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Publicada em 04 de Julho de 2024 às 18:56

Cooperativas vinícolas projetam retomada e novos mercados no Rio Grande do Sul

Cooperativas foram afetadas pelas chuvas de maio

Cooperativas foram afetadas pelas chuvas de maio

Augusto Tomasi/ Garibaldi/ Divulgação/ JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
Depois de sofrerem os impactos logísticos e de turismo por conta do desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, os setores vitivinícola e de enoturismo projetam retomada, ainda que não em níveis habituais para o período, e apostam em novos mercados, especialmente de espumantes, vinhos brancos e não-alcoólicos, para o segundo semestre deste ano.
Depois de sofrerem os impactos logísticos e de turismo por conta do desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, os setores vitivinícola e de enoturismo projetam retomada, ainda que não em níveis habituais para o período, e apostam em novos mercados, especialmente de espumantes, vinhos brancos e não-alcoólicos, para o segundo semestre deste ano.
As cooperativas vinícolas gaúchas, que representam boa parte da produção nacional de vinhos e bebidas derivadas da uva, estão se movimentando para fortalecer e puxar linhas de produtos zero álcool, alcançando e retomando mercados afetados pelos problemas causados pelas chuvas no Estado.
De acordo com dados levantados pelo Sistema Ocergs, entidade que representa as cooperativas do Rio Grande do Sul, os últimos anos foram bons para o cooperativismo do setor. O número de associados, por exemplo, cresceu 8% de 2022 para 2023 no Rio Grande do Sul.
No ano retrasado eram 4.028 associados. Em 2023, o total chegou a 4.369. O número de empregados se manteve estável, com 1.177 postos de trabalho. Além disso, também houve crescimento de patrimônio líquido dos cooperados e de ativos das cooperativas. Apesar disso, o período também registrou uma queda de 32% nas sobras (lucro).
Renê Tonello, presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora, a maior cooperativa vinícola do País, com 1,1 mil famílias cooperadas, afirmou que os resultados seguiram um percurso 'bom' até o mês de abril deste ano, quando iniciaram as chuvas. Em 2023, o faturamento chegou a R$ 786,2 milhões, 4% a mais do que em 2022. Pelo quinto ano consecutivo, este foi o melhor desempenho da história da cooperativa.
"Passado esse período difícil das chuvas, com a reabertura gradual das estradas e restabelecimento das condições logísticas, mesmo com problemas relacionados a aeroportos, estamos enviando produtos e voltando a receber turistas nas unidades de Bento Gonçalves e Pinto Bandeira e estabelecendo uma normalidade, na medida do possível", pondera.
A Aurora está presente nos 26 estados e no Distrito Federal e em outros 17 países. "O que estamos fazendo é priorizar os canais que já são parceiros da empresa e abrir outros mercados com base no realinhamento da nossa estratégia comercial intensificada desde o ano passado em praças importantes do País", complementa Tonello.
Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, com 270 associados, o presidente Oscar Ló avaliou que o ano de 2023 também foi muito positivo, com crescimento de 8% nas vendas, puxado pelos espumantes, e produção de 20 milhões de litros. "Hoje, a Cooperativa Vinícola Garibaldi já tem um pouco mais de 15% do share do mercado de espumantes produzidos e comercializados no Brasil. Estamos prevendo crescimento superior ao registrado em 2023 para vinhos finos e espumantes. O mesmo não deverá acontecer com a categoria suco de uva", projeta.
Sobre o enoturismo, Ló afirmou que já é possível observar uma 'tímida retomada'. "Essa retração seguiu por praticamente todo o mês de junho. Agora, começamos a observar uma tímida retomada. À medida em que os acessos vão sendo restabelecidos, esperamos uma retomada mais significativa do fluxo para o mês de julho, embora com projeções ainda inferiores ao movimento registrado no ano passado", explica.
Já o CEO da Cooperativa Nova Aliança, Heleno Facchin, projeta que, em 2024, a cooperativa espera estabilidade com um faturamento em torno de R$ 220 milhões (em 2023 foi de R$ 270 milhões), especialmente pela quebra da safra em decorrência das chuvas, mas com mais ganho qualitativo dos produtos, o que, inclusive, reverbera nos rendimentos do cooperados. "As famílias já sentem uma melhora na qualidade de vida", reflete. A Nova Aliança tem hoje aproximadamente 610 associados.
Um desses cooperativados, Leandro Tonello, é a quarta geração a ter vinhedos em Nova Pádua, na Serra, e a participar de cooperativa. "Depois de mim, vem meus filhos, espero que eles continuem. É um negócio próprio que tem destino certo da produção, isso proporciona estabilidade", cita, destacando, ainda, o apoio técnico.
 

