Com comércios trabalhando em tempo reduzido ou totalmente fechados por causa da quarentena de combate ao coronavírus, que impede a população de manter os hábitos de consumo, o setor de comércio digital vem percebendo um aumento e uma variação cada vez maior no fluxo de compras.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira, aponta ocorre uma migração natural para o segmento online uma vez que as pessoas estão buscando se preservar, e nesta migração se registrou aumentos exponenciais em diversas áreas. "Há um crescimento muito grande no setor de supermercados, beleza e saúde, farmácias e pet shops", diz. Ele também aponta pequenos aumentos em setores que fizeram ou vinham fazendo promoções mais agressivas, além do fechamento do comércio de rua.
Segundo André Dias, diretor executivo da Compre&Confie, empresa que monitora vendas de mais de 80% do varejo digital brasileiro, o crescimento nas compras online aumentou puxado por produtos que não eram muito comercializados via e-commerce, como a área de saúde, que a empresa apontou crescimento de 128,5% na categoria de saúde entre os dias 24 de fevereiro e 25 de março. Historicamente, o consumo no e-commerce brasileiro é focado em bens duráveis, como telefonia, eletrodomésticos, moda e acessórios. "Com esse movimento de quarentena as pessoas viram a necessidade de começar a consumir bens não duráveis",afirma. Além disso, também houve a entrada de novos consumidores ou de light users (consumidores que não têm tanta recorrência de compra), por causa da dificuldade de sair de casa.
De acordo com Dias, neste momento o crescimento do e-commerce tem sido bem satisfatório e, para muitos varejistas, o único caminho para continuar vendendo em período de lockdown. Ele também afirma que os marketplaces estão preparados para atender a demanda no ato da compra e no pós-venda da entrega porque estão acostumados com altas sazonalidades em vendas, como a Black Friday, Natal e Dia das Mães. "A alta e baixa das vendas é um padrão que as operações de e-commerce consegue atender", explica. "Quem vai sofrer mais agora são segmentos de mercado que não estão tão acostumados com uma alta demanda pelo canal digital".
Outro ponto importante dentro do e-commerce atualmente é a área de transporte. "Se a logística para, para tudo", avisa Stefan Rehm, CEO da Intelipost, plataforma de gestão de fretes. "Ela é mais importante do que nunca para o varejo, porque a maioria dos varejistas já tem uma queda de 90% da receita deles, e a única coisa que conseguem faturar é o e-commerce". De acordo com estudo promovido com varejistas pela Intelipost, a média de aumento nas categorias essenciais de consumo (alimentos, saúde, higiene, farmácia e pet) registraram aumento médio de 10 a 15% nas últimas semanas, enquanto categorias não-essenciais tiveram queda de 20 a 30% no número de pedidos.
Já o mesmo levantamento feito com transportadoras aponta aumento de até 10% nas entregas conforme o varejista - entregas estas em situação normal de cumprimento e sem grandes alterações de prazos. Como há menos movimentação nas ruas e os consumidores estão em casa, as entregas ocorrem mais rapidamente. A pesquisa também notou que há motoristas de aplicativos de carros que deixaram de atuar temporariamente com essa opção para realizar entregas.
Para Felipe Dellacqua, vice-presidente de vendas da plataforma de cloud commerce VTEX, as empresas não estavam prontas para o impacto do vírus porque o primeiro trimestre não é um período de boom de vendas, mas sim, de troca de produtos e liquidação. "A grande preocupação de quando falamos de varejo, e serviço entra nesse meio, é como conseguimos manter o pequeno comércio vivo de portas fechadas sendo que ele não está disponível", afirma Dellacqua. "O problema hoje é o pequeno e médio comércio que não estava cristalizado, hoje está de porta fechada e não tem caixa para suportar 27 dias fechado".
Para Rodrigo Bandeira, também é preciso que haja um trabalho conjunto entre o Governo Federal e as unidades da federação, que atualmente estão bastante distanciados pelas divergências das políticas federais e estaduais de combate à pandemia. "Todos os setores são impactados quando isso acontece com um viés de projeção política, quem sofre é a sociedade", completa.
Construtora aposta em comercialização de imóveis por canais digitais
A MRV anunciou a expansão de sua plataforma de vendas digital, que possibilita que o cliente realize a jornada de compra de um apartamento sem sair de casa. Lançada em janeiro e disponibilizada, a princípio, para clientes de Belo Horizonte, a ferramenta já está no ar para ajudar as pessoas no processo de compra de unidades habitacionais nas mais de 160 cidades de atuação da empresa.
Segundo Eduardo Barretto, diretor executivo comercial da companhia, a expansão da atuação da plataforma já estava prevista para ocorrer ao longo dos próximos meses, mas com as medidas preventivas adotadas devido ao coronavírus, a empresa resolveu antecipar o processo. "Com isso, consumidores dos 22 estados, além do Distrito Federal, em que temos atuação poderão realizar a compra de um apartamento remotamente. Desde a escolha do condomínio e da unidade, passando pelo envio da documentação, simulação e envio da documentação para análise de crédito, negociação da proposta e assinatura do contrato digital. Tudo isso, acompanhado, também remotamente, por nosso time de corretores", conta o executivo.
Já as pessoas que desejarem ou precisarem ir a uma das lojas MRV, a empresa está liberando vouchers da Uber, visando assim oferecer o transporte individualizado. É importante agendar o atendimento para evitar a aglomeração de pessoas.