As cooperativas de energia do Rio Grande do Sul que foram impactadas pelas recentes enchentes no Estado pretendem retomar a qualidade do fornecimento de energia pela qual são usualmente conhecidas. No entanto, o presidente da Certel e da Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Fecoergs), Erineo José Hennemann, frisa que as associações precisarão de um acesso facilitado a recursos financeiros para ir adiante com esse objetivo.
"Hoje, estamos com boas tratativas com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que também está sensibilizada e está enxergando que o prejuízo foi muito grande", enfatiza o executivo. Uma forma de auxílio para o setor citada pelo dirigente é através da medida provisória do governo federal que autorizou três linhas para financiamento, no total de R$ 15 bilhões, às companhias gaúchas afetadas pela calamidade pública.
"Temos uma expectativa muito boa de que passe da sensibilidade para ações que realmente sejam efetivas para liberar recursos para a recuperação das nossas linhas, redes e usinas que são tão importantes para a economia do Rio Grande do Sul", assinala Hennemann. O dirigente recorda que a Certel, que tem sede em Teutônia e atende a 48 municípios, foi a mais atingida das cooperativas gaúchas de energia com as chuvas, tendo no pico dos problemas registrado cerca de 46 mil consumidores sem energia (o que significa aproximadamente dois terços do mercado da cooperativa).
A associação estima que seu prejuízo foi de cerca de R$ 25 milhões nas redes de distribuição e calcula, ainda não sendo um número fechado, mais em torno de R$ 50 milhões com danos em hidrelétricas. "E até agora a gente não efetivou nenhuma entrada de recursos, mas estamos prestes a solucionar alguma coisa via governo federal e bancos da nossa região e bancos cooperativos", aponta o dirigente.
Hennemann ressalta que a ideia da cooperativa é continuar com todos os seus projetos, porém serão reavaliados cronogramas e planejamentos. O presidente da Certel acrescenta que a cooperativa está focada em melhorar a qualidade do fornecimento de energia elétrica para seus usuários, após os impactos das enchentes, porque muitas iniciativas adotadas em um primeiro momento foram feitas de maneira emergencial. "Ou seja, alguns locais, em vez de redes trifásicas, foram colocados redes monofásicas, transformadores que não eram os ideais e agora estamos repassando por todas as áreas novamente para instalar equipamentos dentro de um padrão de exigência e segurança técnica", reforça.
Conforme o presidente da Certel, além do segmento de distribuição da cooperativa, foi afetada a área de geração do grupo. No total, três hidrelétricas foram impactadas pelas enchentes: Boa Vista, Rastro de Auto, essas duas funcionando em caráter emergencial, e Salto Forqueta (situada entre as cidades de São José do Herval e Putinga, que sofreu a maior devastação e que deve levar cerca de seis meses para ser recuperada).
Hennemann detalha que nessa última usina será necessário reconstruir toda a parte eletrônica e comandos do empreendimento. "E não tivemos a oportunidade de fazer um levantamento sobre os danos que ocorreram nas turbinas e nos geradores em função da dificuldade de acesso que ainda ocorre", afirma o dirigente.
De acordo com Hennemann, a cooperativa também tem funcionado como um agente de apoio para as comunidades prejudicadas pelas cheias, com uma série de trabalhos e programas de cunho social. "Porque na verdade todo o Vale do Taquari foi devastado", lamenta o dirigente. Entre as atividades promovidas pela Certel estão o repasse de lava-jatos para ajudar na limpeza das localidades, distribuição de alimentação e de materiais de limpeza.
Clima teve reflexos distintos entre associações gaúchas de eletrificação
Apesar dos enormes danos causados pelas chuvas intensas no Rio Grande do Sul, os impactos entre as cooperativas de energia foram diferentes, dependendo das regiões de atuação desses grupos. Algumas associações não tiveram maiores problemas, assim como Coopernorte, Cermissões, Creral e Ceriluz.
