de insumos ou de maquinário, que serão necessários na retomada. Medidas como fast tracks e outras ações que possam acelerar os processos estão entre os pleitos da Fiergs ao governo federal.
O Laboratório Saúde, que tem sua produção no bairro Navegantes, região do 4º Distrito, em Porto Alegre, foi uma das indústrias do setor farmacêutico atingidas pela cheia. Ao todo, o sindicato, que registra em seu site 17 empresas associadas — pelo menos seis no 4º Distrito —, avalia que quatro indústrias foram as mais gravemente afetadas, entre Porto Alegre e Canoas. Além das produções de medicamentos, que pararam nessas empresas, pelo menos uma indústria de produção de próteses teve seu parque industrial inundado.
"As máquinas foram perdidas, e ainda não conseguimos sequer fazer um levantamento mais detalhado e concreto do prejuízo ao setor, porque não foi possível sequer acessar as áreas de algumas das empresas. E quando isso for possível, ainda será necessário toda uma limpeza específica, com a sanitização da área. Dependemos ainda da água baixar para uma avaliação", explica Thômaz Nunnenkamp.
E as perdas não se limitam às indústrias que foram alagadas. Quem não está em Porto Alegre ou na Região Metropolitana, mesmo com a manutenção da produção, já enfrenta problemas para escoar os produtos e para obter alguns insumos. Levantamento da Fiergs aponta que 94,3% de toda a economia gaúcha foi afetada pelas cheias.
Em relação ao Valor Adicionado Bruto (VAB) da indústria, as regiões com maior atividade industrial potencialmente atingida são: Vale dos Sinos (R$ 25 bilhões), Metropolitana (R$ 17 bilhões), Vale do Taquari (R$ 16 bilhões) e Serra (R$ 15 bilhões).