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Publicada em 25 de Maio de 2023 às 00:15

Indústria 4.0 precisa superar 'purgatório de pilotos'

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

AdobeStock/Divulgação/JC
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Patricia Knebel
Patricia Knebel
Eficiência, produtividade e competitividade no mercado. A Indústria 4.0 representa uma evolução sem igual de um dos setores mais importantes da economia global. Alavancada por tecnologias exponenciais como Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), a digitalização e a automação da manufatura abre oportunidades gigantescas, mas é uma agenda que ainda avança em ritmo lento no mundo.
Eficiência, produtividade e competitividade no mercado. A Indústria 4.0 representa uma evolução sem igual de um dos setores mais importantes da economia global. Alavancada por tecnologias exponenciais como Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), a digitalização e a automação da manufatura abre oportunidades gigantescas, mas é uma agenda que ainda avança em ritmo lento no mundo.
"Vivemos o purgatório de pilotos da Indústria 4.0", brinca Sérgio Canova, sócio da consultoria McKinsey. "No mundo e no Brasil, claro, ainda tem muita experimentação, mas poucos casos em que as empresas têm sido capazes de escalar de fato o impacto. Fazem os testes, percebem que dá certo em ambiente controlado, mas poucos exponencializam", complementa o executivo, que comanda a unidade de Porto Alegre da consultoria global.
A próxima fronteira é conseguir, de fato, sair da fase de experimentos e escalar essas tecnologias, capturando assim o impacto verdadeiro desse avanço. E olha que ele é representativo. Estudo da McKinsey aponta que o potencial em redução de custo e ganho de produtividade se a Indústria 4.0 conseguir escalar seria de
US$ 4 trilhões até 2025, sem falar no ganho de segurança e impacto ambiental.
"A adoção da Indústria 4.0 no Brasil está ainda em estágios iniciais. As empresas reconhecem a sua importância e estão começando a utilizar estas tecnologias no seu processo produtivo, entretanto, essa adoção ainda não é generalizada", reforça Tiago Barros, principal IoT Technical Manager do CESAR, centro de inovação com sede em Recife (PE).
O COO da Edge UOL, Rodrigo Lobo, concorda que a Indústria 4.0 ainda está em desenvolvimento no Brasil. "São poucas as indústrias que contam com recursos avançados de tecnologia em seus serviços", acrescenta.
Isso não significa, porém, que estamos estagnados. E assim como aconteceu em diversos setores, a Covid-19 também acabou acelerando esse movimento. O diretor de Planejamento e Relações Institucionais da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Fábio Stallivieri, observa que essa agenda tem evoluído de forma mais célere desde 2020. "O processo de digitalização das empresas industriais é um caminho sem volta", enfatiza, destacando, porém, que os desafios ainda são significativos, sobretudo no âmbito das pequenas e médias indústrias.
Para que a transformação aconteça, é necessário que as empresas estejam dispostas a quebrar seus paradigmas produtivos e implementar soluções digitais. Esse ainda é um ponto desafiador, na medida em que nove entre 10 empresas são resistentes à revolução completa de suas operações, conforme demonstra o estudo Technology Vision 2023, elaborado pela Accenture.
A pesquisa revela que 86% das organizações não tratam a questão como um processo contínuo e concentram-se em transformar apenas partes do negócio. A transformação digital, não raramente, também esbarra na cultura organizacional e na própria visão do empresariado. "A mentalidade dos empresários desempenha um papel fundamental no avanço da Indústria 4.0. Muitas vezes, a resistência à mudança e a falta de compreensão dos benefícios das novas tecnologias podem ser obstáculos significativos", avalia Barros, do CESAR.
Existem outros entraves que ainda comprometem o investimento em novas tecnologias, como a dificuldade de mensurar previamente os benefícios dos projetos da Indústria 4.0. Em geral, o avanço está relacionado aos ganhos de produtividade, maior eficiência, redução de custos, aumento de escala e alcance a novos mercados.
Stallvieri ressalta que a Indústria 4.0 tem como alicerce as novas tecnologias, que incluem, além da IA e da IoT, computação em nuvem, sistemas robóticos, entre outros recursos. "Essas tecnologias são as fronteiras da transformação digital que a indústria vem enfrentando, desde a década passada", afirma. "Não haverá produção em massa competitiva internacional, no curto e médio prazo, sem que a indústria encare essas fronteiras e consiga ter aumentos de escala, redução de custos e produtos mais sustentáveis", comenta o diretor da Embrapii.
O desafio mais imediato para a Indústria 4.0 acelerar, avalia Canova, é o de negócios, ou seja, de as companhias entenderem como conectar essas tecnologias para gerar valor de negócios mais direto. Em seguida aparecem os obstáculos organizacionais, como a necessidade de mais talentos para atuar nessa área, o suporte das lideranças mais seniores (a maioria se formou em outras épocas, e ainda resiste) e de adoção.
Neste último caso, é quando um novo modelo de tomada de decisão baseado em Inteligência Artificial (IA) é criado por exemplo, mas isso precisa ser adotado na ponta. E, por fim, o desafio tecnológico, que é a capacidade de investir nas novas tecnologias e integrar isso com o que já existe.
"No Brasil, a parte de investimento acaba pesando mais para as empresas do que em outros mercados que conseguem ter mais escala, como a China. Mas, a verdade é que hoje não vejo uma liderança tão clara de nenhum outro país em relação à Indústria 4.0", avalia o sócio da McKinsey.
 

