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Publicada em 24 de Maio de 2024 às 00:15

Indústria metalmecânica tem gargalo na matéria-prima

Para dar continuidade às atividades, são avaliadas alternativas em outras regiões, mas que acabam encarecendo o custo final aos fabricantes gaúchos

Para dar continuidade às atividades, são avaliadas alternativas em outras regiões, mas que acabam encarecendo o custo final aos fabricantes gaúchos

/Abicalçados/Divulgação/JC
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Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
Na Serra, maior polo metalmecânico do Rio Grande do Sul, as empresas esperavam repetir os resultados do ano passado, que já não foram positivos quando comparados com exercícios anteriores. Dificilmente a meta será alcançada, na avaliação de Ubiratã Rezler, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs).
Na Serra, maior polo metalmecânico do Rio Grande do Sul, as empresas esperavam repetir os resultados do ano passado, que já não foram positivos quando comparados com exercícios anteriores. Dificilmente a meta será alcançada, na avaliação de Ubiratã Rezler, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs).
O ponto de maior preocupação está sendo no fornecimento de matéria-prima, que era normal até o final de abril. "Várias empresas ficaram sem matéria-prima, porque há dependência do fornecimento de muitos itens da Região Metropolitana de Porto Alegre", afirmou. Para dar continuidade às atividades, são avaliadas alternativas em outras regiões, mas que acabam encarecendo o custo final.
O cenário se repete na área de abrangência do Sindicato Metalmecânico de Bento Gonçalves (Simmme). O presidente Juarez Piva relata que algumas plantas fabris foram diretamente afetadas com alagamentos, deslizamentos e falta de energia. Mas o maior problema é a dificuldade de acessos, impactando no fornecimento de matérias-primas e entrega de produtos acabados. "A saída tem sido conceder férias coletivas, fazer paradas pontuais ou elevar os estoques por impedimento de entregar os produtos prontos", explica. Para ele, o maior impacto econômico será sentido na virada do mês com a folha de pagamento dos funcionários. "É necessária a urgente liberação de recursos com juros subsidiados e o adiamento do pagamento de impostos", acrescenta.
A restauração das estradas e pontes danificadas, juntamente com linhas de crédito e financiamento com condições favoráveis para que as empresas possam investir na recuperação de suas operações, estão dentre as prioridades demandadas pelo Sindimadeira. De acordo com o presidente Leonardo De Zorzi, os investimentos na infraestrutura não devem ser feitos somente para reparos, mas também para reforçar os equipamentos de forma a garantir que resistam melhor a futuros eventos climáticos extremos.
Ele defende que as linhas de crédito devem incluir prazos longos e juros baixos, facilitando o acesso ao capital necessário para reparos e reposição de equipamentos pelas indústrias. O isolamento a que foi exposta a Serra é o principal problema para a indústria do vestuário, que tem neste período do ano o maior consumo de produtos. Os efeitos desta condição foram percebidos no Dia das Mães, segunda data de maior consumo do segmento, com expressiva queda no movimento do setor. "A demanda foi muito baixa comparada com outros anos. Não houve movimento de compradores de outras regiões e os nativos, que estavam nas cidades serranas, não se encorajaram a sair. O clima emocional não é bom, todos estão muito abalados", aponta Rogério Bridi, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Fitemavest).
Bridi acredita ser possível repetir os números de 2023 caso o clima se mantenha favorável, com o frio natural do inverno, e as estradas estejam viabilizadas. A estimativa inicial para 2024 era de crescimento em torno de 10% sobre o ano anterior, que já apresentou uma base baixa de receita.
A possibilidade de ruptura da produção por falta de alguns itens é um dos problemas que mais afligem a indústria moveleira do Rio Grande do Sul. De acordo com a Movergs, a maioria das empresas trabalha com estoque de matérias-primas, mas suficiente para um período de 15 a 20 dias.
De acordo com o presidente Euclides Longhi, de forma geral, as empresas que possuem centro de distribuição em outros estados mantiveram seu faturamento e entrega. As localizadas no Rio Grande do Sul estão buscando rotas alternativas para escoar a produção e já conseguem realizar entregas em São Paulo, mesmo que os prazos possam ser mais longos.
Uma das consequências das fortes chuvas deve ser a migração de parte das populações de municípios mais prejudicados para outras regiões, dentre elas a Serra. "Não é o que se quer, mas é o que as pessoas farão. Buscarão empregos e mais segurança às famílias", afirma Orlando Marin, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico (Simplás). Ele também avalia que a indústria da Serra deverá ser parceira dos setores mais atingidos na Região Metropolitana, fornecendo a ajuda necessária para a recuperação. A liberação total e plena dos acessos é a principal demanda do Simplás para o processo de reconstrução do Estado e da atividade econômica.
Com alguns casos isolados em que houve alagamentos ou deslizamentos de terras, a indústria vinícola, de uma forma geral, sofreu poucos impactos diretos. De acordo com José Virgílio Venturini, presidente do Sindivinho, a preocupação maior é com os efeitos indiretos, como a forte retração no consumo. "Além das dificuldades de transporte para os pontos de venda, também entendemos que o cliente priorizará outras necessidades para superar este momento difícil", projeta.
Venturini estima que 90% das empresas do setor estão com as vendas comprometidas, situação que exigirá apoio federal por meio de financiamentos em operações especiais em termos de juros e prazos de amortização. "Estamos ingressando no período de pagamento da safra passada", aponta.
 

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