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Publicada em 24 de Maio de 2024 às 00:15

Reconstrução levará pelo menos três anos, apontam industriais

Com parte da safra gaúcha de grãos comprometida pela catástrofe, venda de máquinas deve ser sentida

Com parte da safra gaúcha de grãos comprometida pela catástrofe, venda de máquinas deve ser sentida

STARA/DIVULGAÇÃO/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
A indústria de máquinas agrícolas vem de um 2023 fraco nas vendas, que invadiu 2024 apontando para queda ainda maior do que a inicialmente projetada. E a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul será um obstáculo a mais para a retomada, que necessitará apoio governamental e resiliência. Com recursos no tempo certo, a estimativa é de que o setor leve pelo menos três anos para se reconstruir no Estado.
A indústria de máquinas agrícolas vem de um 2023 fraco nas vendas, que invadiu 2024 apontando para queda ainda maior do que a inicialmente projetada. E a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul será um obstáculo a mais para a retomada, que necessitará apoio governamental e resiliência. Com recursos no tempo certo, a estimativa é de que o setor leve pelo menos três anos para se reconstruir no Estado.
A mobilização chegou a Brasília, apoiada por um relatório com as primeiras avaliações sobre a dimensão do problema e uma lista de pedidos. O presidente eleito da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) e presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Claudio Bier,  participou da comitiva de industriais do Rio Grande do Sul que esteve em audiência com o vice-presidente Geraldo Alckmin.
No encontro, foi levado um documento de 47 pontos com demandas sobre diferentes medidas para apoiar a cadeia industrial gaúcha. A Fiergs estima que mais de 90% do setor foi afetado. E indica que os municípios atingidos correspondem a 94,3% de toda a atividade econômica do Rio Grande do Sul. Por isso, a caminhada da reconstrução será longa. E pode durar, com otimismo, pelo menos três anos.
Segundo o dirigente, há empresas submersas, com funcionários que perderam suas casas e, também, o recebimento de matéria-prima está comprometido.
"Algumas indústrias decidiram dar férias coletivas aos seus colaboradores. Para que eles possam se dedicar aos seus problemas e, também, porque não há como trabalhar. Não será fácil sair desse momento", analisa.
No segmento de máquinas agrícolas, a perspectiva também é preocupante. A projeção mais recente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no fechamento do mês de abril, era de redução nas vendas de até 15%. Mas, com parte da safra comprometida, a capitalização dos produtores rurais não será a mesma, e isso deve arrefecer os ânimos para investimentos em novos equipamentos. Bier calcula que as indústrias gaúchas irão precisar de uma atenção especial da União.
"Estávamos colhendo uma grande safra de grãos. Entretanto, com as perdas no arroz e na soja, culturas com áreas importantes ainda não colhidas, as perdas serão significativas. Precisaremos de ajuda", acrescenta o empresário.
Entre as medidas, aponta, estão o perdão ou a prorrogação das dívidas dos lavoureiros e crédito com taxas de juros palatáveis, por exemplo. Essas e outras demandas já foram levadas ao governo federal, na expectativa de um socorro efetivo e eficiente.
Recursos para capital de giro das empresas, taxas menores e um olhar ainda mais atencioso às pequenas indústrias são essenciais. Algumas precisarão de apoio a fundo perdido. Outras necessitarão empréstimos sem juros e com longo prazo de pagamento.
Entre as médias e grandes, o dirigente aponta necessidade de juros subsidiados, para que possam voltar a trabalhar, produzir e pagar.
"Não adianta simplesmente dar casa aos funcionários atingidos, se eles não tiverem seus empregos de volta. A indústria emprega muita gente", avisa Bier.

Abimaq encaminhou sugestões de medidas a serem adotadas pelo governo federal

Sugestões da Abimaq visam a dar fôlego às indústrias gaúchas no pós-crise

Sugestões da Abimaq visam a dar fôlego às indústrias gaúchas no pós-crise

GSI/DIVULGAÇÃO/JC
Atenta ao tema da crise no Rio Grande do Sul, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) enviou ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com cópia ao Ministério da Fazenda e ao BNDES, uma série de sugestões de medidas voltadas para a preservação da renda, reconstrução das residências, refinanciamento de dívidas e adiamentos de pagamento de impostos. O objetivo é contribuir com ideias de ações que possam dar fôlego a empresas para superarem esse período crítico e recuperarem suas atividades produtivas quando as águas baixarem.
A entidade ainda não consegue dimensionar o impacto das chuvas nas atividades dos setores produtivos da região. Mas entende, no entanto, que mesmo empresas que passaram incólumes pela enchente estão com dificuldades na manutenção da produção por conta da falta de equipes que, em boa parte, tiveram suas moradias destruídas e também por falta de acesso a insumos produtivos e meios de escoamentos das mercadorias. Os resultados mais precisos aparecerão nas divulgações a partir de junho, diz Maria Cristina Zanella, diretora divisional de Economia, Estatística e Competitividade da Abimaq.
De acordo com ela, uma avaliação preliminar dos possíveis impactos, levando em conta o peso relativo do setor de máquinas e equipamentos na região, sugere uma perda de receita em 2024. "Mas esperamos que as medidas anunciadas, em auxílio às empresas e famílias, e as que estão em negociação com a sociedade, possam agilizar e potencializar a recuperação e antecipar a melhora nas atividades na região."
Dados da Abimaq mostram que, em 2023, o Rio Grande do Sul foi responsável por mais de 8% do PIB da indústria manufatureira. As máquinas e equipamentos tiveram grande importância na região.
No período, o Estado foi o segundo maior produtor de máquinas do País, empregando quase 18% da mão de obra do setor e gerando 20% da receita líquida, com forte presença no mercado internacional.
Cerca de 50% das máquinas e equipamentos produzidos no RS foram para agricultura. O segmento já vinha com perspectiva de queda no desempenho em 2024 em razão das questões climáticas, mas também pela piora da renda no campo, combinada com custos ainda elevados de financiamento, diz a entidade.
"Na região, se produziu ainda máquinas de uso geral, como equipamentos de movimentação de materiais, de uso específicos como as fabricantes de alimentos, componentes utilizados em outros bens de capital como os motores, máquinas-ferramentas e máquinas para construção, itens, que na sua maioria, prevíamos melhora nas vendas em 2024 em razão da continuidade do aumento do consumo das famílias e também pela ampliação de obras públicas municipais e federais", acrescenta a dirigente.
Olhando para a indústria nacional de máquinas e equipamentos, a Abimaq acredita que as maiores quedas no curto prazo serão em setores fabricantes de máquinas que atuam na agricultura e na indústria de transformação, atividades fortemente atingidas pelas chuvas.

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