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Publicada em 24 de Maio de 2024 às 00:15

Mercado desaquecido impacta Polo Petroquímico gaúcho

Chuvas aumentaram dificuldades enfrentadas pelo setor em 2024

Chuvas aumentaram dificuldades enfrentadas pelo setor em 2024

/TÂNIA MEINERZ/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Há um ditado pessimista que frisa que "nada está tão ruim, que não possa piorar". Para o Polo Petroquímico de Triunfo, essa máxima não podia ser mais verdadeira neste ano. Além de enfrentar a queda de demanda e a concorrência com produtos importados que entram no Brasil, especialmente pela Zona Franca de Manaus, em 3 de maio a Braskem, principal empresa do complexo gaúcho, anunciou a parada das suas plantas preventivamente devido à catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul. O início do processo de retomada das operações ocorreu no dia 20 de maio.
Há um ditado pessimista que frisa que "nada está tão ruim, que não possa piorar". Para o Polo Petroquímico de Triunfo, essa máxima não podia ser mais verdadeira neste ano. Além de enfrentar a queda de demanda e a concorrência com produtos importados que entram no Brasil, especialmente pela Zona Franca de Manaus, em 3 de maio a Braskem, principal empresa do complexo gaúcho, anunciou a parada das suas plantas preventivamente devido à catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul. O início do processo de retomada das operações ocorreu no dia 20 de maio.
Atenuando os reflexos da situação, pelo menos o problema da ociosidade das estruturas petroquímicas no País possibilitou que a empresa deslocasse de outros estados a produção para suprir o mercado. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de utilização das plantas da companhia no País foi de 74%. No entanto, a ociosidade aumentou até maio, segundo o CFO da companhia, Pedro Freitas.
Conforme o diretor industrial da Braskem Regional Sul, Nelzo Silva, no Polo de Triunfo, já antes da ocorrência das chuvas, a ociosidade girava entre 35% a 40%. No Estado, a Braskem tem capacidade para produzir cerca de 5 milhões de toneladas de químicos e resinas termoplásticas por ano. Entre as resinas produzidas estão o polietileno, o polipropileno e o EVA. Além desses produtos feitos com fontes de origem fóssil, a empresa produz no complexo gaúcho o polietileno verde, fabricado a partir do etanol oriundo da cana-de-açúcar.
Esse cenário de pouca demanda e elevada concorrência com as resinas termoplásticas importadas, aparentemente, será mais complicado de resolver economicamente, em longo prazo, do que os efeitos das enchentes. Até porque a água não provocou danos nas unidades petroquímicas da Braskem no Rio Grande do Sul, de acordo com o CFO da empresa. O maior impacto foi na logística dos trabalhadores e de escoamento de produção.
O diretor industrial da Braskem Regional Sul adianta que a expectativa é que se comece a ter um equilíbrio entre oferta e demanda de plásticos somente a partir de 2026 ou 2027. "Mas são tendências que dependem de alguns fatores se confirmarem, como estabilidade geopolítica", assinala Silva.
Outro aspecto que pode complicar ainda mais esse cenário nos próximos anos, adverte o diretor da Braskem, é que a China em breve deverá passar de importadora de matéria-prima do setor petroquímico para se tornar exportadora.
Um dos mecanismos que poderia ser adotado pela Braskem em Triunfo para aumentar a sua competitividade seria a conversão do complexo para operar com gás natural, que hoje é uma matéria-prima para resinas termoplásticas mais barata do que a nafta usada no Polo gaúcho. A companhia já fez uma ação semelhante no Polo de Camaçari, na Bahia. No entanto, Silva ressalta que no Rio Grande do Sul a dificuldade em adotar uma medida assim é o acesso ao gás, hoje com oferta escassa no Estado. Caso fosse superado esse obstáculo, o diretor calcula que seria necessário, no mínimo, cerca de um ano para fazer a adaptação.
Até conseguir encontrar uma solução quanto à questão de uma matéria-prima mais competitiva, a Braskem tem apostado tanto no sucesso do seu polietileno verde como investido no campo da inovação. "A meta é buscar um produto mais rentável ou sustentável do que o que a gente tem hoje", comenta o gerente de Inovação e Tecnologia da empresa, Alessandro Cauduro.
O Centro de Tecnologia e Inovação (CTI) da empresa em Triunfo, no ano passado, inaugurou a sua expansão. Para concluir essa ampliação, foram investidos R$ 108 milhões, sendo R$ 64 milhões aplicados em estrutura física e R$ 44 milhões em equipamentos. Essas máquinas são usadas para testar questões como resistência dos plásticos à permeação de gases e umidade, resposta a impactos, suscetibilidade química, entre outras. Cauduro revela que, depois desse aporte, a companhia já investiu em outros 14 novos equipamentos, que somam mais R$ 19 milhões em aportes. 