Principais tecnologias habilitadoras da transformação na manufatura

A transformação digital que está impulsionando a nova revolução industrial é viabilizada por tecnologias que são decisivas para a eficiência, a produtividade e a competitividade das empresas, como Realidade Virtual e Aumentada, Digital Twin, Inteligência Artificial e nuvem. Confira algumas delas:
 Automação e sistemas robóticos
A automação e os sistemas robóticos possibilitam a substituição de tarefas manuais por processos automatizados e a integração de máquinas inteligentes na produção. Essas tecnologias executam tarefas com agilidade, precisão e eficiência.
 Internet das Coisas (IoT)
A IoT é uma das tecnologias fundamentais para a Indústria 4.0. Sensores, dispositivos e máquinas conectados à internet permitem a coleta de dados em tempo real e a comunicação entre diferentes partes do processo produtivo.
 Big Data e Analytics
Com maior obtenção de informações, é necessário processar, analisar e extrair insights dos dados. A aplicação de técnicas de análise de big data e data science permite identificar padrões, tendências e oportunidades de melhoria nos processos de produção.
 Inteligência Artificial (IA) e Aprendizado de Máquina
Recursos de IA e machine learning permitem que as máquinas aprendam e executem ações de forma autônoma, explorando ainda mais o potencial dos dados. A IA pode ser aplicada em áreas como manufatura automatizada, manutenção preditiva, análise de dados e robôs colaborativos.
 Computação em Nuvem
A nuvem permite o armazenamento e processamento escaláveis de grandes volumes de dados, facilitando a colaboração, o compartilhamento de informações e o acesso remoto a recursos e ferramentas. Com isso, é possível ganhar agilidade e dimensionar recursos de acordo com as necessidades da empresa.

Custos e mão de obra dificultam a transformação digital

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Embrapii/Divulgação/JC
Uma pesquisa recente da Gi Group Holding, multinacional italiana em recrutamento e seleção, indica que o Brasil é um dos países mais propensos a implementar novas tecnologias da Indústria 4.0 nos próximos cinco anos.
No entanto, também é uma das nações que mais carece de profissionais especializados nessa área. Segundo dados do estudo, 88% das organizações brasileiras têm dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados. Na média global, esse percentual é de 66%.
De acordo com o estudo, a falta de pessoal especializado é o segundo principal motivo para implementação de tecnologias da Indústria 4.0, superando apenas os desafios relacionados aos custos do investimento em equipamentos. "A implantação de soluções de Indústria 4.0 também causa impacto nos processos industriais, que precisam ser remodelados. Essa mudança nos processos pode ter um custo significativo, principalmente em capacitação do pessoal especializado", sublinha Barros.
Para as pequenas e médias indústrias, o investimento é relativamente alto, concorda Stallvieri. "A Embrapii atua nesse gargalo ao dividir os riscos de investir em inovação, com recursos financeiros não-reembolsáveis, conectando empresas e centros de pesquisa de excelência", conta. Em parceria com o BNDES, a instituição dispõe de R$ 100 milhões não reembolsáveis para projetos de Technology Readiness Level (TRLs) voltados à transformação digital, Indústria 4.0, conectividade, inteligência artificial e desenvolvimento de hardware.

Fortalezas, tendências e desafios do Brasil na visão das big techs

 

Fernando Capovilla, gerente de Automação Inteligente de IBM Consulting 

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

/IBM/Divulgação/JC
O Brasil apresenta um setor industrial diversificado, rico em recursos e oportunidades, e está observando uma crescente adoção da transformação digital - criando novas soluções e impulsionando negócios. A jornada do País em direção à Indústria 4.0 representa uma notável oportunidade de crescimento econômico. Ao aproveitar a diversidade industrial, a mão de obra qualificada e os recursos abundantes, o Brasil tem o potencial de se posicionar como protagonista na paisagem global deste contexto industrial.
A verdadeira tendência não está apenas no surgimento de novas tecnologias, mas na combinação delas. Um exemplo notável é a combinação da Inteligência Artificial (IA) com a Internet das Coisas (IoT), o que traz oportunidades inovadoras para a indústria. Uma das implicações mais significativas dessa combinação é a capacidade de coletar e analisar grandes volumes de dados gerados pelos dispositivos IoT. A IA pode extrair insights valiosos desses dados, identificando padrões, prevendo tendências e tomando decisões inteligentes em tempo real. A tendência, portando, converge para três pontos principais: a geração de dados, a interpretação desses dados e a tomada de decisões rápidas. 
A Indústria 4.0 está ganhando cada vez mais espaço no País, mas é importante reconhecer que ainda está predominantemente voltada para grandes empresas que possuem os recursos necessários.

