Com o
agravamento da pandemia no Rio Grande do Sul, e o consequente
aumento do número de óbitos em função da Covid-19, hospitais e funerárias têm lidado com o ineditismo da alta demanda por serviços e ocupação dos necrotérios. Nesta terça-feira (2), o Hospital Moinhos de Vento (HMV), que há dias opera com
esgotamento da ocupação de sua UTI, confirmou que prepara a instalação de um contêiner refrigerado em uma área anexa, para amenizar a lotação das câmaras frias do hospital. Já o Instituto Geral de Perícias (IGP) avalia o aluguel de estruturas semelhante para atender casos de contingência no Estado, se necessário.
Por meio de nota oficial, O HMV reforçou que, diante da progressão das internações, gravidade dos casos e "potencial crescimento no número de óbitos", teve de colocar em prática a "expansão programada em plano da estrutura do morgue (necrotério)". Segundo a instituição, mesmo que não venha a ser utilizado, o contêiner será alugado como medida preventiva e necessária. "Será utilizado somente em caso de real necessidade, considerando a possibilidade de atrasos na retirada dos óbitos por parte das funerárias, realidade essa percebida em outras cidades do Brasil e do mundo. A estrutura atual comporta até três óbitos e está adequada às normas, condições de normalidade e porte do Hospital Moinhos de Vento", destaca o texto.
Em entrevista à GloboNews, no entanto, o superintendente médico do hospital, Luiz Antonio Nasi, admitiu lotação da capacidade do necrotério e o aluguel do contêiner para adequar essa demanda. De acordo com a assessoria do HMV, a previsão é de que o equipamento seja instalado na manhã desta quarta-feira (3).
Segundo representantes da área da Saúde da Capital, a possibilidade de recorrer a contêineres também estaria sendo avaliada por outros hospitais da cidade, como o Conceição, mas a diretoria do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) afirma que o morgue local, com capacidade para 24 corpos, não está operando na totalidade. "No momento não há necessidade de contratação de contêiner", informou o diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira.
Instituto Geral de Perícias avalia o aluguel de quatro contêineres refrigerados. Crédito: IGP/Divulgaão/JC
O IGP, que atende no Departamento Médico Legal mortes violentas ou com causa desconhecida, e não casos de Covid, afirma que o volume de trabalho não sofreu alterações nos últimos tempos. No entanto, diante da possibilidade de aumento das contaminações por coronavírus e excesso de demanda do sistema funerário, a utilização de quatro contêineres poderá ser solicitada para agilizar o fluxo de remoções de corpos pelas funerárias. "O número de necropsias continua estável com cerca de 10 atendimentos por dia. A solicitação de contêineres está sob avaliação e, em caso de contingência, pode ser requisitado o reforço", informa o órgão, por meio de nota.
Membro da Associação das Empresas Funerárias de Porto Alegre (Aefpoa) e sócio da Funerárias São Pedro, Günter Kannenberg comenta que há uma semana as funerárias vêm registrado aumento na demanda para enterros de vítimas da Covid-19. Segundo ele, sua empresa chegou a atender 12 famílias nessa condição no mesmo dia, algo inédito até então. "No início da pandemia, no ano passado, nos preparamos para o pior, renovamos estoques, treinamos pessoal, nos adequamos a todos os protocolos. Mas só agora estamos realmente sentindo o aumento da demanda", ressalta.
Ele assegura que os serviços funerários da Capital estão preparados para atender as famílias e reforça que a cidade tem condições de absorver a demanda de sepultamentos, em um eventual cenário de piora nos números de vítimas da Covid. Kannenberg defende, no entanto, atenção dos governos para a necessidade de imunização dos profissionais que atuam no setor. "Prestamos um serviço essencial, mas não somos considerados essenciais para a vacinação, quando, na verdade, trabalhamos em risco", comenta.