Em discurso contundente pela manutenção das medidas de isolamento para conter o avanço da covid-19, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se posicionou contra carreatas que ocorreram em diversos Estados do País pela flexibilização da quarentena e a retomada de atividades econômicas. Um dos protestos registrados no País
ocorreu em Porto Alegre nesta sexta-feira (27).
O ministro afirmou que o novo coronavírus entrou no Brasil através da elite econômica e que é preciso preservar o sistema de saúde brasileiro neste momento para garantir atendimento a todos.
"Fazer movimento assimétrico de efeito manada... Daqui a duas semanas, três semanas, os mesmos que falam 'vamos fazer carreata' vão ser os mesmos que vão ficar em casa. Não é hora", declarou Mandetta durante coletiva de imprensa nesta sábado, 28, para atualizar dados sobre a epidemia no País.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro chegou a classificar o movimento de pessoas que saíram às ruas de carro para protestar contra a quarentena como "fantástico" e disse que governadores e prefeitos deveriam prestar atenção.
"Essa doença entrou pela elite do Brasil, elite econômica. Aqui em Brasília, os casos são quase todos no Plano Piloto e no Lago Sul, não chegou na periferia do sistema. Como no Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca, o Leblon, ainda não chegou, está começando a entrar nas comunidades", alertou Mandetta neste sábado.
Ele disse que, no momento, os minutos valem horas para combater a propagação do vírus, que já contaminou mais de 3 mil brasileiros e matou 114, segundo a última atualização feita na tarde de hoje. Mandetta afirmou, ainda, que é preciso poupar o sistema de saúde porque os profissionais ainda não possuem materiais adequados em quantidade suficiente. Se médicos e enfermeiros se contaminarem, o ministro afirma que não haverá pessoas para usar os equipamentos e atender as pessoas.
"Agora vai ter que poupar o sistema de saúde. Não é hora de sobrecarregar o sistema, seja em nome do que for. É hora de aguardar, vamos ver como essa semana vai se comportar e nós vamos ter essa semana a discussão dentro da saúde para achar os parâmetros."
Ainda na contramão do discurso de Bolsonaro, Mandetta falou que o uso da cloroquina, ainda em estudo como medicamento de combate ao novo coronavírus, não tem comprovação científica. "Cloroquina não é panaceia. Não é o remédio que veio para salvar a humanidade", disse.
De acordo com o ministro, há vários medicamentos em estudo e a cloroquina só tem sido usada para casos graves da covid-19. Do contrário, pode causar arritmia cardíaca e sobrecarregar o fígado.
"Se sairmos com a caixa desse medicamento falando 'pode tomar', nós podemos ter mais mortes por mau uso de medicamento do que pela própria virose. Então, não façam isso. Esse medicamento tem a sua indicação para lúpus, artrite rematóide e malária, claramente colocado ali", enfatizou.
Na última semana, durante reunião com os países que compõem o G20, o presidente Jair Bolsonaro levou uma caixa de hidroxicloroquina e falou sobre os benefícios do fármaco. Depois, em conversa com jornalistas, Bolsonaro disse que ouviu falar que o remédio tem sua eficácia "100% comprovada".