Ao contrário do passado, quando a absorção das transformações levava uma ou até duas décadas para ocorrer, nos dias atuais ela acontece, na maioria dos casos, de forma simultânea, diante da grande quantidade de soluções oferecidas. As mudanças de hoje, que tendem a evoluir ainda mais rapidamente no futuro, envolvem novas tecnologias de produtos e hábitos dos consumidores. "No passado, o carro era sinal de prosperidade. Hoje, o consumidor jovem não quer mais. A conveniência de comprar tudo pelo aplicativo, as mudanças geopolíticas, a globalização sendo substituída pelo nacionalismo nos últimos cinco anos e os mais de 150 conflitos militares mundo afora, dentre outros fatores, geram riscos e oportunidades. O desafio é ter esta visão de futuro e investir em tecnologias, preparando-se para ter sucesso dentro de outra realidade", analisa Sérgio L. Carvalho, CEO da Randoncorp, nova denominação recentemente adotada pelas Empresas Randon.
O conglomerado vislumbrou este cenário de transformações no final de 2017, quando criou um grupo dedicado exclusivamente para trabalhar com inovações, com ênfase em eletrificação e mobilidade, tecnologia embarcada e materiais inteligentes. "Temos, no momento, em torno de 40 projetos em desenvolvimento neste grupo, que ganhou reforços expressivos nestes quase seis anos. Destes projetos, dois devem ser anunciados ao mercado ainda em 2023. O futuro da empresa está ancorado nesta capacidade de antever as necessidades do mercado", define o executivo, ao comemorar a repercussão que as tecnologias já entregues estão tendo dentre os grandes desenvolvedores mundiais de soluções.
Dentre as principais soluções já postas ao mercado está a carreta elétrica, possivelmente a primeira no mundo, apresentada em novembro de 2019, ou seja, 18 meses após a criação do grupo. "É uma história de sucesso, que mostrou à corporação que tínhamos a capacidade de produzir de forma rápida", recordou. O produto chegou ao mercado no final de 2022 e, desde então, experimenta uma curva ascendente de vendas. A base do projeto é a suspensão elétrica, que começa a ser estendida a outros segmentos, como o agrícola, e diretamente em caminhões.
A empresa também acelera aportes no desenvolvimento de compósitos que reduzem o peso dos componentes em mais de 50%. Para substituir a fibra de carbono na composição, foram desenvolvidas nanopartículas de nióbio, criadas e patenteadas mundialmente. "Em menos de 18 meses de desenvolvimento, conseguimos fechar contratos com a maioria das grandes fabricantes de caminhões no Brasil", anuncia Carvalho.
As nanopartículas podem ser misturadas com tinta, aumentando em cinco vezes a resistência da pintura, e reduzindo o consumo de energia para secagem; e com aço, ferro fundido e alumínio, melhorando as propriedades mecânicas dos componentes. Podem ainda substituir os metais. Também é possível aplicar em resinas, em baterias elétricas e, até mesmo, na indústria de cosméticos. Para atuar no segmento, a corporação investiu R$ 10 milhões na criação da NIONE. Também são recentes o uso de energia solar em implemento para transporte de cargas frigorificadas e o Randon Smart, sistema de telemetria avançado.
Nos últimos cinco anos, a empresa fez 18 aquisições, de diferentes setores, de forma a ganhar competitividade no mercado. Dentre elas, está a Autton Automação e Robótica para aprimorar os processos envolvendo os conceitos de smart manufacturing. Para também atuar na área, já havia sido criada a Randon Tech Solutions (RTS), a partir de investimento de R$ 20 milhões. Já a compra da DB Service visa ao desenvolvimento de software. "Encontrar engenheiro para esta área é a coisa mais difícil no mundo inteiro. Com o negócio, temos acesso a um pool de engenheiros e proteção às soluções que criamos. São medidas que aceleram a transformação industrial e nos asseguram vantagem competitiva", argumentou Carvalho. Mesmo com os aportes em automação, o grupo de trabalhadores da Randoncorp dobrou em seis anos, passando de 7,8 mil para atuais 16 mil.
A área de prestação de serviços também ganha maior relevância. A Randoncorp uniu-se à Gerdau na criação da Addiante, focada em locação de veículos pesados e equipamentos, agregando-se ao banco e consórcio já existentes. O segmento de serviços representa 3,5% do faturamento e as empresas de novas tecnologias, 1,5%. "São índices ainda pequenos. Mas serão os segmentos que, proporcionalmente, crescerão mais", projeta. Atualmente, as verticais veículos e autopeças respondem por 70% do faturamento, cada qual com partes iguais, e Frasle Mobility por 25%.
A nova denominação também está alinhada a estas transformações. "A organização de hoje é muito diferente daquela de cinco anos atrás. Visitantes que vêm do exterior se dizem impressionados com as transformações e grandes corporações buscam a aproximação para acelerar as tecnologias. Não queremos nos igualar, queremos ser de vanguarda até para os grandes mercados desenvolvidos", anuncia Carvalho.
Customização em massa é desafio para a indústria moveleira
Após um período de alta nas vendas durante a pandemia, o momento é de baixa demanda na indústria de móveis e acessórios. Segundo o diretor da câmara setorial, Ezequiel Brollo, o consumidor está migrando seus gastos para outros segmentos, como o lazer.
Ele acredita, no entanto, em retomada futura a partir das definições de governo para redução do déficit habitacional.
Neste cenário, uma mudança em andamento é na dinâmica do mercado. Com os canais digitais, o cliente está mais próximo da indústria, o que leva à customização. "A indústria precisa oferecer diferenciais de marca ou produto, com mix mais variado para atender diferentes aspectos regionais e de nações. É um desafio tecnológico customizar produtos em massa, com nível de entregas e serviços mais individuais", analisa. Este quadro torna a logística ainda mais importante, o que leva à demanda por qualificação visando redução do custo de transporte, já relevante no valor total do produto.
O desafio da sustentabilidade imposto à sociedade exige que a indústria moveleira invista na busca de fontes renováveis e limpas, com menor agressão ao meio ambiente. Uma das estratégias do setor é a compra de materiais de fontes certificadas, com origem em áreas reflorestadas. "Não basta só investir em matérias renováveis, também é preciso trabalhar na redução do consumo, com tecnologias inovadoras para melhorar a produtividade", alerta.
Na indústria moveleira que produz a partir da madeira, os resíduos são 100% recicláveis, virando material de combustão para outros processos. Na produção com chapas de MDF e MDP, os índices de aproveitamento são de 98%, pois parte do resíduo envolve resinas sintéticas. "O setor busca soluções na economia circular para o descarte desta sobra", informa.
Em relação ao mercado digital, a indústria opera com lojas virtuais próprias ou por marketplace, onde as grandes plataformas fazem a conexão com os clientes. De acordo com Brollo, esta ferramenta de vendas tem apresentado crescimento anual de dois dígitos. Outra solução encaminhada é a abertura pelo varejo de espaço em suas lojas e depósito para que a indústria aloque material e faça faturamento pela venda instantânea. "Estamos no momento de desenvolvimento desta estratégia", assinala.