Daniel Hoe, vice-presidente de marketing da Salesforce para América Latina

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

/Salesforce/Divulgação/JC
Na Salesforce, entendemos a indústria 4.0 dentro do escopo da 4ª Revolução Industrial. Existem diversas tecnologias direcionando esta revolução, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), cloud, blockchain, robótica, entre outras. Apesar dos grandes desafios, o Brasil tem uma boa penetração de serviços de telefonia celular, que servirão de base para o 5G. Além disso, setores industriais como o agronegócio, farmacêutico, automobilístico e de alimentos e bebidas já contam com um bom nível de digitalização e automação no País.
A Inteligência Artificial generativa, que começa a ser popularizada com o ChatGPT e outras soluções, pode impulsionar diversos processos industriais, como projetos de edificações e plantas industriais, design de produtos, suprimentos e configuração de microchips. As soluções que integram a tecnologia generativa podem utilizar os dados gerados para identificar padrões e tendências, facilitando a geração de insights para os executivos da indústria e, no fim do dia, reduzindo gastos e tornando processos eficientes.
Ainda há um gap de habilidades digitais na população brasileira. É preciso que, conforme as novas tecnologias vão se popularizando, também haja um esforço por parte das empresas - e até do sistema educacional, seja ele público ou privado - para que as pessoas sejam capacitadas nessas novas habilidades e estejam preparadas.

Cleber Morais, diretor para o Setor Corporativo da AWS no Brasil

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

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/AWS/Divulgação/JC
O Brasil tem uma longa história de inovação tecnológica, que mais recentemente vem se traduzindo no surgimento de startups que têm transformado mercados inteiros. Somos o 10º País com mais unicórnios no mundo, por exemplo. Com o avanço de tecnologias como computação de borda (edge computing), 5G, Internet das Coisas (IoT) e machine learning, abre-se um novo momento para que os empreendedores do País se dediquem a pensar em possibilidades que impactem diretamente o setor de manufatura e tornem a Indústria 4.0 uma realidade.
Em indústrias como as de manufatura, automobilística, agricultura e energia, a IoT emerge como um fator crítico porque impulsiona tendências via convergência entre negócios, processos e padrões. Essas verticais podem usar machine learning para obter insights dos dados coletados e aprimorar a eficiência operacional, otimizar processos, desenvolver produtos e oferecer melhores experiências aos clientes. Viabilizadas pela nuvem, essas tecnologias são vitais para as empresas e por isso se tornaram uma peça fundamental de nossa estratégia de IoT.
Pesquisas apontam a cultura e o pouco conhecimento técnico sobre tecnologias digitais entre os principais desafios, e compartilho desta percepção. Vemos no nosso dia a dia que a adoção da nuvem requer uma transformação cultural grande nas empresas tradicionais e profissionais qualificados.

Marco Righetti, diretor sênior de Engenharia para Oracle América Latina

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

Novas tecnologias apoiam busca por mais eficiência e competitividade

/Oracle/Divulgação/JC
O Brasil sempre oferece desafios para os gestores de indústria, que performam com cenários de mudanças constantes. Atualmente, as cadeias são interligadas e demandam uma alta capacidade de planejamento de produção. Neste contexto, estes tomadores precisam de soluções tecnológicas que ajudam a tomar decisões baseadas em inteligência de dados dos processos produtivos, incluindo os participantes externos de sua cadeia, para melhor adaptação e busca de eficiência operacional. E é essa fortaleza que favorece a adoção de tecnologias para o melhor apoio nas tomadas dessas decisões em médio e longo prazos.
Apesar do desafio da conectividade em um território tão extenso como o Brasil, o avanço do 5G e de redes especializadas em indústria (Lora, industrial 5G) são as grandes tendências do setor, que tem oferecido oportunidades de levar alguns sistemas supervisórios que residem no chão de fábrica para ambientes em cloud, com processamento mais otimizado, manutenção e atualizações mais eficientes e acesso a tecnologias de ponta como HPC (Computação de Alto Desempenho).
A indústria no Brasil ainda tem um ambiente heterogêneo de automação e ainda não está preparada para lidar com soluções prontas, que já estão disponíveis em outros países. A agroindústria ou outros segmentos, por exemplo, ainda são sustentados por muitas atividades manuais.

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