Divulgada na segunda-feira (9), a quinta etapa da pesquisa de monitoramento ambiental- desenvolvida desde maio pela Feevale em parceria com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (CEVS) e instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e a Fiocruz- realizou 111 coletas de amostras de água de esgoto e de mananciais altamente impactados em pontos distintos, entre os dias 6 de setembro e 30 de outubro.
Dentre os apontamentos mais significativos, o estudo revelou aumento gradual da carga viral na ETE Serraria, que responde por cerca de 50% do sistema de esgotamento sanitário da Capital, nas últimas quatro semanas de análise. Esses dados foram diretamente relacionados às internações hospitalares por Covid-19 na Região Metropolitana de Porto Alegre no período, que subiram de 534 para 682 no início do mês de novembro, comprovando a validade do estudo. "Até o momento, os resultamos desse tipo de análise de rastreamento do vírus e quantificação no ambiente têm se mostrado uma importante ferramenta de vigilância. Os resultados, que no último boletim apresentavam uma tendência de desaceleração de casos, agora começam a apontar um possível aumento da disseminação do vírus novamente, tanto nas ETEs da Capital quanto em cidades como São Leopoldo e Novo Hamburgo", comenta a bióloga e coordenadora da pesquisa pela Feevale, Caroline Rigotto.
Aumento de carga viral nas amostras de esgoto coincide com número de casos positivos de Covid na Capital e Região Metropolitana Crédito: Lisiane Trombin/CEVS/Divulgação
Também houve registro de maior carga viral nos municípios de Alvorada e Gravataí, acompanhando a tendência de aumento dos casos detectados e comprovado crescimento das hospitalizações na Região Metropolitana. O mesmo ocorreu em relação à ETE Vicentina, em São Leopoldo, que teve incremento de carga viral, também seguindo a curva de casos notificados no município. No Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, as coletas quinzenais realizadas também comprovaram a linha de retomada de registros de Covid na cidade. "Esse aumento de amostras positivas parece acompanhar o de internações, mas que, por outro lado, não são de casos graves como antes. Esse aumento de carga viral que detectamos se manifesta também no número de casos positivos, e se converte em um acerto da nossa pesquisa", destaca a a chefe de Vigilância Ambiental em Saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul(CEVS), Aline Campos.
De fato, os casos positivos para o coronavírus em Porto Alegre voltaram a crescer, com a ocupação de leitos ficando em 88% nesta terça-feira (10), com 264 pacientes internados. Além disso, pelo menos quatro hospitais da Capital apresentavam ocupação máxima de leitos de UTI. Em todo o Rio Grande do Sul, foram mais de 3 mil casos de Covid-19 contabilizados nas últimas 24 horas, e um
total de 6 mil óbitos pela doença.
Segundo Aline, nesta etapa do estudo a correlação dos resultados identificados em arroios foi mais difícil de ser feita, por conta da aleatoriedade das amostras e do efeito de agentes externos, como temperatura da água, clima e até a estiagem. Nesse sentido, as coletas retiradas dos esgotos tiveram a análise facilitada. Outra curiosidade apontada foi a maior incidência de carga viral na ETE São João Navegantes em meados de outubro, quando houve nova flexibilização de horários de funcionamento de comércio, restaurantes, serviços e a retomada do ensino presencial. Segunda maior unidade de esgotos de Porto Alegre, essa ETE atende parte da região central da cidade e a zona norte como um todo, área que tradicionalmente concentra grande circulação de pessoas. "Acreditamos que esse resultado pode estar diretamente relacionado à abertura das escolas e mais tempo de funcionamento de serviços e do comércio naquela região", aponta Aline.
A sexta etapa da pesquisa, que será publicada em dezembro, já está em fase de coleta de dados e as primeiras impressões já demonstram a tendência de manutenção do aumento de casos de Covid em Porto Alegre. Segundo informativo do monitoramento ambiental realizado nas ETEs da cidade entre 1 e 7 de novembro, a presença do vírus nos esgotos segue em aceleração, principalmente na comparação com as duas semanas anteriores, com resultados positivos em amostras na ETE Serraria, que atende às zonas sul, leste, oeste e central, e na ETE São João Navegantes, que cobre a zona leste da Capital.
Diante do êxito da pesquisa ao longo desses seis meses de estudos, a equipe analisa a possibilidade de estender as coletas ao Litoral Norte nos próximos meses, com o intuito de acompanhar o aumento populacional da região entre o final de ano e os meses de veraneio. "Ampliar os estudos para a região do Litoral nos permitirá monitorar se os casos de Covid também acompanharão o crescimento populacional nessas áreas durante o verão", aponta a chefe do CEVS.