Conforme o presidente da Coopernorte, Jairton Vieira, a cooperativa não sofreu grandes danos com as chuvas. No caso específico da associação, a questão climática fez com que a cooperativa comercializasse mais energia no mês de maio. "Porque aqui tem muitos sítios do pessoal que mora em Porto Alegre e na região Metropolitana e essas pessoas, e alguns parentes, vieram para cá", explica o dirigente. Segundo ele, esse cenário acarretou um aumento na demanda de energia na ordem de aproximadamente 20%.
Vieira compara que a situação foi similar ao que acontece normalmente no período de verão. No entanto, ele acredita que, dessa vez, alguma parcela desses consumidores ficará pela região. Neste ano, o presidente da Coopernorte revela que a cooperativa vai investir na implantação de cerca de 45 quilômetros de rede trifásica, o que implicará um aporte de aproximadamente R$ 2 milhões. Em torno de 90% dos recursos para essa iniciativa serão oriundos do programa do governo estadual Energia Forte no Campo.
Vieira considera que o programa deverá ser fortalecido a partir da calamidade climática. Na expansão do fornecimento de internet, outra atividade praticada pela Coopernorte, a cooperativa deve investir mais cerca de R$ 700 mil. "Hoje, estamos com 2,8 mil associados conectados na nossa internet e a expectativa é chegar ao final do ano com 3,2 mil", projeta o dirigente. Conectados na rede de energia são mais cerca de 7 mil usuários.
Já a Cermissões possui em torno de 32,2 mil associados, em 26 municípios da região das Missões. O presidente da associação, Diamantino Marques dos Santos, detalha que os principais danos com as chuvas ocorreram na área da cooperativa no início de maio, quando um temporal derrubou 31 postes de luz, no interior de São Miguel das Missões. Já em meados de junho o temporal que atingiu São Luiz Gonzaga danificou um quilômetro de rede, às margens da BR - 285, próximo do trevo do Jayme Caetano Braun. Todas as redes danificadas foram recuperadas com recursos próprios.
Mesmo com as dificuldades climáticas verificadas no Estado, Santos ressalta que a cooperativa mantém em andamento vários projetos importantes para a sua região de atuação e cita entre os quais o aumento da capacidade de 50 MVA para 62,5 MVA da subestação Santo Antônio de São Luiz Gonzaga, a construção de 27,5 quilômetros de rede trifásica, interligando os municípios de Roque Gonzales, Pirapó, Dezesseis de Novembro e Porto Xavier, e as duplicações de 3,8 quilômetros de rede, desde a subestação Santo Antônio de São Luiz Gonzaga, até o trevo que vai a Bossoroca, e de um trecho de 15 quilômetros, desde a subestação da RGE de Santo Ângelo (próxima do Parque da Fenamilho) até o interior de Entre-Ijuís.
"A grande maioria destes investimentos é voltada a atender às crescentes demandas dos irrigantes de Santo Antônio das Missões, São Luiz Gonzaga, Bossoroca, Rolador, Caibaté, Mato Queimado, Vitória das Missões, São Miguel das Missões, Jóia, Eugênio de Castro, Entre-Ijuís, Santo Ângelo, dentre outros", detalha o dirigente.
O presidente da Creral, João Alderi do Prado, informa que as estruturas e as redes da cooperativa com sede em Erechim não tiveram grandes perdas. "O problema foi mais sentido nas obras em andamento, que acabaram sofrendo atrasos. Foram 60 dias sem praticamente executar nada", lamenta. Neste ano, a cooperativa concluiu duas usinas solares em Erechim, mas atualmente tem 11 outras usinas solares em construção em áreas atingidas.
Já o presidente da Ceriluz Distribuição, Guilherme Schmidt de Pauli, afirma que a cooperativa de Ijuí não foi muito afetada pelas chuvas. "O clima não afetou, por exemplo, as obras da PCH Linha Onze, que já está 70% concluída, e teve finalizado, depois de dois anos, o túnel de quase três quilômetros, que era o maior gargalo estrutural da usina em Coronel Barros", ressalta o dirigente. A perspectiva é terminar as obras em novembro.