Queda da arrecadação de ICMS é um termômetro dos problemas

Complexo no Estado enfrenta concorrência com resinas importadas

Complexo no Estado enfrenta concorrência com resinas importadas

/TÂNIA MEINERZ/JC
A constante redução na arrecadação de ICMS da Braskem no Rio Grande do Sul é uma das provas que o mercado petroquímico gaúcho vem enfrentando dificuldades que não são de agora ou somente originadas pelas chuvas. Em 2021, a companhia contribuiu com uma arrecadação de R$ 2.015 bilhões para o Estado, em 2022 esse montante caiu para R$ 918 milhões e, no ano passado, o resultado foi de R$ 716 milhões. A perspectiva é que uma nova diminuição seja verificada ao final de 2024.
O gerente de relações institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, Daniel Fleischer, ressalta que a própria Secretaria Estadual da Fazenda procurou a empresa para obter informações das razões dessa queda de arrecadação. "Simplesmente o nosso mercado está realmente muito ruim", argumenta.
Para agravar o panorama, há a concorrência com as resinas importadas, muitas delas entrando no Brasil pela Zona Franca de Manaus, com incentivos tributários. Fleischer comenta que o governo do Rio Grande do Sul sensibilizou-se com a situação e adotou uma medida semelhante a que é feita em Santa Catarina, dando crédito presumido de ICMS para as empresas transformadoras do setor de filmes.
Esse segmento, detalha o gerente de relações institucionais, é um dos maiores mercados da Braskem e responsável pela produção de sacolas plásticas. Fleischer lembra que a indústria química do Estado gera em torno de 18 mil empregos através de cerca de 700 companhias e a indústria de transformação plástica no RS proporciona em torno de 27,5 mil postos de trabalho.

Incidente em Alagoas tem atrasado venda da Braskem

Sendo motivo de rumores há alguns anos, a alienação da Braskem não tem nas enchentes do Rio Grande do Sul um fator que possa atrapalhar o prosseguimento do negócio. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Gerson Haas, o incidente com a extração de sal gema realizada em mina da empresa em Alagoas, que foi considerada responsável pelo afundamento do solo em vários pontos de Maceió, é o principal motivo que impediu a venda até agora.
"Já estamos falando há anos sobre isso e uma hora vai ter que acontecer", prevê o dirigente. Haas enfatiza que entre os desafios que se apresentam para a indústria petroquímica brasileira nos próximos anos estão a modernização tecnológica e a possibilidade de aproveitamento de matérias-primas mais baratas. Ele cita o exemplo do shale gas norte-americano (gás de folhelho ou também chamado gás de xisto), que é mais competitivo que a nafta usada no Polo de Triunfo
O presidente do Sinplast-RS ressalta que hoje existe uma sobreoferta de resinas termoplásticas no mundo, devido à baixa demanda. "Então os preços (internacionais) caíram e a nossa petroquímica nacional não consegue acompanhar", assinala o empresário. Ainda sobre a possibilidade de venda da Braskem, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Porto Alegre e Triunfo/RS (Sindipolo), Ivonei Arnt, admite que a situação causa bastante apreensão entre os trabalhadores. "Porque a gente não sabe qual o rumo que o setor petroquímico irá tomar no futuro", diz Arnt. Ele acrescenta que há uma expectativa muito grande, por parte dos trabalhadores, que a Petrobras, sócia na Braskem, retome uma participação relevante dentro do setor petroquímico.

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