A variante P1 do coronavírus já é a linhagem dominante no Rio Grande do Sul. A conclusão faz parte do Boletim Genômico 6, divulgado nesta quarta-feira (26) pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), que confirmou o aumento proporcional da cepa entre a população gaúcha. Já a linhagem do Reino Unido (B117),
que havia sido identificada em um morador de Pelotas em abril, não chegou a se proliferar pelo Estado.
"Desde aquele momento até agora, não identificamos casos adicionais dessa linhagem circulando no Estado, mostrando que aquele caso pareceu ser uma cadeia de transmissão isolada. Em algumas outras regiões do mundo já se observou maior taxa de transmissão na variante P1. Esse cenário é o que parece ter ocorrido aqui, assim como no restante do País, onde a linhagem do Reino Unido não obteve espaço", explica Richard Steiner Salvato, especialista em Saúde do Laboratório Central do Estado (Lacen)/Cevs.
De acordo com o estudo, que faz a vigilância do SARS-COV 2, desde a
primeira detecção da variante P1 no Estado, em janeiro, a linhagem aumentou sua proporção entre as amostras sequenciadas, até se tornar predominante. Prova disso é que todas as 161 amostras analisadas ao longo do mês de maio apresentaram mutação pertencem às linhagens P1 e B1351, ainda não identificada no Estado, o que estima a predominância da P1 no RS. "Podemos afirmar que a P1 tomou o espaço das demais linhagens que circulavam anteriormente e hoje é a que predomina", destaca Salvato.
A prevalência já vinha sendo notada no boletim anterior, quando a linhagem foi identificada em 36 municípios. Até então, as cepas mais frequentes em território gaúcho eram as mesmas identificadas no restante do Brasil - B1133, B1128, P2 e a própria P1.
Esta edição da pesquisa mostrou que a variante começou a predominar em março, e, em abril, quase todas as amostras - 244 de 246- já identificavam a cepa. No levantamento atual, 91% dos exames realizados apontaram a presença da linhagem.
No total, foram analisadas 516 amostras de 112 cidades gaúchas, coletadas entre os dias 23 de fevereiro e 21 de maio, em todas as regiões geográficas do Estado. As coletas consideraram diferentes faixas etárias, pacientes internados ou não, e tiveram como base os atuais dados epidemiológicos monitorados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).
Nesta análise, o Cevs passou a implementar teste molecular próprio, capaz de identificar a presença de mutações do coronavírus e as chamadas "variantes preocupantes". Os exames, realizados pelo Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) e pelo Lacen/RS, indicam que determinada amostra é uma provável variante de preocupação.
De custo menor do que o sequenciamento genômico considerado até a edição anterior, os testes são feitos em um período menor de tempo, e possibilitam aos especialistas analisarem um contingente maior de amostras.
Outra revelação importante do estudo é que não houve no RS, até o momento, a identificação da cepa B1617, a temida variante indiana, já presente em pelo menos quatro estados brasileiros. O
primeiro caso foi identificado no Maranhão, na semana passada.
Salvato reforça, no entanto, que a variante é uma ameaça iminente. "Sabe-se que ela apresenta uma maior transmissibilidade, esse fato preocupa, e pode causar um novo aumento expressivo de casos. Dessa forma, medidas para o controle dessa variante e a rápida identificação da mesma estão sendo adotadas pelo governo do RS, como a vigilância ampliada nas fronteiras e no restante do Estado", alerta.
O especialista aponta ainda que o andamento da vacinação no Brasil e no Estado não são suficientes para influenciar na ocorrência de novas variantes. Além disso, o ritmo lento, junto à alta transmissibilidade do vírus, é um dos principais fatores que podem gerar o surgimento de novas cepas. "São pontos que merecem atenção especial, além dos cuidados que já vêm sendo divulgados desde o início da pandemia, como uso de máscaras, distanciamento físico adequado, diminuição da mobilidade e outras medidas que devem ser intensificadas, na intenção de diminuir a velocidade de transmissão do vírus e prevenir o surgimento de novas variantes", conclui Salvato.
Principais variantes do novo coronavírus
P1 - Popularmente conhecida como "variante de Manaus”
Inicialmente detectada em novembro de 2020, em Manaus (AM). Estudo recente indica que essa linhagem provavelmente possua maior transmissibilidade e capacidade de infecção. Atualmente há registro dessa variante em pelo menos 112 cidades gaúchas. O primeiro caso detectado em Gramado, em janeiro de 2021.
B117 – Popularmente conhecida como "variante do Reino Unido”
Detectada pela primeira vez em setembro de 2020 no Reino Unido, tem uma maior transmissibilidade, uma possível maior severidade da doença e pode escapar dos anticorpos produzidos por algumas vacinas. No Rio Grande do Sul houve a primeira identificação no final de fevereiro de 2021, em um morador de Pelotas, mas não houve novo registro.
B1351 – Popularmente conhecida "variante da África do Sul”
Detectada pela primeira vez em outubro de 2020 na África do Sul, tem uma maior transmissibilidade, e alguns estudos já demonstraram uma possível diminuição da eficácia de diferentes vacinas contra essa variante. Não há registro de identificação no Brasil.
B1617- Popularmente conhecida como "variante da Índia"
Variante mutante dominante na Índia, foi detectada naquele país em outubro de 2020, e classificada como variante de preocupação. Existem evidências de que tem maiores taxas de transmissão e de agravamento da Covid-19. Em maio surgiram os primeiros casos da variante no Brasil, primeiro no Maranhão.