Lançamentos são feitos a partir da mudança de consumo

Uma tendência que tem se mostrado cada vez mais presente no comportamento do consumidor jovem e preocupado com hábitos saudáveis é a preferência por bebidas não alcoólicas. Segundo o Relatório Covitel 2023, realizado pela Vital Strategies, Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Umane Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a prevalência de consumo regular de álcool (três ou mais vezes na semana) vem caindo no Brasil. Foi de 9,3% no período pré-pandemia, 8% no primeiro trimestre de 2022 e 7,2% no primeiro trimestre de 2023.
Isso tem repercutido também no mundo dos vinhos e espumantes. As cooperativas vinícolas têm apostado em produtos que lembram o gosto dessas bebidas, mas que não levam álcool em sua composição. De acordo com elas, o foco, além da população jovem, está em pessoas impossibilitadas de tomar álcool, motoristas e curiosos por novos produtos.
Na Aurora, os produtores estão de olho nesta tendência. "Estamos pensando novos rótulos, embalagens e produtos sem álcool, também de olho na tendência de aumento no consumo de bebidas não alcoólicas." Além disso, a vinícola aposta no crescimento do consumo de vinhos brancos. "Temos previsto o lançamento de mais dois vinhos da linha Varietal. Também vamos lançar mais dois espumantes com a Denominação de Origem Altos de Pinto Bandeira", diz Renê Tonello. A cooperativa Garibaldi acredita que um dos motivos para os bons resultados é a aposta no mercado zero álcool e prevê que o segmento continue crescendo. "Muito desse desempenho se deve ao empenho da marca em oferecer produtos diferenciados e atentos às tendências de consumo do mercado, como está sendo o caso das bebidas zero álcool, exceto suco de uva, com produção iniciada em 2022 e em ascensão em 2023. O impacto positivo nas vendas vem sendo observado também em 2024", ponderou Ló.
Para a Nova Aliança, o foco é investir em enoturismo, com a projeção de um novo espaço em Flores da Cunha, a ser inaugurado em novembro. "Além disso, estamos em um processo de reposicionamento de marca, investindo mais nos espumantes e vinhos finos. Estamos nos abrindo e nos integrando ainda mais com a comunidade", justifica Facchin.
 

Alteração climática e sucessão preocupam

As mudanças climáticas afetam diretamente a produção vitivinícola e por isso merecem atenção especial. Na Aurora, o apoio técnico permite que sejam previstas algumas situações e que seus impactos sejam minimizados. "Esse acompanhamento nos permite antecipar ou adiar a poda, trabalhar com o controle da fertilidade de gemas da videira, o que nos dá uma previsibilidade maior quanto ao volume de cada cacho e orientamos sobre cobertura verde, que pode reduzir os impactos com excesso de chuvas", exemplifica Renê Tonello.
Para a Garibaldi, é preciso preservar o solo, sem uso de herbicidas e com a manutenção da cobertura verde. "Também realizamos frequente manutenção e regulagem de pulverizadores para que o cooperado não tenha desperdício de tratamentos nos vinhedos, instalação de estações meteorológicas que servem para acompanhar o clima das regiões onde temos produtores, e indicar o melhor momento para os tratamentos", explica Ló. Há, ainda, um vinhedo experimental para identificar variedades resistentes ao 'terroir' gaúcho e suas modificações.
O CEO da Nova Aliança, Heleno Facchin, considera que outro desafio atual é garantir a sucessão familiar na cooperativa. "Temos um comitê formado por jovens para envolver mais eles. Essa é uma preocupação constante, porque muitos querem ir para cidade, então o campo precisa se modernizar e se tornar atraente para as novas gerações."
 

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